Por Felipe Vieira, da coluna Grande Recife
Nas palavras do governo do Estado as medidas de restrição que vigoram desde o sábado (16) em cinco municípios do Grande Recife apresentam resultados positivos no sentido de reforçar a necessidade de isolamento social. Mas uma análise dos dados da própria gestão mostra que ainda há muito a melhorar.
Na terça-feira (19) o índice de isolamento foi de 52,1%. Na terça-feira anterior (12), quando estava em vigência apenas a quarentena "educativa", foi de 50,1%. Ou seja, todo esquema de pontos de bloqueio, rodízio de veículos e fiscalização para coibir a restrição da circulação de pessoas fez aumentar em apenas dois pontos percentuais o índice. Na segunda-feira (18) o isolamento da população foi de 53,5%, contra 49,4% do mesmo dia na semana anterior. Um aumento de 4,1 pontos percentuais.
O aumento mais robusto se deu justamente no primeiro dia do lockdown, o chuvoso sábado (16): 60% de isolamento contra 48% do mesmo dia na semana anterior. Doze pontos percentuais podem, sim, ser comemorados como um "crescimento bem superior", como diz o material enviado pelo governo. Dois, jamais.
Segundo o governo a média de isolamento nas cinco cidades entre os dias 9 e 12 de maio na comparação com os dias 16 e 19 subiu de 50% para 57,4%. Contam-se aí os resultados obtidos no último sábado (mais 12%) e no domingo (mais 10,3%), mas é preciso atenção na marca ruim dos dois dias úteis.
Os números impõem um desafio aos poderes públicos: fazer valer o decreto ante uma população extenuada, seja por perdas de entes queridos relativos à covid-19, seja pela precária situação econômica em que se encontra o País. E até mesmo pelo estado de ansiedade e desesperança que a pandemia provoca.
Sim, nos dias úteis há mais pessoas e veículos nas ruas. Mas parece haver um claro descompasso entre a grandiosidade da estrutura anunciada na operação e os resultados obtidos nos últimos dois dias.
O motivo do isolamento, todos sabemos, é achatar a curva de contágio e ter algum tipo de controle sobre o monstro da covid-19. Mas se o poder público lança mão de uma medida dura como o lockdown e não consegue de cara os resultados é preciso um ajuste rápido de rota, sob pena de desmoralização total frente a uma população já bastante descrente em suas lideranças.
Se não mudar a situação das ruas, seguirá o calvário nas unidades do já saturado sistema de saúde.