Pedro Guimarães se aproximou de Bolsonaro depois dele ser eleito e não faz parte do grupo escolhido pelo ministro Paulo Guedes para compor o então super Ministério da Economia. Mas ele foi incluído na equipe sendo uma escolha do presidente.
- Para evitar desabastecimento, Brasil já discute com Rússia importação de diesel. Dificuldade é como pagar
- Amadorismo dos pastores de Milton Ribeiro no MEC obriga governo a acionar profissionais para travar CPI
- Sem impostos, distribuidora e posto passam a ser "responsáveis" por novos aumentos dos combustíveis
Isso fez ele se aproximar ainda mais do presidente, espelhando Bolsonaro em suas atitudes. Bem formado, com PhD pela Universidade americana de Rochester, ele nunca escondeu que se o presidente precisasse dele para o Ministério da Economia, ele estaria pronto para exercer o cargo.
O problema de Guimarães é que ele sempre foi visto como um sujeito que não tinha histórico de ser liberal radical. Sua tese sobre privatizações até o credenciava para ser secretário dessa área no ministério da Economia, se Guedes já não tivesse convidado o presidente do Grupo Localiza, Salim Matar, que nunca tinha tido experiência dentro do governo e se frustrou ao perceber que não é tão simples vender uma estatal.
Mas na Caixa Econômica viu sua grande oportunidade. Ele conseguiu privatizar uma parte da área de seguros, mas o seu foco era aproveitar o enorme potencial que a instituição tem para fazer política social.
E ele fez isso tentando agregar a imagem de Bolsonaro aos programas mais estruturados que a instituição já operava. Mas apesar de seus esforços, nunca houve uma grande integração das informações da Caixa com o Ministério da Cidadania, talvez porque, para Paulo Guedes, essa não fosse uma prioridade. Assim, os enormes bancos de dados da Caixa e da Cidadania nunca geraram grandes iniciativas.
Enquanto isso, ele estava cada vez mais próximo do presidente. Ele virou assíduo nas lives de quinta-feira de Bolsonaro. E estava ao lado do presidente em praticamente todas as viagens pelo Brasil. Esteve ainda em viagens internacionais como convidados do presidente.
Ele também foi um dos criadores de uma das marcas do Governo em solenidades: o colete sem mangas, usado nas aparições de entregas de obras e ações da Defesa Civil e depois “incorporado” ao guarda-roupa de autoridades.
Guimarães recorreu a sua proximidade com Bolsonaro, para quem só levava boas notícias, quando na definição do pagamento do auxilio emergencial, ele convenceu o presidente e o grupo palaciano que a Caixa era quem deveria operar o programa que daria R$ 600 a milhões de famílias.
Os bancos, através da Febraban, argumentavam que poderiam fazer isso sem problemas, e rápido, já que pagavam a mais de 30 milhões de pessoas o Bolsa Família e o BPC. Guimarães foi contra, com o argumento que esse novo banco de dados não poderia ficar nas mãos do setor privado.
O Governo deu a ele sua maior vitória e ele pode agregar 67 milhões de CPFs ao banco de dados da Caixa, ainda que a instituição tenha pagado o custo da imagem de fila enorme numa época de crescimento da pandemia.
As filas na porta da agência, com milhares de pessoas correndo o risco se serem contaminadas, criaram um problema sério de imagem porque a Dataprev, que desenvolveu o programa, não entregou um aplicativo que fosse 100% eficiente.
Mas ainda assim, a Caixa ganhou a disputa. Depois que implantado o Caixa Tem, a instituição ganhou um espetacular arquivo de 67 milhões de potenciais clientes.
Mas Guimarães não ficou apenas operando a instituição. Ele mesmo fez questão de ser a imagem da Caixa, e nenhum dos seus diretores deu qualquer entrevista sobre as ações da instituição. Todo o foco da comunicação da Caixa era centrada na figura do presidente. O presidente da Caixa falava em vídeos e pronunciamentos sobre tudo relacionado a Caixa.
Mas ele, de fato, ampliou as ações da instituição criada para ser um braço social do governo na área urbana para atuar no campo, de olho na enorme disponibilidade de poupança no setor rural com as exportações.
A Caixa passou a disputar com o Banco do Brasil o nicho de financiamento agrícola, uma função de mais de 100 anos delegada ao BB.
O problema é que Pedro Guimarães não tinha uma imagem fácil de ser trabalhada. Ele tem dificuldades de falar e sua comunicação sempre apareceu forçada. No ano passado, o TCU mandou que a comunicação da instituição deixasse de ser centrada na figura do presidente e a Caixa foi obrigada a retirar dezenas de vídeos aonde Guimarães aparecia como o personagem central.
Em alguns deles, ele apareceu defendo que os funcionários da Caixa fizessem exercícios antes de iniciar a jornada de trabalho. Essa é uma tradição das empresas japonesas e muito comum nas fábricas. Mas sem qualquer conexão com a cultura empresarial brasileira. Os vídeos foram vazados como uma atitude que constrangia os economiários.
O que não se sabia era essa sua face de suposto assediador, embora sempre houvesse críticas ao seu comportamento misógino. Guimarães saiu da Caixa com boas entregas no balanço, mas brigando inclusive com a Febraban, da qual a instituição é fundadora, e que ele ameaçou deixar quando a entidade apoiou um manifesto contra Bolsonaro. A Caixa ficou na Febraban, mas os bancos nunca o perdoaram por expor a entidade.