Milton Ribeiro chegou ao Ministério da Educação como pastor da Igreja Presbiteriana Jardim de Oração (Santos, SP). Ele já tinha sido vice-reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, mas nunca publicou artigos analisando educação em revistas acreditadas. Ele nem tem perfil na plataforma 'Scopus Author ID' assim como no 'Google Scholar'. Portanto seu Índice-H é zero porque nunca publicou nada que tenha sido citado por outro autor.
Mas ele chegou lá. O lugar onde centenas de educadores desejam e onde outra centena tem contribuições importantes a dar ao país pelo que já fizeram. Entretanto, o pastor formado em teologia virou ministro. Experiência com orçamento público: zero. Experiência com grande volume de recursos privados: zero. Ele levava sua vidinha de pastor e professor até que virou ministro da Educação.
Para quem não tem muita ideia do que seja isso é importante colocar alguns dados do que é que o ministro pode mandar ou ao menos influenciar. Milton Ribeiro passou pelo MEC sem saber exatamente o que acontecia na pasta.
O orçamento do MEC é de 120 bilhões/ano. Só é menor que o orçamento do Estado de São Paulo. Na pratica, é um gigante com 372 mil servidores e só é menor que o ministério da Defesa (384 mil) com as três armas- Exercito, Marinha e Aeronáutica.
Só o gabinete do ministro tem 10 secretarias e subsecretarias. O ministro leva duas semanas para despachar com eles em termos de assuntos específicos.
O MEC gasta 28,4% com Universidades, 11,1% com ensino profissional e 26,6% como Ação de Transferências para Educação Básica. Foi nessa área que os pastores viram uma oportunidade de fazer negócios.
Fora disso, existe o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) que tem orçamento de R$ 30 bilhões aonde os pastores viram outra área de oportunidades.
O que os pastores não sabiam é que tudo que acontece no MEC tem ao menos três pessoas olhando e vendo no Diário Oficial da União. Não tinha como a presença deles não ser notada e rastreada real por real.
Daí porque uma CPI do MEC assusta e deve assustar mesmo o governo Bolsonaro pelo que informação vai sair e pelas bobagens que estão documentadas.
Desde o início, quando os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura começaram a frequentar os gabinetes do ministro, que todo mundo os acompanhava. Inclusive, os deputados do Centrão que atuam nessa pasta.
Gente que já esteve em posto de comando nO MEC costuma dizer que tem áreas que nem o ministro ou secretário executivo entra por ter “controles externos”
Mas os pastores achavam que poderiam atuar sem ser notados. E eles foram atuar exatamente junto o grupo de prefeitos desapadrinhados.
São perfeitos que vão a Brasília sem o apoio de um deputado ou senador. Mesmo prefeitos de capitais sempre comparecem a reuniões com o ministro da Educação acompanhados de deputados e senadores.
Nenhum deputado do Centrão ou mesmo do PT, por exemplo, deixa de acompanhado um prefeito num pleito no MEC. Então é importante pontuar que os pastores só conseguiram se reunir com prefeitos sem conexão como nenhum deputado. Isso é possível ver nas fotos dos encontros. Por isso quando os pastores começaram a circular nos gabinetes eles chamaram a atenção.
O Fundeb tem 30 bilhões de orçamento em 2022. Mas historicamente é repartido com estados e municípios com alguma articulação no MEC.
Tudo no MEC é grande em termos de verbas. Por exemplo: o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) oferece alimentação escolar e ações de educação alimentar e nutricional a estudantes de todas as etapas da educação básica pública tem orçamento de R$ 4,4 bilhões. Em 2022, só o Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) teve R$ 2,6 bilhões para aquisição e a distribuição de mais de 275,8 milhões de obras.
Então, quando os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura organizaram “encontros” do MEC com prefeitos e secretários de Educação todo mundo sabia que não poderia ser coisa séria. Mesmo que, como num encontro em fevereiro de 2021, o presidente Jair Bolsonaro (PL) tenha comparecido
E esse protagonismo dos religiosos com essas iniciativas foi visto pela CGU (Controladoria-Geral da União) que tem uma equipe especialmente para cuidar do assunto do MEC.
Por isso é que o governo tem muita preocupação com uma CPI. Porque os pastores eram uma espécie de corpo estranho dentro da estrutura do MEC.
Claro que os valores não chegam nem perto das maquinações ocorridas no MEC quando da ação do Ministério da Saúde na pandemia. Mas ela vai ter um material muito mais rico do que no caso da Saúde.
Se a gente somar o quê pastores podem ter tido alguma influencia podemos chegar, no máximo, a R$ 50 milhões de liberações. É nada comparado as compras de vacinas etc.
Mas importa pouco se é R$ 1 real ou R$ 10 milhões. Milton Ribeiro não tem articulação parlamentar no Congresso. Os pastores também. E eles vão ter que pagar. A operação do Governo não é para protegê-los. É para proteger o presidente e seu entorno.