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Getúlio copiou frase "O petróleo é nosso", que ficou na história como sua em defesa da Petrobras

Criada por Getúlio Vargas, a Petrobras teve como primeiro presidente um coronel do Exército, Juracy Magalhães

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Fernando Castilho

Publicado em 23/02/2021 às 12:25 | Atualizado em 23/02/2021 às 14:33
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Acredite. A famosa frase “O petróleo é nosso” não foi uma criação do presidente Getúlio Vargas, que a usou como slogan de campanha contra empresários, economistas e até contra Monteiro Lobato, que defendiam que a pesquisa fosse feita por empresas internacionais além do governo.

Na verdade, segundo a professora Maria Augusta Tibiriçá Miranda, a frase surgiu no meio do debate sobre quem deveria explorar o petróleo, e de uma forma bem prosaica.

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O seu autor foi o professor e diretor do Ginásio Vasco da Gama, no Rio de Janeiro, Otacílio Raínho. Ele também dirigia o grupo de escoteiros, e de uma forma bastante casual.

Durante o início da campanha do petróleo, os ginasianos do Vasco da Gama o procuraram para pedir uma caixa de giz para escrever pelas paredes frases para defender a campanha.

Otacílio Raínho, que é autor de vários livros didáticos, perguntou “e o que vocês vão escrever?” e sugeriu “por que vocês não escrevem ‘O petróleo é nosso’?”. Então, eles saíram escrevendo a frase: “O petróleo é nosso” nas paredes.

Informado, o presidente a anotou, mas deixou para pronunciá-la por ocasião da descoberta de reservas de petróleo na Bahia. O primeiro poço do líquido negro foi descoberto no Brasil em 1939, no Recôncavo Baiano.

Anos mais tarde, a frase tornou-se lema da Campanha do Petróleo, patrocinada pelo Centro de Estudos e Defesa do Petróleo e promovida por nacionalistas, que culminou na criação da empresa petrolífera nacional, a Petrobras.

Curiosamente, a campanha opôs Vargas a um grupo de economistas liderados pelo professor Eugenio Gudin e Roberto Campos, avô do atual presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Roberto Campos, que era muito irônico, criou outra frase: “Monopólio estatal é fetiche de país subdesenvolvido".

Campos e Gudin se juntaram a ninguém menos que o escritor Monteiro Lobato num movimento em que defendiam que o Brasil autorizasse a exploração por empresas internacionais. Lobato, adversário de Vargas, escreveu um livrinho "O Escândalo do Petróleo", em 1936, que foi censurado pelo presidente.

Lobato não perdeu tempo e escreveu, semanas depois, o livro infantil "O Poço do Visconde", no qual o seu personagem Visconde de Sabugosa indagava “como não existe petróleo nesta enorme área de 8,5 milhões de quilômetros quadrados, toda ela circundada pelos poços de petróleo das repúblicas vizinhas?”

Como se pode notar, não é de hoje que a questão do petróleo se divide entre os nacionalistas (representados por militares de direita e partidos de esquerda, que defendiam o monopólio estatal na exploração do petróleo) e os defensores do capital estrangeiro.

De qualquer forma, a Campanha do Petróleo resultou vitoriosa por 44 anos, com a criação da Petrobras e a instituição do monopólio estatal da exploração, do refino e do transporte em 1953 com a aprovação, pelo Congresso brasileiro, do projeto que criou a Petrobrás com acento. O primeiro presidente da Petrobras, foi Juracy Magalhães, coronel do Exército que entrou na política.

Só em 1997, com a lei n° 9.478, a Lei do Petróleo e a criação da Agência Nacional do Petróleo, órgão regulador da indústria do petróleo, o monopólio foi derrubado, passando o Estado brasileiro a ser o dono das reservas.

Na última sexta-feira, Bolsonaro indicou o general da reserva Joaquim Silva e Luna para o posto do atual presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco. A indicação está sendo apreciada nesta terça-feira pelo Conselho de Administração da empresa.

 

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