Cenário econômico em Pernambuco, no Brasil e no Mundo, por Fernando Castilho

JC Negócios

Por Fernando Castilho
castilho@jc.com.br
Coluna JC Negócios

Depois de 25 anos, BC suspende liquidação extrajudicial do Banorte

Com o encerramento da liquidação extrajudicial, a nova empresa ficará sob a responsabilidade da família Baptista da Silva, controladora do Banorte

Cadastrado por

Fernando Castilho

Publicado em 21/02/2022 às 18:30 | Atualizado em 22/02/2022 às 19:16
Liquidação extrajudicial do Banorte S.A. havia sido colocada em 24 de maio de 1996 - ARTES JC

O Banco Central do Brasil começou a levantar a liquidação extrajudicial do Banco Banorte S.A., que havia sido colocada em 24 de maio de 1996, liberando o grupo controlador da instituição, suas coligadas e demais empresas a retomar o controle das atividades.

Dessa forma, o processo de encerramento extrajudicial do Banorte tem início com supervisão do Banco Central do Brasil e seguindo o que é previsto na Lei nº 6.024/1974, foram concluídos os procedimentos para o encerramento da liquidação extrajudicial do Banorte, que durou mais de 25 anos. Os credores foram atendidos dentro do que foi acordado entre as partes.

Com o encerramento da liquidação extrajudicial, haverá mudança do regime para liquidação ordinária, que seguirá o que é regido pela Lei n° 6.404/1976. Já neste formato, a nova empresa ficará sob a responsabilidade da família Baptista da Silva, controladores do Banorte, que farão a gestão dos ativos a partir de agora.

O Banco Banorte foi o segundo maior banco com sede no Nordeste em ativo e pioneiro numa grande quantidade das ações de desenvolvimento do sistema financeiro brasileiro. Em 1996, ele fez uma fusão com o Banco Bandeirante S.A. Ele sofreu intervenção sendo decretada sua liquidação extrajudicial ato que está sendo levantando agora.

Segundo ata da Assembleia Geral Extraordinária, realizada em 26 de novembro do ano passado, cujo extrato foi publicado na última sexta-feira, foi aprovada a suspensa do regime de Liquidação Extrajudicial da Companhia por convolação em liquidação ordinária com pagamento ao Banco Central de R$ 187, 7 milhões pelos acionistas com títulos e créditos em poder do próprio BC.

Com isso, as duas empresas controladoras do antigo Banco Banorte a Una Participações e Empreendimentos Imobiliários S. A. e a Baptista da Silva Participações e Projetos S.A. recebem os ativos que haviam sido dados em garantia ao pagamento de credores do banco e passam atuar normalmente no mercado.

As duas empresas passam a se chamar Santa Luzia Empreendimentos Imobiliários S.A. um veiculo para que possa atuar no mercado especialmente no mercado imobiliário e demais empresas não financeiras.

O AMIGO NA PRAÇA

Jorge Baptista da Silva, presidente r do Banco Nacional do Norte S.A. - DIVULGAÇÃO

O Banco Nacional do Norte, Banorte foi criado pelo empresário e engenheiro têxtil Jorge Amorim Baptista da Siva. Ele era filho de Manoel Mendes Baptista da Silva e de Maria Thereza Ribeiro de Amorim e nasceu no dia 19 de junho de 1923. Formou-se em Engenharia Têxtil na Inglaterra, mas foi o banco que mudou a sua vida. Faleceu em 30 de setembro de 2014.

Manoel Mendes era um capitão de empreendimentos e fundou seu próprio banco, em 12 de outubro de 1942, diante da proibição da antiga Superintendência da Moeda e do Crédito (Sumoc), hoje Banco Central, de empresas financiarem atividades produtivas.

Na época, o grupo comandado por Mendes financiava a produção de cana-de-açúcar e recebia o pagamento com açúcar, vendendo o produto para o mercado internacional. Irritado com a decisão da Sumoc, ele fundou seu próprio banco, o Banco Nacional do Norte S.A.

A morte do pai, em 1962, fez com que Jorge Baptista assumisse a direção do banco e do Cotonifício da Torre, também de propriedade da família. E ele foi um empresário respeitado e de sucesso em diversos setores. Comandou empresas como a Pedra Cerâmica Santo Antônio, que concorria com a Oficina Cerâmica Brennand no segmento de pisos de alta resistência.

A paixão pessoal por tecidos fez em empresário ficar à frente de uma das mais fortes empresas do setor têxtil do Nordeste, o Cotonifício da Torre, uma das primeiras indústrias de beneficiamento de algodão de Pernambuco.

A presença o complexo têxtil foi tão grande que o nome da fábrica acabou originando o bairro de mesmo nome. Empresas de segurança de valores, vigilância imobiliária, gráfica e até a agência de publicidade Gravatahy estiveram na base operacional do Banorte.

Foram quase quatro décadas no comando do banco. Até quando no dia 25 de maio de 1996, a instituição sofreu intervenção do Banco Central e em seguida foi vendida ao Banco Bandeirante. Depois, os ativos foram para o Unibanco.

PRECURSOR DO MEGABANCO

Agência do Banco Nacional do Norte S.A. - DIVULGAÇÃO

Uma das marcas dos Banorte foi a atenção especial nas novas tecnologias bancárias, com o melhoramento da comunicação entre agências. O banco sempre foi apreciado por seu apoio à cultura nordestina. E uma forte presença junto ao setor industrial como agente financeiro da produção nordestina.

O banco atuou em todas as áreas do segmento bancária sendo uma dos percussores do que mais tarde veio a se chamar de banco múltiplo de onde vieram os atuais megabancos que dominam todas as atividades do mercado financeiro.

Jorge Baptista esteve, foi por três mandatos, membro do Conselho Monetário Nacional, que na época era presidido pelo ex-ministro da Fazenda Mário Henrique Simonsen.

Com o assento no Conselho, o banqueiro pernambucano tinha total interlocução com os presidentes do Banco Central. Durante esses mandatos ele teve a companhia de outro nordestino, João Carlos Paes Mendonça, então presidente da Abras e do Bompreço.

Amante das artes plásticas Baptista da Silva estimulava que as agências do Banorte valorizassem a tradição nordestina e gostava de ver peças e obras de artes de artistas da região, principalmente de Pernambuco, na sede e nas filiais do banco.

Quando da intervenção e da liquidação um dos blocos de ativos que mais chamou a atenção foi a quantidade de obras de artes plásticas que o banco tinha inventariado.

Banco Nacional do Norte S.A. - DIVULGAÇÃO

TEMPO DO CARTÃO PERFURADO

No início dos anos 1970, quando a comunicação bancária convencional era possível por meio de cartões perfurados, o Banorte começou a desenvolver a idéia de levar a automatização que já funcionava no “coração” do banco para a ponta, nas agências.

O conceito era ter o básico para atender o cliente, independente do que estava acontecendo por trás, mas quando o banco se propôs a comprar os equipamentos, os planos foram interrompidos pela reserva de mercado, que começou em 1975 e proibia a importação dos computadores. Foi aí surgiu a Digirede, uma empresa criada por consultor do Banorte, Arnon Schreiber que tocou a iniciativa em parceria com o banco.

A Digirede tornou-se o canal de expansão da tecnologia desenvolvida em Pernambuco para todo o País. Tanto que ela aparece ao lado do Banorte em nível de importância em registros como o livro Tecnologia Bancária no Brasil, de vários autores, editado pela FGV em 2010.

Graças as compras do Banorte a Digirede tornou-se líder de automação no Brasil. Agências de praticamente todos os bancos foram automatizadas com a solução desenvolvida por ela.O curioso é que não existia HD, era o floppy disk de 8 polegadas. E cada CPU tinha uma memória esplêndida de apenas 64k.

PUBLICIDADE CRIATIVA 

O Banco Nacional do Norte S.A apoiou a cultura nordestina entre o Quinteto Violado. - DIVIULGAÇÃO

Uma das marcas dos Banco Banorte foi sua publicidade por onde passaram dezenas de artistas emprestando sua voz desde Luiz Gonzaga, Elba Ramalho e o Quinteto Violado. Mas o slogan “O amigo na praça” criado pelo publicitário Mario Leão Ramos, da agencia Abaeté foi o que o tornou conhecido nacionalmente.

O conceito foi incorporado pelo banco nas suas ações de deixou de ser uma estratégia de comunicação para ser uma estratégia de mercado do banco com agente financeiro da produção.

O banco estruturou sua comunicação em cima do conceito e tornou-se conhecido por inovações entre elas uma que transformou o cheque pré-datado num recebível.
Isso aconteceu quando um gerente do banco chegou num armazém de tecidos no Cais de Santa Rita e viu que ele mantinha uma gaveta com centenas de cheques pré-datados separados pelas datas. Todos os dias uma funcionária pegava os cheques e os depositava. O Banorte propôs antecipar o capital de giro parado num recebível. Nascia a custódia de cheques pré-datados que se tornou nacional.

E VEIO A INTERVENÇÃO

Feito à noite, em São Paulo, pelo presidente do BC, Gustavo Loyola a liquidação do Banorte surpreendeu o mercado financeiro. A expectativa era que se completasse a fusão com o Banco Bandeirantes, anunciada no final do ano anterior.

Mas o negócio, no entanto, acabou não se concretizando e intervenção se nos mesmos moldes da incorporação das operações bancárias do Nacional pelo Unibanco. O Bandeirantes assumiu, desde já, as operações bancárias do Banorte agências, funcionários e sistemas. As agências do Banorte ficaram sob a administração do Bandeirantes. Os clientes e depositantes perderam movimentar livremente seus recursos

Na época ao menos R$ 240 milhões foram emprestados ao banco pela linha de redesconto do BC. A Caixa Econômica Federal assumiu a carteira de crédito imobiliário, de R$ 220 milhões. Na época o Banorte tinha 83 agências e 3.000 funcionários.

 

Tags

Autor

Webstories

últimas

VER MAIS