Cenário econômico em Pernambuco, no Brasil e no Mundo, por Fernando Castilho

JC Negócios

Por Fernando Castilho
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Lockdown em Xangai anuncia frete mais caro, falta de contêineres e atraso nas cargas para o próximo Natal

Covid-19: Lockdown no maior porto do mundo vai, mais uma vez, bagunçar a logística e impactar o transporte marítimo de mercadorias

Fernando Castilho
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Publicado em 30/04/2022 às 21:00
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As companhias de navegação estão "pulando" Shanghai e indo para a próxima parada, as vezes na própria China - FOTO: Divulgação
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Na última semana de abril, as preocupações com a crise econômica provocada pela guerra da Rússia com a Ucrânia passaram a ser divididas com o que estava acontecendo na China, onde as duas maiores cidades do país asiático continuaram fechadas por ocasião de um rigoroso lockdown. Curiosamente, o motivo ainda tem a ver com a covid-19.

Mais precisamente, com o que acontece na província de Xangai, cujo porto foi responsável por 17% do tráfego de contêineres e 27% das exportações da China, é um problema de classe mundial. No ano passado, movimentou-se lá 34 milhões de TEUS dos 200 milhões de contêineres que a China movimentou.

Ainda não é possível mensurar a extensão do impacto do lockdown na China, especialmente em Xangai. E não há clareza sobre o que, de fato, o fechamento de empresas provocou na maior cidade do mundo - que tem o maior porto do mundo.

Mas já se sabe que muitas cadeias produtivas estão sendo afetadas, e entre elas estão gigantes como as fábricas responsáveis por produzir o iPhone, manufaturados pela Foxconn e outros produtos que tiveram as suas atividades interrompidas devido ao lockdown.

A Tesla, companhia automobilística de veículos elétricos, do bilionário Elon Musk, paralisou a produção de carros em Xangai por causa do surto de covid que está acontecendo na região desde o começo de abril.

 

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Fabrica da Foxconn para os produtos a Apple. - Divulgação

Outras companhias, como a Volkswagen, tiveram que interromper suas atividades porque as restrições no Porto de Xangai afetam principalmente as estradas de entrada e saída do porto, resultando em um acúmulo de contêineres e uma redução de 30% na produtividade.

Na semana passada, a Câmara de Comércio da União Europeia estimou que havia 40% a 50% menos caminhões disponíveis em Xangai, e que menos de 30% da força de trabalho da cidade pode retornar ao trabalho. As medidas impostas pela China nesta nova onda de covid determinam que todos que forem diagnosticados com a doença devem ficar em quarentena, mesmo que não apresentem sintomas.

O Porto de Xangai sofre diretamente com as interrupções que aconteceram em Shenzhen, um dos maiores polos tecnológicos da China. Para o analista de Inteligência Qualitativa no Núcleo de Prospecção e Inteligência Internacional da FGV, Leonardo Paz Neves, isso trará reflexos para o Brasil, já que o País oferece commodities agrícolas e minerais à China.

Segundo ele, “o Brasil é grande produtor de ambos, quanto mais a economia chinesa fica travada, pior para a economia brasileira. E numa situação como essa, as construções param e o Brasil deixa de fornecer produtos, é pior para o mercado de commodities, que perde um grande comprador”, completou.

Para o empresário Gabriel Carvalho, da empresa de locação de contêineres Blue, a política do governo chinês permanece muito firme porque, segundo ele, os chineses não têm perfil de voltar atrás, nem de mudar o que eles têm feito.

“Na verdade, eles não têm certeza de como controlar o vírus. E eles não vão mudar devido a questões econômicas. Eles vão até o fim, logicamente, tentando diminuir ao máximo o peso das restrições para que não prejudique tanto a economia. A ordem da China vem do Partido Comunista, do PCC. Mas eles sabem que não podem prejudicar tanto a economia. Então estão tentando o quanto antes levantar as restrições".

Carvalho diz que, na verdade, o centro da crise está em Xangai. Não aconteceu nada. A cidade já está na quarta semana de bloqueio e já vê um acúmulo grande de mercadorias que não estão conseguindo ser escoadas. Quando o lockdown começou, foi bem menor, devido à sazonalidade. Foi logo após o Ano-Novo chinês, e o movimento estava fraco de demanda, tanto para a Europa como para América do Norte e para América do Sul. Então, segundo ele, o impacto foi um pouco menor.

 

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RECEIO Gabriel Carvalho, da Blue Logístics ainda espera alta para o preço final do frete em função da crise - DIVULGAÇÃO

 

Compras para o Natal

Mas agora a preocupação maior caso o lockdown não seja retirado, é porque vai começar a ter uma demanda muito alta de compras. Pouca gente sabe, mas em maio começam as compras do Natal, principalmente para os Estados Unidos. Historicamente, elas começam a sair agora, e é um movimento muito forte. Este ano, não vai se conseguir escoar as cargas. Então, as indústrias estão muito preocupadas, especialmente as eletroeletrônicas.

O caso da Apple, que tem peças produzidas pela Foxconn, seu fornecedor é um bom exemplo. Na verdade, o que se espera é que assim que os lockdowns forem encerrados, a demanda represada de cargas vai ser tão alta que vai impulsionar o frete marítimo para um valor mais alto, logo que acontecer.

Segundo Gabriel Carvalho, ainda não aconteceu. Antes do lockdown, os fretes estavam caindo. Do Nordeste do Brasil para a China, um frete custa entre US$ 7 mil e US$ 8 mil o contêiner. Mas no começo do ano e antes do Natal, estava US$ 12 mil, e chegou a US$ 14 mil. Então, podemos dizer que caiu 50%.

O maior receio é que quando o mercado caminhava para a normalização, aconteceu a parada da China.
“Então, o problema tende a acontecer novamente. Já há fala de contêiner para estocagem. O próximo que já está faltando é o equipamento refrigerado. Então, para mim, que trabalho com isso, é uma questão de tempo. Assim que os lockdowns forem encerrados, a gente vai ter uma situação de caos logístico novamente”.

O empresário não tem dúvidas que os valores dos fretes vão para cima. Para ele, as cargas vão atrasar e muita gente vai postergar por mais alguns meses a normalização da cadeia logística que todo mundo está esperando.

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PORTO Em Suape, Javier Ramirez, CEO do Tecon já contabiliza aumento dos cancelamentos de navios que deveriam atracar no terminal - DIVULGAÇÃO

A expectativa de que a crise do coronavírus é um problema que vai afetar portos do mundo inteiro não é apenas uma previsão de analistas de mercado. No caso de Suape, o presidente da companhia que administra o Tecon Suape, Javier Ramirez, já observou um notável cancelamento de navios no porto.

“Normalmente, o nosso parque opera entre 42 a 46 navios por mês, mas em abril, vamos operar somente 32. Embora o intercâmbio de volume venha se mantendo relativamente dentro dos patamares acostumados”.

Na opinião de Ramirez, o fenômeno acontece por dois motivos: o arrastre da disrupção das cadeias logísticas devido à covid (sim, ainda!), e agora a crise de Xangai, que impede o fluxo de cargas de importação ao Brasil.

Isso prova que a crise no porto classe mundial como Xangai tem um impacto enorme na cadeia produtiva e logística global, e também afeta enormemente logísticas de cargas não contenedorisadas. Especialmente porque o Brasil é um grande exportador de soja para a China, e esses navios parados vão retardar a roda logística global.

Para o executivo do Tecon Suape, somente após resolvida a crise, que vai tomar tempo, será feito o retorno à normalidade e, possivelmente, o mercado talvez precise ser repensado quanto à estruturação dessas cadeias logísticas, já que foi demonstrada a fragilidade na dependência da China.

O Brasil, assim como a maioria dos países, recebe produtos manufaturados e partes da produção da China. Portanto, estão sendo afetados pela situação. Brasil tem a vantagem de ter uma indústria forte e ativa, e em parte poder mitigar o impacto, mas a dependência da China não pode ser evitada sob nenhuma hipótese.

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