No vale-tudo para vencer eleição, Bolsonaro quer até receber dividendos das estatais

Diante do que Bolsonaro está fazendo com o caixa da União, o ''fazer do Diabo'' de Dilma é brincadeira de criança atrás de doce no Halloween
Publicado em 25/07/2022 às 18:00
Paulo Guedes cada vez mais próximo do pensamento politico de Jair Bolsonaro na economia. Foto: EVARISTO SA / AFP


Esqueça Valdemar Costa Neto, condenado e preso no mensalão do PT, José Roberto Arruda, cassado e preso no mensalão do DEM, Fernando Collor, alvo de impeachment depois da descoberta de que ele participou do esquema PC Farias.

O presidente Jair Bolsonaro vai “fazer o diabo” para ganhar a eleição, e não estamos falando de política, mas de economia.

Para quem não lembra, a frase é de Dilma Rousseff quando entrou na campanha da reeleição de 2014 cujas consequências no caixa a levaram a sair do governo com o impeachment. 

Pois bem. Diante do que Bolsonaro está fazendo com o Caixa da União, o "fazer do Diabo" de Dilma é brincadeira de criança atrás de doce no Halloween.  

Há uma percepção de Bolsonaro, a partir das pesquisas de opinião sobre seu governo, quando do pagamento de R$ 600 em 2020 na pandemia da covid-19, de que pode conquistar votos de uma parcela importante do eleitorado que vota sem qualquer consciência política.

O presidente e sua equipe acreditam que será possível “tomar” os votos de Lula com dinheiro mesmo.

Assim como acreditam que os taxistas do Brasil inteiro podem votar no presidente depois de embolsarem o mesmo auxílio.

E aí não é só o novo Auxílio Brasil, pagamento de duas das seis parcelas de R$ 1 mil a caminhoneiros, mesmo que na ANTT pouca gente saiba quem de fato vai receber.

O que prejudica a estratégia é que a inflação dos alimentos tirou a carne, depois o frango e agora até o ovo está ficando escasso na mesas das famílias mais pobres e até da chamada classe C.

O Brasil que comprava carne de segunda agora está comprando salsicha para o almoço. E aquela história de que as pessoas estão substituindo o almoço de comida quente por um lanche é conversa de classe média.

O lanche é uma forma de não ficar com fome no segundo expediente. E porque ninguém aguenta comer salsicha e carne moída a semana inteira. Porque quando não tem feijão nem arroz se perde muito.

Mas isso não é o que importa. O buraco literalmente é mais embaixo. E isso tem a ver com como as contas do Governo Central vão fechar.

Para quem não conhece, um pouco da Lei de Responsabilidade Fiscal:

Quando uma governo termina, o governador, presidente ou prefeito tem que deixar não apenas as contas do orçamento pagas, mas o dinheiro para pagar ainda isso seja feito ano seguinte.

Isso é lei, e quem não faz isso responde depois. É por isso que todo governador e prefeito chama seu secretário de fazendo para ajustar tudo no último ano de governo.

Há um percepção do Governo de que apesar de tudo que Bolsonaro está fazendo de entrega de dinheiro aos seus possíveis eleitores, as contas vão fechar no azul. O Governo até já fala em superávit de R$ 41,5 bilhões.

E é por isso que Paulo Guedes está vendo quais as estatais que podem antecipar os dividendos. E isso explica por que, apesar de todas as artimanhas para baixar a gasolina, Guedes nunca admitiu pegar os dividendos e colocar como receita para ajudar a pagar os benefícios sociais.

Esse dinheiro ele quer para fechar as contas do chamado Governo Central.

Tanto que o secretário especial de Tesouro e Orçamento, Esteves Colnago, confirmou que o Governo pediu mesmo para as empresas estatais pagarem logo seus dividendos, sem colocar em risco a política de investimento e, no caso de bancos, os requerimentos exigidos pelo acordo de Basiléia de capital mínimo das instituições financeiras.

Então o Ministério da Economia vai pressionar a Petrobras, Caixa, BNDES e até o Banco do Brasil para que antecipem o pagamento de dividendos à União.

O problema disso é que, em 2023, o caixa do Governo chega estropiado, seja pelos compromissos postergados no Congresso, seja pela antecipação de receitas como essas.

Então, a questão é como o próximo presidente vai pegar esse Governo, inclusive Jair Bolsonaro, se for reeleito. Governos quando são eleitos têm um crédito alto pelos investidores e credores.

Mas quando quem tenta reeleição e explode o caixa, acontece o que aconteceu com Dilma. E aí fica a dúvida sobre se quem será "sócio" de Bolsonaro na hora de torrar dinheiro vai ser sócio solidário na hora de pagar as contas do segundo período de administração.

Deputado não assina ordem de despesa nem põe o CPF para se prejudicar.

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