Pedaladas de Dilma nas eleições de 2014 viram brincadeira de criança se comparadas às ações de Bolsonaro

Bolsonaro precisará de Paulo Guedes para gerenciar a crise que construiu com Arthur Lira. Até porque, numa eventual vitória de Bolsonaro, Arthur Lira também seria reeleito para a Câmara
Fernando Castilho
Publicado em 04/08/2022 às 13:04
Bolsonaro, Paulo Guedes eArthur Lira. Foto: Camara Federal


Acredite. O problema de médio prazo para o Brasil não são as dificuldades da economia brasileira de uma eventual vitória de Lula, inclusive no primeiro turno. O que realmente preocupa analistas, economistas e "pitaqueiros" de plantão é uma vitória de Jair Bolsonaro no segundo turno.

Explica-se: o nível de medidas de alto custo financeiro para a União que o seu governo tomou adquiriu uma magnitude tão grande que é difícil prever como os agentes econômicos e políticos vão reagir após a sua posse. As primeiras estimativas apontam um custo de R$ 300 bilhões sacados a descoberto das receitas da União.

Importa muito o apoio popular, e esse é um componente estratégico. Mas é que o nível de comprometimento que ele desenhou com o ministro a Economia, Paulo Guedes, é tão assustador que não está descartado que, com juros acima de 14% na Selic; inflação acima de 8% (na melhor das hipóteses) e ainda um nível de queda na renda das famílias brasileiras com consequências trágicas na questão alimentar têm o potencial de tornar seu novo governo inadministrável.

Claro que Bolsonaro 2.0 não vai abrir mão de Paulo Guedes. Porque precisará dele para gerenciar a crise que os dois - mais Arthur Lira - contrataram. Até porque, numa eventual vitória de Bolsonaro, Arthur Lira também seria reeleito para a Câmara.

Mas tem um fato real. Um novo governo de Bolsonaro dificilmente teria o bônus do mercado financeiro nacional e internacional, como sempre acontece com o Brasil quando muda o presidente.

JUROS MENORES NO FUTURO

Na crise que levou ao impeachment de Dilma, a posse de Michel Temer derrubou as taxas no mercado futuro pela metade na semana de sua posse. Isso acontecerá com um novo governo Bolsonaro?

Outro problema é aqui mesmo no mercado financeiro do Brasil. Não é que Lula seja o candidato da Faria Lima, expressão que designa hoje o centro do setor financeiro em São Paulo.

Mas é que Bolsonaro decidiu abrir uma guerra com os bancos, dizendo que eles perderam receitas com o PIX.

Isso é uma grande bobagem, pois as receitas foram rapidamente recolocadas noutras despesas dos clientes. Inclusive nas taxas de juros. Mas tem outras coisas que preocupam sobre o cenário de 2023.

O OGU não tem previsão do custo dos R$ 600 para o Auxílio Brasil. Então, esse dinheiro terá que ser alocado de alguma outra receita.

O estouro tem outros itens que incluem, entre outras coisas, o subsídio do Pronampe, onde o Governo assina não só como avalista, mas como é dono do dinheiro a ser emprestado com juros baixos via BNDES.

Outra bomba que o presidente e o Congresso armaram é a loucura de emprestar dinheiro aos beneficiários do Auxílio Brasil.

AUXÍLIO BRASIL COM JUROS ALTOS

Como já está acontecendo com as microempresas que tomaram dinheiro do primeiro Pronampe no final de 2020, a inadimplência seria absurda se o valor de 600,00 não fosse mantido com os valores voltariam aos R$ 400. Então, os descontos de até R$ 160 não seriam sobre R$ 600, mas sobre os R$ 400.

Essa volta aos valores antigos provocará uma onda de indignação dos assistidos, obrigando o Governo a manter os R$ 600 que não estão previstos no OGU 2023 por ao menos dois anos, tempo dos contratos que os bancos estão oferecendo.

Na prática, Bolsonaro, ao liberar os empréstimos para o Auxílio Brasil, está contratando um problema para ele mesmo. Os bancos que atuam nas linhas do consignado estimam um novo mercado de 75 bilhões com empréstimos de ate R$ 2.500 com juros de 86% ao ano em 24 parcelas.

Tem mais. O nível do pacote de bondades prejudicou muito as finanças dos estados. E mesmo os candidatos que apoiam o presidente vão ter problemas com uma arrecadação menor.

Comparado ao que Dilma fez em 2014, as atitudes de Bolsonaro fazem das pedaladas de Dilma quase uma brincadeira de criança. Embora a consequência tenha sido uma queda do PIB de 2015 de -3,8%, e em 2016, de 3,6%.

Governadores que se apressaram para na reeleição passar a ideia de que apoiam menos impostos já sabem que terão que pagar a conta em 2023.

Finalmente, fica a questão de como vai se comportar o Centrão depois da posse.

A julgar pelo apetite por emendas, a tendência é que transforme Bolsonaro num funcionário de luxo a seu serviço. Até o dia em que a insatisfação popular comece a pressionar os seus deputados com uma crise social e econômica que tende a ser também política.

Não se pode esquecer. O conjunto de deputados do Centrão não é fiel nem a Arthur Lira e Ciro Nogueira. Imagina a Bolsonaro?

Então a questão é: como Bolsonaro vai fazer para gerenciar a crise por ele mesmo contratada para se reeleger num cenário internacional de queda de crescimento e no cenário interno com tantas dificuldades na economia? Mas esse é um problema que o presidente só vai abordar depois das eleições. Se vencer, é claro.

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