Quem está começando a vida escolar e aqueles que concluem a educação básica merecem atenção redobrada do próximo governante de Pernambuco. Indicadores mostram a urgência de investir em políticas sociais e educacionais nesses dois extremos - as crianças da alfabetização e os jovens que deixam o ensino médio.
Se o Estado já tinha índices bem preocupantes na alfabetização antes da pandemia, o cenário piorou muito com a chegada da covid-19. Em 2016, a Avaliação Nacional de Alfabetização (ANA), realizada pelo Ministério da Educação (MEC) em todo o País, mostrou que em Pernambuco sete de cada 10 estudantes tinham desempenho ruim em leitura e cinco em escrita.
Entre os mais velhos, também antes do coronavírus, 30% dos adolescentes e jovens com idades entre 15 e 29 anos no Estado não estudavam nem trabalhavam em 2019, conforme a Pesquisa Anual por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
COLABORAÇÃO COM MUNICÍPIOS
"É absolutamente estratégico e importante o Estado apoiar os municípios na oferta de políticas para a primeira infância, que devem ser intersetoriais. Educação, com creche e pré-escola, mas também saúde, assistência social, esporte, cultura. Cada vez mais a gente entende que a aprendizagem futura depende do repertório que é adquirido na primeira infância", defende a presidente executiva do Movimento Todos pela Educação, Priscila Cruz.
Ciente da necessidade de melhorar o desempenho das redes municipais na tarefa de ensinar os alunos a ler e escrever, o governo estadual criou o Programa Criança Alfabetizada, em meados de 2019. Todas as 184 cidades de Pernambuco aderiram à iniciativa, que envolve apoio técnico, formações, monitoramento e material pedagógico. Também a inclusão de bons resultados na educação na distribuição de recursos do ICMS para as prefeituras.
FLUÊNCIA EM LEITURA
Uma avaliação de fluência na leitura feita pelo programa com 68 mil estudantes do 2º ano do ensino fundamental em abril deste ano das escolas municipais revelou que o próximo governador ou governadora de Pernambuco tem a obrigação de continuar e fortalecer a iniciativa.
O teste apontou que 83% das crianças estavam na fase de pré-leitor, 15% na etapa iniciante e só 2% com fluência em leitura. Todos os índices pioraram se comparado com 2020 e 2021, um dos impactos negativos da pandemia. As escolas municipais foram as que mais tempo passaram fechadas. Em Pernambuco, a maioria ficou pelo menos um ano com aulas remotas.
O ideal, conforme o programa, é que a maior parte estivesse ao menos como leitor iniciante. O pré-leitor é aquele estudante que ainda não consegue realizar uma leitura fluente porque tem dificuldades em fazer relação entre letras e som. Quando lê faz muitas pausas e silabando.
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"Esses alunos não alfabetizados vão ter muita dificuldade de conseguir avançar nos seus estudos e aprender tudo aquilo que têm direito de aprender se não estiverem alfabetizados. Essa situação pós-pandêmica, de pós-guerra na educação precisa ser primeiro solucionada a partir de um grande pacto, que inclua governo federal, Estados e municípios", alerta Priscila Cruz.
DIFICULDADES AUMENTAM PARA QUEM NÃO SABE LER
"É muito importante a participação do Estados. Os candidatos ao governo de Pernambuco precisam colocar na cabeça que a alfabetização, mesmo sendo uma responsabilidade direta dos municípios, é tarefa também do Estado. Isso tem que ser uma grande obsessão, de acordar e dormir pensando 'o que eu fiz hoje para melhorar a alfabetização das crianças, para apoiar os prefeitos e as prefeituras nessa direção?", destaca a presidente do Todos pela Educação.
"Infelizmente tenho alunos que chegam no 8º ano sem saber ler e escrever. E a pandemia piorou, pois muitos não tiveram internet para acompanhar as aulas remotas. A gente tenta reduzir o prejuízo, mas vários acabam o fundamental sem dominar a escrita e a leitura. E sem esse conhecimento não poderão ir muito longe", lamenta a professora Elisabete Brito, da Escola Estadual Major Lélio, que fica em Camaragibe, no Grande Recife.
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