Vacinação da covid-19 em todo 2021 inviabiliza retomada econômica e estoura gastos com novos infectados

Apesar do tom efusivo do ministro da Saúde, revelando mais uma vez sua completa incapacidade de Eduardo Pazuello em passar confiança aos atores envolvidos com a questão
Fernando Castilho
Publicado em 16/12/2020 às 16:10
Lançamento do Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação Contra a Covid-19. Como o calenário proposta "Zé Gotinha" tem emprego garantido até 2022. Foto: Isac Nóbrega/PR Foto: ISAC NÓBREGA/PR


Por Fernando Castilho da coluna JC Negócios do Jornal do Commercio


A definição, pelo Ministério da Saúde, de um plano de vacinação no qual estima um período de doze meses, posterior à fase inicial, para concluir a vacinação da população em geral, inviabiliza qualquer tentativa de a economia brasileira voltar a com sua capacidade plena. Pior, torna necessário a manutenção de todas as estruturas de atendimento aos infectados, especialmente internações, que devem estourar os orçamentos do Governo e dos estados com serviços hospitalares e especialmente UTI.

Ontem, após o lançamento festivo do programa, a principal preocupação dos secretários de saúde não era quando o cronograma de vacinação começa de fato. Mas com a definição de verbas para os estados suficientes para suportar o forte crescimento de casos e atendimentos em UTI com vergas do SUS.

O texto do programa de vacinação expõe a fragilidade do suporte que o governo federal pode contar em termos de vacina. A rigor, em 2020, o Ministério da Saúde só poderá contar com as vacinas produzidas pelo Instituto Butantã a despeito de toda a briga política de Jair Bolsonaro com João Dória.

Apenas a primeira fase, que trabalha com a vacinação em trabalhadores de Saúde; pessoas de 75 anos ou mais; pessoas de 60 anos ou mais institucionalizadas; população indígena aldeado em terras demarcadas aldeada, povos e comunidades tradicionais ribeirinhas (14,8 milhões de pessoas), já consumiria toda a produção do Butantã já que serão necessárias 31.178.095 doses.

Isso faz com que a segunda fase, destinada a pessoas com mais de 60 anos e menos de 74 anos (mais 22,1 milhões de pessoas), consumisse mais 46.497.406 doses que poderiam, em tese, serem supridas pelo fornecimento da Pfizer e da vacina da AstraZeneca.

A terceira fase, destinada a pessoas com diabetes mellitus; hipertensão arterial grave; doença pulmonar obstrutiva crônica; doença renal; doenças cardiovasculares e cerebrovasculares; indivíduos transplantados de órgão sólido; anemia falciforme; câncer; obesidade grave, na prática, ainda é um alvo a ser atingido com as vacinas que o governo conseguir ao longo de 2021.

O melhor dos mundos para o governo brasileiro seria um gesto de deferência ao Brasil pela Pfizer efetivando a previsão de entrega da primeira remessa para o primeiro trimestre de 2021 em parcela de 2 milhões de doses.

Com essas vacinas, o Brasil poderia, por exemplo, assegurar vacinação para trabalhadores de Saúde; pessoas de 75 anos ou mais os mais expostos ao vírus. Até porque elas seriam destinadas às cidades com suporte da chamada cadeia do frio localizadas, essencialmente, nas capitais.

Esse cenário seria o ideal porque com a desmobilização das hospitais de emergência quem está aguentando tranco, de fato, são os hospitais estaduais conveniados com o SUS.

A apresentação do plano descortina dois cenários:

A demora na aplicação de vacinas numa calendário tão longo revela o desastre do governo Bolsonaro na gestão do processo de aquisição não assegurando o que fosse possível dado que o Brasil é o segundo país com a maior taxa de letalidade.

E, no campo econômico, a impossibilidade de empresas e investidores consolidarem seus investimentos uma vez durante todo o ano de 2021 a questão da vacinação da população não estará resolvida além da convivência com o número de mortes.

Apesar do tom efusivo do ministro da Saúde, revelando mais uma vez sua completa incapacidade de Eduardo Pazuello em passar confiança aos atores envolvidos com o problema da permanência da alta taxa de contaminação, o Plano de Vacinação é, na verdade, uma carta de intenções construídas a partir de um premissa também intencional: A chegada de pedidos de registro de uma vacina e a possibilidade de entrega de lotes de vacinas já aplicada em outros países onde o Brasil está numa lista de espera.

No fundo, a afirmação de Eduardo Pazuello de que estamos negociações em andamento, que totalizam, conforme cronogramas já disponíveis, em torno de 350 milhões de doses de vacinas COVID-19 é uma meta a ser atingida.

E mesmo a inclusão na lista de 42,5 milhões de doses (laboratórios ainda estão negociando com a Covax Facility o cronograma de entrega) do projeto Covax Facility não tem sequer uma data de ser viabilizado.
Esse cenário é o que empresários e investidores mais temiam quando se começou a debater o Plano Nacional de Imunizações.

Um calendário tão longo - definido pela entrega física das vacinas-  que se arrastasse por todo o ano de 2021 e chegando a 2022 é um desastre para qualquer planejamento empresarial.

Na pratica, o Brasil será que conviver com a insuficiência de oferta de vacinas, uma forte pressão por vacinação inclusive na rede privada e um número muito alto de infectados já que a população definitivamente abandonou as medidas de proteção, mesmo com o crescimento do número de mortes.

Resta saber se esse crescimento econômico “meia boca” manterá o prestígio do presidente Jair Bolsonaro por todo o ano a ponto de chegar a 2022 como um candidato a reeleição competitivo.

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