Conservação do Rio Capibaribe é alvo de críticas da população

Um dos maiores símbolos do Recife padece com a poluição desenfreada e um projeto de navegabilidade que nunca chega
Felipe Vieira
Publicado em 05/03/2020 às 15:21
Foto: Alexandre Gondim / JC Imegem Data: 11-4-2017 Assunto: CIDADES - Local onde seria construção da estação fluvial no projeto de Navegabilidade do rio por tras do Derby, Casa Forte, Pernambuco. Palavra chave: Navegabilidade - ## Foto: ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM


Por Amanda Azevedo, para a coluna Grande Recife

Um dos maiores símbolos do Recife, presença constante na obra de João Cabral de Melo Neto e fonte de inspiração para tantos outros escritores, o Rio Capibaribe padece com a poluição desenfreada e um projeto de navegabilidade que nunca chega.

A Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife (Emlurb) informa que realiza todos os meses a limpeza nos manguezais que margeiam o rio e faz a retirada dos resíduos flutuantes utilizando Ecobarco. Voluntários, como os da ONG Recapibaribe, empenham-se em mutirões de limpeza. Mas, o acúmulo de lixo, sobretudo de embalagens plásticas, não para de crescer. Nas águas do rio, também são descartados colchões, móveis, sapatos e peças de aparelhos eletrônicos como televisão e computador. Em setembro de 2019, voluntários acabaram encontrando um corpo durante um mutirão de limpeza.

A poluição que afeta o Capibaribe foi relatada pelo leitor Katsuzo Koike em carta ao JC. "O rio símbolo de nosso Estado, o chamado 'Rio das Capivaras' ou Capibaribe, está com suas águas praticamente negras, tamanha a carga de esgoto que nele desemboca in natura, diariamente, sem falar nas toneladas de lixo plástico que o poluem sem piedade. Um rio citado João Cabral, Capiba, Manuel Bandeira e Ascenso Ferreira e navegado por Charles Darwin e Henry Koster, está ficando sem vida, puro mau cheiro, um depósito de lixo. Uma vergonha ambiental. Muito triste", disse.

Mesmo poluído, o rio é refúgio de 90 espécies de animais. São pelo menos sete espécies de répteis, nove de mamíferos, 40 de aves, dez de crustáceos-moluscos e 24 de peixes.

Navegabilidade do Capibaribe

 O Capibaribe é considerado uma “avenida líquida” pela sua largura e extensão e, há pelo menos três décadas, governos tentam torná-lo navegável.

Em 2012, veio o anúncio do projeto Rios da Gente pelo governo do Estado, seria a saída para o trânsito travado. A previsão era de que em abril de 2014 já seria possível circular pelo Recife em um transporte público fluvial, através do Rio Capibaribe. A ação incluía duas rotas com sete estações de embarque e desembarque no rio.

No ano passado, um projeto para utilizar o rio para o transporte foi apresentado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. O CITinova, financiado pelo Fundo Global para o Meio Ambiente com gestão da ONU Meio Ambiente. Prevê a urbanização de dois trechos das margens do Rio Capibaribe com jardins filtrantes e barco movido a energia solar para travessia e três Micro-estações de monitoramento climático. A partir do segundo semestre de 2021, espera-se que o barco solar comece a fazer o trajeto do Parque do Caiara, no Cordeiro, na Zona Oeste, até o Poço da Panela, na Zona Norte do Recife.

A navegabilidade foi tema do comentário enviado pela leitora Janeide Costa ao JC. "O plano mirabolante de tornar o rio Capibaribe navegável e parte integrante do turismo, também a partir das suas margens, só tornará factível com investimentos massivos em infraestrutura, a começar por erradicar o despejo inconsequente e ilegal de esgoto no seu curso, como também dando à população mais vulnerável condições adequadas (e dignas) de moradia. Nosso erário deve ser revertido exclusivamente para benesse do contribuinte, não mais para políticos abjetos", afirmou.

O Rio Capibaribe

O nome do rio é originário da língua tupi e significa na água de capivara ou dos porcos selvagens, através da junção dos termos kapibara (capivara), y (água) e pe (em).

O Capibaribe nasce na divisa dos municípios de Jataúba e Poção, percorrendo vários centros urbanos e servindo de corpo receptor de resíduos industriais e domésticos. A bacia apresenta uma área de 7.454,88 km² (7,58% da área do Estado), abrangendo 42 municípios pernambucanos: Brejo da Madre de Deus, Chã da Alegria, Cumaru, Feira Nova, Frei Miguelinho, Glória do Goitá, Jataúba, Lagoa do Itaenga, Passira, Santa Cruz do Capibaribe, Santa Maria do Cambucá, Surubim, Toritama, Vertentes e Vertente do Lério estão totalmente inseridos na bacia.

Os municípios que possuem sede na bacia são Camaragibe, Casinhas, Limoeiro, Paudalho, Pombos, Recife, Riacho das Almas, Salgadinho, São Lourenço da Mata, Taquaritinga do Norte e Vitória de Santo Antão.

Os municípios parcialmente inseridos na bacia são Belo Jardim, Bezerros, Bom Jardim, Carpina, Caruaru, Chã Grande, Gravatá, João Alfredo, Lagoa do Carro, Moreno, Pesqueira, Poção, Sanharó, São Caetano, Tacaimbó e Tracunhaém.

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