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Por Mirella Araújo e equipe
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'Devolvam a minha juventude': estudantes lideram protestos na China

Os estudantes na China, descritos como uma geração apolítica moldada na educação patriótica de Pequim, romperam com este estereótipo e assumiram um papel importante nas recentes manifestações no país

Cadastrado por

Margarida Azevedo

Publicado em 23/12/2022 às 11:11 | Atualizado em 23/12/2022 às 11:13
Hong Kong enfrenta a maior crise política desde a devolução à China, em 1997 - Foto: ALEX OGLE / AFP

Da AFP

Os estudantes na China, descritos como uma geração apolítica moldada na educação patriótica de Pequim, romperam com este estereótipo e assumiram um papel importante nas recentes manifestações no país.

No final de novembro, o que começou com vigílias pelas vítimas de um incêndio mortal em um edifício se transformou em protestos em cidades e universidades chinesas para exigir o fim das medidas anticovid e mais liberdade política.

"Liberdade de expressão, democracia, Estado de Direito", gritavam os alunos da prestigiosa Universidade Tsinghua, enquanto na Universidade de Pequim os muros foram cobertos de palavras contra o governo.

Em outros campi, vários alunos exibiram folhas de papel em branco, simbolizando sua rejeição à censura no país.

"Acho que a participação estudantil é um símbolo de paz porque sugere que (...) os jovens ainda têm consciência social e potencial político, e querem e são capazes de mudar as circunstâncias atuais", comentou um manifestante de Tsinghua à AFP.

HISTÓRIA 

Algumas mudanças sociais do século XX na China foram lideradas por estudantes. Em 1919, eles iniciaram o movimento anti-imperialista de Quatro de Maio, que provocou o despertar político de muitos futuros líderes comunistas.

E em 1989 foram os principais promotores dos protestos pró-democracia que terminaram com a sangrenta intervenção do exército na Praça da Paz Celestial (Tiananmen) em Pequim.

Mas a geração atual não tem memórias dessa repressão e desde o seu nascimento recebeu uma educação patriótica, passando a ser definida como menos política que as anteriores.

"Acredito que os estudantes chineses hoje têm muito mais conhecimento sobre o mundo ao seu redor do que às vezes se reconhece", estima Wen-Ti Sung, analista político da Universidade Nacional Australiana.

"Podem ser 'nacionalistas liberais' e patrióticos, mas também nutrem desejos típicos de classe média por liberdades civis", acrescenta.

Após os protestos, o governo abandonou abruptamente sua política de "covid zero", numa aparente concessão à agitação.

As preocupações econômicas e o fato de o vírus estar se espalhando rapidamente, apesar das restrições, também pesaram na decisão.

As autoridades reprimiram os protestos com intimidações e prisões, mas alguns acreditam que as sementes de uma maior consciência política foram plantadas.

Embora o presidente Xi Jinping tente desde 2012 sufocar o ativismo nas universidades, estudantes marxistas ajudaram em 2018 a organizar greves em fábricas no sul da China, que acabaram sendo reprimidas.

E este ano, as imagens e palavras de ordem em muitas manifestações nasceram nas escolas de arte e se espalharam pelas universidades de elite do país.

Essa nova geração, com aptidões digitais e habilidade de contornar os bloqueios na Internet, são "condutores de protestos fantásticos", diz Sung.

PANDEMIA 

Os alunos foram os mais afetados pelas medidas anticovid: aulas online, visitas ao campus proibidas, viagens para casa apenas com permissão por escrito e muitas provas adiadas.

No centro de teste de covid na Academia Central de Belas Artes de Pequim, a pichação "Devolvam a minha juventude" apareceu em novembro, reflexo do clima reinante entre os alunos.

"Todos se sentem tristes e com raiva (...) Todas essas coisas estão fermentando há muito tempo", comentou Ting Guo, professor assistente da Universidade de Toronto em um podcast recente.

Para a colega de Guo, Diana Fu, esses protestos "refletem um consenso entre a Geração Z de que é hora de expressar dissidência".

"Mostram que a educação patriótica não apagou completamente o anseio por liberdade", estima.

Após a flexibilização da política de covid, protestos esporádicos continuam, como na Universidade de Wuhan, cujos alunos estão proibidos de voltar para casa.

Na semana passada, estudantes de medicina de Jiangsu e Sichuan exigiram melhores salários e condições, sobretudo agora que estão na linha da frente da luta contra o ressurgimento da covid.

"Talvez o impacto dos protestos seja que todos perceberam que podem começar a agir e dar um pequeno primeiro passo", opinou o estudante de Tsinghua.


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