Uma das maiores tentações do ser humano, desde o início dos tempos, é fazer exercícios de futurologia. Daí o fascínio tão grande que ainda exercem sobre as pessoas as histórias que envolvem máquinas do tempo, como a trilogia De volta para o futuro, de Robert Zemeckis. O efeito devastador da pandemia do coronavírus no planeta coloca sobre a mesa, de forma inescapável, a pergunta sobre como será o nosso futuro quando tudo isso acabar.
Acontece que não dá para ficar apenas especulando, como no apelo da saudosa Beth Carvalho, "como será o amanhã". A tempestade está aqui e agora e, com o céu turbulento, nenhum piloto pode se dar ao luxo de ficar em meio à tormenta esperando o tempo melhorar - é preciso segurar firme o manche, reajustar a rota e seguir em frente até encontrar a calmaria
Essa pequena digressão foi para mostrar que o mundo pós-pandemia tem que ser construído a partir de agora. E o elemento primordial nessa construção é um substantivo até meio surrado, mas que terá uma importância - institucional, inclusive - bem diferente daqui para frente. Chama-se solidariedade.
Em uma sociedade que nos empurra cada vez mais para bolhas autorreferentes, olhar para o outro é um ato heroico. É nesse sentido que a campanha Atitude Cidadã, do Sistema Jornal do Commercio em parceria com o Instituto JCPM de Compromisso Social, acende uma importante faísca. Ao convocar o empresariado e os cidadãos para ajudar instituições de cujo trabalho dependem as vidas de milhares de pessoas, o exemplo que fica é límpido: você, que tem, faça algo pelos milhares que não têm.
Para amenizar o flagelo da pobreza que aumentará no pós-pandemia, a solidariedade terá de ser política pública, tanto por parte das organizações da sociedade como do empresariado. Algo que transcenda colorações partidárias. O poder público tem suas - muitas - atribuições e - claras - limitações. Tem seus notórios defeitos em termos de gigantismo e ineficiência em alguns setores, mas não pode ser o único responsável pelos destinos das pessoas.
O projeto Atitude Cidadã, mais do que tudo, aponta caminhos justamente quando nos vemos perdidos ante tanta incerteza. Quando vemos a pandemia se aproximar do ápice, levando as vidas de milhares de cidadãos e os poderes públicos, por negligência, hesitação ou por puro esgotamento da capacidade de ação (há gestores que se encaixam em cada uma das três categorias) não têm mais o que oferecer.
Faça sua parte. Doe hoje, sim. Mas com a certeza de que a solidariedade para com os mais necessitados terá de ser a tônica da vida em sociedade de agora em diante. De uma forma abrupta o mundo já mudou, deixando o rastro da tragédia. Mude junto, mas para melhor. Muitas pessoas dependerão da sua mudança.