Cenário econômico em Pernambuco, no Brasil e no Mundo, por Fernando Castilho

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Por Fernando Castilho
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Fila na frente da Central do CadÚnico do Recife mostra tamanho da crise mostrada no Mapa da Fome na cidade

No começo de junho, pelas contas do prefeito, o auxílio das chuvas seria para os 5.594 atuais beneficiados, além das famílias que serão cadastradas no programa pelas equipes de Defesa Civil e Assistência Social

Fernando Castilho
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Publicado em 18/07/2022 às 11:00 | Atualizado em 18/07/2022 às 12:28
Sidney Lucena
Fila dfe cadastramento da Rua do Imperador. - FOTO: Sidney Lucena
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Conectado nas redes sociais, o prefeito do Recife, João Campos (PSB), apressou-se, no dia 3 de junho, em informar que decidira acrescentar mais R$ 1.000 aos R$ 1.500 que o governador Paulo Câmara anunciou para as famílias atingidas pelas chuvas que caíram em Pernambuco.

“Um movimento conjunto com a Câmara dos Vereadores, a esse valor para as famílias do Recife, totalizando R$ 2.500,00 para cada família afetada. Essa ajuda, de imediato, vai chegar às famílias que estão cadastradas no CadÚnico e foram afetadas pelo desastre”, disse João Campos.

Pelas contas do prefeito, a ajuda seria para os 5.594 atuais beneficiados, além das famílias que serão cadastradas no programa pelas equipes de Defesa Civil e Assistência Social.

A Câmara Municipal, inclusive, se uniu aos esforços do município e do Estado e vai repassar recursos de seu orçamento para reforçar as ações de apoio. A Câmara do Recife, que sequer tem uma sede própria, tem orçamento anual de R$ 165 milhões que simplesmente não consegue gastar.

O que nem João Campos, nem Romerinho Jatobá e até mesmo Paulo Câmara sabiam é que com o nível de perda de renda da população da cidade do Recife, detectado pelo Mapa da Nova Pobreza, se detectou que durante a pandemia, foi na capital onde houve o maior salto em direção à pobreza.

Cresceu 11,34% entre 2019 e 2021. E que a cidade do Recife, que tem cerca de 1,6 milhão de habitantes, mais de um terço da população está abaixo da linha de pobreza, segundo Marcelo Neri, Pesquisador da FGV Social.

Sidney Lucena
Estimando em 5 mil pelo prefeito JOão Campos, o número de pessas em situação de vulnerabiliade ja chega proximo de 10 apenas no Recife - Sidney Lucena

Na verdade, o estudo da FGV Social diz que Pernambuco, com 8,14% de taxa de crescimento da pobreza entre 2019 e 2021, tem quase o dobro do Brasil, bem mais que a Bahia (4,90%) e é duas vezes e meia a do Ceará (3,785%).

O que não quer dizer que os dois estados do Nordeste estão melhores nesse indicador. Quer dizer que Pernambuco está entre os piores do Brasil. E que sua economia não gera renda, a despeito de um dos polos com maior capacidade de aplicações no mercado financeiro da Região.

O problema para o prefeito do Recife é que, ao ser confrontado com a dura realidade, todo o seu discurso midiático de que funcionários da PCR fariam até busca ativa para cadastrar as pessoas, aqueles dados do Cadastro Único não espelhavam a realidade.

Na verdade, o que está acontecendo na Rua do Imperador, no centro, é a expressão não só da defasagem dos dados da Central de Atendimento do CadÚnico na cidade do Recife, mas do Brasil, onde, segundo o estudo, o contingente de pessoas com renda domiciliar per capita até R$ 497 mensais atingiu 62,9 milhões de brasileiros em 2021, cerca de 29,6% da população total do País.

O dado corresponde a 9,6 milhões a mais que 2019 — o número de novos pobres surgidos ao longo da pandemia é quase o tamanho de Portugal.

O problema de João Campos foi usar as redes sociais para dizer que “Equipes da Prefeitura vão fazer visitas em cada área definida para cadastrar as famílias e identificar todas as habitações danificadas. Nós sabemos quais são as áreas e elas serão vistoriadas por equipes da gestão municipal”.

Deu ruim. Nem as equipes chegaram a todos os pontos - o que acabou revoltando a centenas de famílias que sequer viram um fiscal da Defesa Civil chegar nos pontos de alagamentos que foram muito fortes por conta desse fenômeno. E ter que atualizar seus cadastros no CadÚnico do Governo Federal.

Já faz seis semanas que milhares de famílias vão ao centro do Recife para tentar se cadastrar, sem sucesso.

João Campos não gravou novo vídeo sobre o assunto. É pouco provável que voltará a fazê-lo. E se o fizer, vai terceirizar a culpa aos sistemas do Ministério da Cidadania.

Eles, de fato, estavam defasados. Até porque, durante a pandemia, isso não foi feito e porque o dinheiro do Governo Federal tinha ajudado muita gente a organizar suas contas.

O problema do prefeito e de seus colegas da RMR é que Pernambuco, que já tem o segundo número de inscritos e também mais famílias em situação de risco alimentar e, por isso, estão desesperadas tentando atualizar seus dados nos programas do Governo Federal.

Sidney Lucena
Fila dfe cadastramento da Rua do Imperador. - Sidney Lucena

O problema é que o dinheiro incialmente reservado para atender as vítimas das enchentes no Recife parece que será mesmo insuficiente. E a Prefeitura já sabe que tem gente demais para atender.

A busca ativa prometida pelo prefeito nas redes sociais não funcionou. E toda semana tem gente queimando pneus reclamando que nunca foram procuradas.

Não é diferente a revolta de quem está na fila do posto de cadastramento da Rua do Imperador.
Ninguém está interessado nas explicações técnicas. Todos têm suas razões para se queixar.

No fundo, o que estamos vendo ali é a expressão do empobrecimento do Brasil ou, como diz o economista Marcelo Neri, diretor da FGV Social: “A pobreza nunca esteve tão alta no Brasil quanto em 2021, desde o começo da série histórica da PNADC [Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua] em 2012, perfazendo uma década perdida.”

O estudo diz é que, aqui, a pobreza aumentou e que metade dos pernambucanos está na miséria, porque Pernambuco é o quarto com maior proporção de pobres, com taxa de 50,32%, abaixo do Maranhão (57,90%), Amazonas (51,42%) e Alagoas (50,36%). O Brasil tem média nesse indicador de 29,62%.

É pobre demais com renda de menos.

https://jc.ne10.uol.com.br/pernambuco/2022/07/15042856-paulista-ainda-nao-iniciou-pagamentos-de-auxilio-as-vitimas-das-chuvas-mais-de-um-mes-apos-desastre.html

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