Cenário econômico em Pernambuco, no Brasil e no Mundo, por Fernando Castilho

JC Negócios

Por Fernando Castilho
castilho@jc.com.br
Coluna JC Negócios

Função de Banco Central é segurar a inflação. Se ela dobra em relação à meta, instituição falhou no alerta

Desde janeiro que já se sabia da crise da área de energia. Estava precificado pelo setor elétrico já em 2020. Mas até junho essa nota não era importante para o BC .

Cadastrado por

Fernando Castilho

Publicado em 11/01/2022 às 18:30 | Atualizado em 11/01/2022 às 18:32
Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. - NE10

Interessante o arrazoado de 15 páginas que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto enviou ao ministro da Economia, Paulo Guedes elencando os três elementos da inflação. A forte elevação do preço de commodities, a tarifa mais cara de energia elétrica e os desequilíbrios de preços nos insumos e gargalos nas cadeias produtivas globais. Correto. Mas o papel de Banco Central é ser o guardião da moeda, e, portanto, tem que estar vigilante aos mínimos sinais e alertar o mercado.

Mas a pergunta é: Certo. Os motivos foram esses mesmo? Mas e aí, o BC fez o que? Quais foram os alertas que a instituição deu ao mercado e ao Governo de que as coisas não estavam boas?

Nos relatórios, até a reunião de agosto do Copom em que o BC decidiu elevar as taxas de juros, não tem uma linha. Não na dimensão da crise.

Roberto Campos Neto, diz que “os preços de commodities, depois de serem afetados negativamente pela eclosão da pandemia da Covid-19 no primeiro trimestre de 2020, iniciaram processo de elevação no terceiro trimestre daquele ano que continuou ao longo de 2021, ultrapassando de forma significativa os níveis pré-pandemia”.

Beleza. Todo mundo sabia disso. Mas e aí? Quando esse fenômeno entrou no radar do Banco Central? Como o BC deu alerta?

O Copon não deveria ter começado um movimento de alerta já em junho?

Está lá no "Relatório da Inflação" de 24 de junho de 2021. "O Comitê segue atento à evolução desses choques e seus potenciais efeitos secundários, assim como ao comportamento dos preços de serviços conforme os efeitos da vacinação sobre a economia se tornam mais significativos". Nenhuma palavra de alerta.

Sobre o câmbio, o palavreado de Campos Neto é eloquente: “A tendência de depreciação na segunda metade de 2021 refletiu principalmente questionamentos em relação ao futuro do arcabouço fiscal vigente e o aumento dos prêmios de risco associados aos ativos brasileiros, diante da maior incerteza em torno da trajetória futura do endividamento soberano.”

Muito bom. Dito de outra forma. O debate maluco do Governo Bolsonaro sobre costumes e vacinas, a proposta de calote nos Precatórios de Paulo Guedes e as ameaças do presidente no 7 de setembro de 2021 além do noticiário do estouro do teto de gastos quando o OGU 2022 não eram motivos de atitude mais forte antes da primeira subida das taxas de juros da Selic?

E aí vem a explicação sobre o possível apagão. Está dito: O fraco regime de chuvas levou ao acionamento de termoelétricas e de outras fontes de energia de custo mais elevado durante a segunda metade de 2021, resultando em aumento expressivo das tarifas de energia elétrica. Depois de a bandeira amarela vigorar entre janeiro e abril, em maio foi acionado a bandeira vermelha patamar.

Peraí, excelência. Desde janeiro que já se sabia da crise da área de energia. Estava precificado pelo setor elétrico já em 2020. Mas até junho essa nota não era importante para o BC avisar ou colocar alguma coisa nas atas do Copon?

O BC diz que em sua reunião de março, o Copom iniciou um processo de ajuste da taxa Selic, que acumulou 7,25 p.p. de aumento em sete reuniões.

Diz que durante o ano, o Comitê recalibrou seu orçamento e ritmo do ajuste de política monetária, em resposta aos desenvolvimentos econômicos que impactaram negativamente suas projeções e à deterioração das expectativas de inflação.

O problema está exatamente nisso na tal “recalibragem”. De março até junho o sinal não era vermelho era amarelo suave.

Quando, em agosto, a inflação explodiu nos alimentos foi que o BC decidiu subir a taxa em 1 p.p. Aí meu irmão, Inês já estava morta.

Mas essa advertência só veio em 16 dezembro quando a mesmo "Relatório da Inflação" diz "a inflação ao consumidor continua elevada. A alta dos preços foi acima da esperada, tanto nos componentes mais voláteis como também nos itens associados à inflação subjacente". O conselheiro Acácio não escreveria nada melhor.

Aumentar, como o BC aumentou em outubro e dezembro, a Selic em 1,50 p.p. já não segurava mais nada. O Banco Central tinha virado passageiro no trem da inflação

O Banco Central pode escrever uma terá byte de explicações, mas a verdade é uma só. Apesar dos alertas que o mercado deu já no primeiro trimestre o BC demorou para agir e alerta o mercado.
Quando entrou, de fato, na questão (o que só aconteceu em agosto) à inflação de 10 estava contratada.
Contra fatos não há argumentos.

O texto é muito bom para que uma pessoa possa ter uma idéia de como a inflação chegou com força no Brasil. Mas ele mostra que o BC, por quase dois terços do ano, fez cara de paisagem.

O resto é justificativa do Roberto Campos Neto que tem mandato e não pode ser demitido do cargo apesar

Tags

Autor

Veja também

Webstories

últimas

VER MAIS