Custo social do enfrentamento de Covid19 no Brasil será maior que os do tratamento da doença

Peculiaridades da economia informal brasileira tornam maiores os desafios são desafio do governo diante da decisão de ter que confinar as pessoas
JC
Publicado em 14/03/2020 às 20:04
Secretária de Saúde do Estado realiza coletiva de imprensa para divulgar o balanço do coronavírus em Pernambuco Foto: CINTHYA LEITE/JC


Por Fernando Castilho, do JC Negócios

No setor público já se aprendeu que, quando se vai relocar uma comunidade, a pior coisa que se pode fazer é fazer um sorteio das chaves. Quebra a cadeia social que se formou ao longo do tempo da ocupação com uma série de alianças colaborativas que um sorteio destruiria. Daí porque os habitacionais de maior sucesso serem os que o gestor replicou essa ordem na hora de distribuir as chaves, mantendo no térreo as famílias de cadeirantes.

O exemplo acima serve para iluminar o debate sobre a parada na economia que vamos enfrentar e onde a ordem de ficar em casa parece ser o padrão com o discurso de que é a melhor solução pois impede o vírus de circular.

Certo, mas num país como o Brasil isso é mesmo o melhor caminho? O nosso modelo é o da China, onde praticamente não existe a economia informal e onde o Estado não é democrático?

É próximo ao da Itália onde sequer se pode vender comida ou produtos nas calçadas? E onde ninguém põe uma barraca senão as de cigarros e souvenir? Ou de Singapura e da Coreia do Sul onde tudo funciona a ponto de se respeitar até o lugar de colocar bituca de cigarro na rua?

Esses elementos são importantes para balizar o debate porque tem muitos gestores têm radicalizando achando que pode resolver a questão do contágio parado tudo. Não temos evidências se resolve, mas é certo que vai acelerar a crise econômica.

Parar as escolas, por exemplo, vai quebrar toda uma cadeia de suporte aos pais que trabalham. E levar os menores para serem cuidados pelos avós. Esse é um elemento importante que será difícil ser gerenciado e no caso de um país como o Brasil pode, de fato potencializar a propagação por transmissão local.

De qualquer modo teremos a contaminação direta das crianças aos velhinhos pelo enorme tempo de exposição entre eles. Da mesma forma que vai acontecer com uma série de negócios e atividades que vão parar.

A pergunta é será que não poderíamos gerenciar de modo a não parar tudo porque podemos ter um custo maior do que se mantivéssemos um mínimo de atividades? Até porque diante de epidemias como as que já temos de Zika, Dengue e explosão dos casos de sarampo a letalidade do Covid19 é bem menor. Ou seja, crise e mortalidade por doenças virais o Brasil, infelizmente, já tem demais.

Isso não quer dizer que os nossos pais e avós não serão atingidos. Serão e esses custos sociais e familiares já estão precificados. O que se pode debater é se não é mais barato manter alguma coisa funcionando.

Claro que o cidadão pode tomar suas decisões. Mas é importante que se avalie o padrão do país. O Brasil tem um perfil social e econômico que está sobrevivendo graças a capacidade a reinvenção do modelo de geração de renda que ainda não está nos manuais de economia.

A economia do aplicativo tem no Brasil um perfil que é bem diferente do que temos ao redor do mundo.

Aqui, parar a economia e confinar por confinar as pessoas pode ser muito mais grave do ponto de vista sanitário do que deixar a economia rodando ainda que em baixa velocidade.

Isso talvez explique por que a Prefeitura do Recife está advertindo que fechar escolas, comércio, serviços, circulação de pessoas nas ruas trazem um conjunto de consequências socioeconômicas de grande impacto e devem ser adotadas em estágio de transmissão comunitária e por recomendação técnica especializada.

Além de consequências socioeconômicas, as medidas implantadas em momento inadequado não são eficazes para contenção da disseminação do vírus e ainda podem abalar a credibilidade das medidas sanitárias para o momento em que elas realmente sejam necessárias.

Na verdade, prefeitos e gestores estão diante de um enorme desafio que é o dimensionar os custos sociais e econômicos de decisões que se mostraram eficientes noutros países, mas que no Brasil terão que ter uma dinâmica própria. Na verdade, estamos diante de uma situação em que o gestor terá definir entre os riscos localizados de uma pandemia e os custos de uma sociedade cujos riscos de saúde pública, na pratica já são maiores que os da nova doença.

Nós não vamos conseguir crescer nada este ano mesmo. O programa do governo Bolsonaro crescer 2,5% já era. Antes mesmo do Covid19 devido às bobagens que Bolsonaro produziu.

Também não vamos fazer nenhuma reforma importante porque o próprio governo não criou as condições políticas propícias para isso.

Então, a questão é o que faremos com o Covid19? Sob o risco de fazer como algumas prefeituras que pensando num sorteio democrático para definir a ordem dos apartamentos de um novo habitacional colocam vizinhos de porta a nora e a sogra desafetas. Quando não raro a esposa e a amante do desempregado que mantém o relacionamento com as duas.

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