CLIMA | Notícia

Pesquisa aponta que três das dez capitais com as escolas mais quentes em relação à média urbana estão no Nordeste

Estudo aponta que cerca de 370 mil alunos estudam em escolas localizadas em áreas de risco hidrogeológico, destacando os impactos do clima extremo

Por Mirella Araújo Publicado em 13/02/2025 às 12:33

O Brasil enfrenta os impactos de ondas de calor severas desde o início do ano, com termômetros registrando recordes históricos em diversas regiões. Em grande parte do país, as escolas carecem de infraestrutura adequada, como áreas verdes, oferta de água e outras soluções para amenizar o calor e criar resiliência climática.

A Região Nordeste ocupa o segundo lugar no ranking das dez capitais com maior proporção de escolas em ilhas de calor. São três cidades com uma grande porcentagem de escolas em áreas com desvios de temperatura de pelo menos 3,57ºC acima da média urbana, de acordo com a pesquisa “O acesso ao verde e a resiliência climática nas escolas das capitais brasileiras”, realizada pelo Instituto Alana em parceria com a Fiquem Sabendo, a partir de dados levantados pelo MapBiomas

A pesquisa avaliou o acesso à natureza e a incidência de risco climático em 20.635 escolas públicas e particulares, de educação infantil e fundamental, das capitais brasileiras. Liderando os três primeiros lugares do ranking está a Região Norte, com Manaus, no Amazonas, sendo a capital brasileira com a maior proporção de escolas em zonas de calor, com 77,7% das unidades de ensino. Em seguida, vêm Macapá, no Amapá, com 76% das escolas, e Boa Vista, em Roraima, com 69,1% das escolas localizadas em ilhas de calor.

Veja as cidades do NE mais afetadas pelo calor

Nas capitais do Nordeste, as cidades mais afetadas por ilhas de calor são: São Luís, no Maranhão (em 4º lugar, com 65,2% das escolas em áreas com temperaturas acima da média urbana); Recife, em Pernambuco (em 6º lugar, com 53,3% das escolas); Maceió, em Alagoas (em 8º, com 48,3% das escolas); Teresina, no Piauí (em 11º, com 35,7% das escolas); Salvador, na Bahia (em 12º, com 33,1% das escolas); Aracaju, em Sergipe (em 13º, com 27,9% das escolas; João Pessoa, na Paraíba (em 15º, com 25,7% das escolas); e Natal, no Rio Grande do Norte (em 16º, com 24% das escolas).

O levantamento destaca ainda que Fortaleza, no Ceará, é a única capital com menor proporção de escolas em ilhas de calor no Brasil: apenas 0,26% das instituições de ensino analisadas estão localizadas em áreas com temperaturas acima da média urbana.

O estudo também destacou o impacto do clima extremo nas escolas, apontando que cerca de 370 mil alunos frequentam instituições em áreas de risco hidrogeológico. Além disso, uma em cada três capitais enfrenta uma situação crítica, com pelo menos metade das escolas localizadas em áreas com temperaturas mais de 3,5ºC superiores à média urbana, ou seja, em ilhas de calor.

O impacto na saúde das crianças e a vulnerabilidade no Nordeste

"A exposição a altas temperaturas pode causar danos duradouros à saúde e ao desenvolvimento das crianças, como dificuldades de aprendizagem, problemas no sono e efeitos negativos à saúde mental", alerta JP Amaral, Gerente de Natureza do Instituto Alana.

"Para bebês e crianças pequenas, é ainda mais perigoso, pois seus corpos se aquecem mais rapidamente e transpiram menos, liberando menos calor. Além disso, elas têm mais dificuldade em procurar ambientes frescos e menos autonomia para se hidratar", completa.

As altas temperaturas impactam diretamente o aprendizado, com a capacidade de concentração das crianças diminuindo significativamente. Muitas vezes, as aulas precisam ser canceladas, e durante o recreio, as crianças evitam atividades físicas e buscam sombra. Esses fatores demonstram a urgência de uma abordagem mais eficaz para lidar com o calor nas escolas, especialmente nas regiões mais afetadas, como o Nordeste.

Soluções baseadas na Natureza

O estudo também apresentou recomendações que podem ajudar a orientar gestores públicos e profissionais de educação no combate ao problema, a partir de soluções baseadas na Natureza. 

Uma das medidas trata do planejamento da infraestrutura de novas escolas e a reforma de escolas já existentes priorizando o conforto térmico, por meio de pavimentos "frios", telhados com superfície branca, reflexiva ou permeável, materiais isolantes, ventilação cruzada, refrigeração, iluminação natural e salas de aulas abertas.

Aumentar o plantio de árvores e florestas urbanas para incrementar as áreas de sombra e favorecer o uso de espaços abertos para o aprendizado, também pode ajudar a reduzir a necessidade de refrigeração artificial dos ambientes fechados.

Além disso, recomenda-se adaptar a organização, as rotinas e o tempo escolar para que as atividades ao ar livre ocorram nos horários mais frescos do dia ou sob a sombra para maximizar a atividade física, o conforto e a segurança dos estudantes. 

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