Coluna JC Negócios

DIA DA CACHAÇA: Primeira bebida feita no Brasil, cachaça foi motivo do primeiro protesto da colônia contra Portugal

A cachaça é mania de brasileiro desde os tempos coloniais, quando sua produção se consagrava como uma importante atividade econômica do País. Veja a história no Dia da Cachaça

Imagem do autor
Cadastrado por

Fernando Castilho

Publicado em 12/09/2022 às 10:00 | Atualizado em 12/09/2022 às 11:38
Notícia
X

Neste 13 de setembro é o Dia Internacional da Cachaça, a bebida mais brasileira e a única reconhecida como destilado de cana-de-açúcar de origem no Brasil.

Mas o que pouca gente sabe é que o país não tinha 200 anos de descoberto quando seus habitantes se mobilizaram naquele que seria o primeiro protesto contra a coroa, exatamente no dia 13 de setembro de 1661, quando vivemos uma grande comoção nacional de pertencimento da “pinga”, e que ocasionou a chamada “Revolta da Cachaça”.

Foi assim: com interesse em aumentar a venda de seus produtos em solo brasileiro, a Coroa Portuguesa proibiu a fabricação e a venda da cachaça no País através de uma Carta Real que datava 13 de setembro de 1649. O Brasil já produzia muita cachaça e isso acabou virando um grande problema, pois centenas de engenhos e milhares de comerciantes já vendiam o produto.

O problema é que, desde esse dia, começou uma forte longa perseguição dos portugueses contra os proprietários de cana-de-açúcar e de alambiques (boa parte deles também portugueses), que dois anos depois, já cansados de venderem o produto escondido, decidiram exatamente promover aquela que seria a primeira insurreição contra as ordens da corte de Portugal.

Valter Campanato/Agência Brasil
Lançamento do Anuário da Cachaça, no auditório da Confederação Nacional da Agricultura, Brasília. - Valter Campanato/Agência Brasil

A “Revolta da Cachaça” pode ser considerada a primeira grande mobilização de defesa de um produto brasileiro, uma vez que a extração do pau-brasil nunca motivou nenhuma reação social e sem mesmo a cobrança de impostos sobre o açúcar exportado para apenas a Coroa ocasionaram movimentos de insurreição.

Como afirma o pesquisador pernambucano e estudioso de cachaça Jairo Martins no livro “Cachaça – O mais brasileiro dos prazeres”, em meados de 1516 a cachaça já era produzida e bastante consumida no Brasil, sendo a primeira aguardente das Américas. No Brasil, se bebida cachaça antes mesmo do aparecimento do pisco peruano e da tequila mexicana.

Ou seja, a cachaça é mania de brasileiro desde os tempos coloniais, quando sua produção se consagrava como uma importante atividade econômica do País.

A razão da proibição portuguesa era vender aqui a aguardente destilada a partir do bagaço de uva, a bagaceira, produzida em Portugal e alternativa ao vinho bem mais caro.

Ganhamos a briga pelo primeiro mercado da cachaça, o próprio Brasil, mas Portugal começou a cobrar mais impostos sobre o produto que é feito no Brasil desde os primeiros anos de nossas existência como país.

FERNANDO DE NORONHA E A CACHAÇA

Na verdade, embora haja muitas estórias pitorescas e criativas sobre o marco zero da cachaça, o certo é que a sua história se confunde com a História do Brasil, tendo como protagonistas a cana-de-açúcar, o imigrante português e o escravo africano, além dos índios, ao criarem a bebida que mais simboliza o modo de viver e o espírito descontraído do brasileiro.

Existe, por exemplo, uma informação de que a primeira plantação de cana no Brasil foi feita em 1504, pelo fidalgo judeu de Portugal Fernão (Fernando) de Noronha, que recebeu a ilha, que hoje leva o seu nome, para a exploração do pau brasil.

Também há referências de que o primeiro engenho de açúcar foi construído em 1516, na Feitoria de Itamaracá, criada pelo Rei D. Manuel no litoral pernambucano e confiada ao técnico de administração colonial Pero Capico, que teria começado a produção de cachaça quase de forma acidental.

Mas a prova documental dessa tese, a que se assenta a afirmação de Jairo Martins, está nos registros de pagamento de tributo alfandegário sobre uma carga de açúcar, vinda de Pernambuco, datados de 1526, encontrados em Lisboa.

Pesquisas arqueológicas, conduzidas pela Universidade Federal da Bahia, encontraram ruínas de um engenho de açúcar, datadas de 1520, nas redondezas de Porto Seguro.

Outro fato importante: Martim Afonso de Souza, que chefiou a primeira expedição colonizadora do Brasil, e que resultou na fundação da Vila de São Vicente em 1532 (da qual se originou São Paulo), logo iniciou o cultivo da cana e a construção de engenhos de açúcar.

Isso faz com que alguns pesquisadores defendam a tese (contraditória, segundo os pernambucanos) de que a produção do açúcar tenha sido feita pela primeira vez no litoral paulista.

Mas apesar de não haver um registro preciso sobre o verdadeiro local onde a primeira destilação da cachaça tenha sido iniciada, pode-se afirmar que ela se deu no território brasileiro, em algum engenho do litoral, entre os anos de 1516 e 1532, sendo, portanto, o primeiro destilado da América Latina.

Seja como for, Cachaça é a primeira Indicação Geográfica do Brasil instituída pelo Decreto nº 4.062/2001, elaborado com base no Acordo TRIPS/OMC (Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio, no âmbito da Organização Mundial do Comércio).

"BRAZILIAN RUM" VIRA CACHAÇA

O reconhecimento da cachaça no mercado americano quebrou anos de generalização do produto que, de 2001 a 2013, foi obrigado a ser rotulado como “Brazilian Rum” para ser comercializado nos Estados Unidos. Como resultado do trabalho conjunto do Governo Brasileiro e do Ibrac, a Cachaça começou a protegida no Chile, no México, nos Estados Unidos e na Colômbia.

Essa campanha foi liderada pela empresária pernambucana e acionista do Grupo Pitú, então presidente do IBRAC, Maria das Vitórias Cavalcanti.

Segundo o Ibrac, a palavra “cachaça” é um lusitanismo da palavra espanhola “cachaza”, que é um subproduto anterior à cristalização do açúcar. A palavra é, portanto, um brasileirismo usado, no século XVI, para denominar a nossa aguardente de cana.

A cachaça é o primeiro destilado das Américas, tendo surgido antes do Pisco, do Tequila, do Rum e do Bourbon. Na verdade, pode-se dizer que ela é a mãe do Rum, cujo processo foi implantado no Caribe, precisamente em Barbados (e não em Cuba, como muita gente pensa), em 1655, pelos holandeses expulsos de Pernambuco em 1654.

Além disso, ainda segundo o IBRAC, a cachaça, de tão incorporada aos costumes e hábitos alimentares brasileiros, se tornou parte integrante dos cerimoniais religiosos indígenas e africanos.

E, naturalmente, a imaginação do povo escolheu na hagiologia um grupo de ao menos quatro santos católicos com santos protetores da cachaça: Santa Joana d’Arc, São Benedito, São Jorge e Santo Onofre. Além do mais, o costume de "dar para o santo", trata-se de um "crédito" antes de cometer o pecado.

DIVULGAÇÃO
A cachaça é um destilado brasileiros de cana-de-açucar - DIVULGAÇÃO

Outra coisa: ao contrário do que muito pernambucano pensa, a Caipirinha, feita exclusivamente com cachaça, limão, açúcar e gelo, nasceu no interior do estado de São Paulo – o que explica o nome -, mas acredite: serviu como remédio contra gripe, em 1918, durante o surto da Gripe Espanhola no Brasil.

E tornou-se conhecida na Semana de Arte Moderna, em fevereiro de 1922. Na verdade, os artistas que lideraram o movimento entenderam de que a Caipirinha era "cult" e a adotaram nas reuniões.

O resultado do trabalho desenvolvido pelo extinto Programa Brasileiro de Desenvolvimento da Aguardente de Cana, Caninha ou Cachaça (PBDAC), o decreto é um marco para a Cachaça e é o principal instrumento legal que tem sido usado com base para toda a defesa e proteção da Cachaça em âmbito internacional, porque a cachaça se tornou um grande negócio no Brasil.

NEGÓCIO PARA EXPORTAÇÃO

REPRODUÇÃO
Os primeiros engenhos de cachaça de Pernambuco - REPRODUÇÃO


Além de Pernambuco e São Paulo, os maiores exportadores da bebida, Minas Gerais é o maior exportador de cachaça envelhecida.

Os principais estados exportadores são São Paulo e Pernambuco, que lideram o ranking de 2021, com o total de U$ 6,09 milhões e U$ 1,84 milhão exportados, respectivamente.

Na 3ª, 4ª e 5ª posições estão o Rio de Janeiro (U$ 1,30 milhões), Paraná (U$ 1,23 milhões). Minas Gerais (US$ 1 milhão) e Rio Grande do Sul (U$ 883 mil).

Em volume, São Paulo (3,15 milhões de litros) e Pernambuco (1,95 milhão de litros) se destacam novamente, seguidos do Paraná (1,15 milhão de litros), Rio de Janeiro (378 mil litros), Minas Gerais (248 mil litros) e Ceará (145 mil litros).

As exportações de cachaça cresceram em valor e volume no ano de 2021, de acordo com dados do Comex Stat, compilados pelo Instituto Brasileiro da Cachaça (Ibrac).

A variação percentual do último ano, no comparativo com 2020, apresentou crescimento de 38,39 % em valor e 29,52% em volume.

Segundo a entidade, considerando os números totais, referentes aos 67 países para os quais a cachaça é vendida atualmente, o setor caminha para a recuperação.

Em 2020, a exportação em litros havia caído 23,9% em relação a 2019, totalizando 5,57 milhões de litros exportados da bebida. Já em 2021, foram vendidos 7,22 milhões de litros de cachaça no total, um crescimento de 29,52%.

O mesmo aconteceu com o faturamento: enquanto em 2020 o setor faturou U$ 9,5 milhões (34,8% a menos que em 2019) com as vendas externas, no último ano, esse faturamento chegou a mais de U$ 13,17 milhões, um crescimento de 38,39 %.

DIVULGAÇÃO
A MELHOR CACHAÇA DO MUNDO - DIVULGAÇÃO

Entre os países que mais importaram a cachaça brasileira, destaque para os Estados Unidos, Alemanha e Paraguai, que se destacaram como as nações que mais importaram o produto em 2021 em termos de valor. EUA importou um valor total de U$ 3,48 milhões, demonstrando um crescimento de 56% em relação a 2020.

Já o valor de importação alemã teve um aumento de 41,37%, passando para U$ 1,88 milhão em 2021. O Paraguai importou U$ 1,32 milhão em valor no último ano.

Em volume, os três países também lideram o ranking, sendo Paraguai o primeiro colocado, com 1,63 milhão de litros importados, assim como a Alemanha, com os mesmos 1,63 milhão de litros (um volume 47,75% maior ao importado em 2020), e os EUA vem em terceiro lugar, com 903 mil litros importados.

Na 4ª e 5ª posição do ranking – tanto de valor quanto volume, estão Portugal e França, com valores respectivos de U$ 937mil (509 mil litros) e U$ 785 mil (509 mil litros) em importação.

O crescimento percentual de Portugal chegou a 120% em termos de valor, e 100% em termos de volume, comparados ao ranking anterior.

Para Carlos Lima, diretor executivo do Ibrac, as exportações de 2021 quase chegaram aos mesmos índices de 2019, período pré-pandemia, o que reforça a expectativa de uma recuperação absoluta em 2022.

“O setor foi significativamente afetado durante a pandemia, principalmente devido ao fechamento de bares e restaurantes em todo o mundo. Acreditamos que a reabertura dos estabelecimentos, juntamente com a maior movimentação do comércio entre os países e a liberação de feiras e eventos presenciais, podem potencializar essa retomada”, diz Lima.

PERNAMBUCO, BERÇO DA CACHAÇA PITÚ

DIVULGAÇÃO/PITÚ
Cachaça Vitoriosa foi desenvolvida para comemorar o 75º aniversário da Pitú - DIVULGAÇÃO/PITÚ

A Engarrafamento Pitú chega aos 84 anos de história em 2022. Fundada em 1938 por Joel Cândido Carneiro, Severino Ferrer de Moraes e José Ferrer de Moraes, na cidade de Vitória de Santo Antão, que fica na Zona da Mata de Pernambuco.

A Pitú inicialmente trabalhava com a fabricação de vinagre, bebidas à base de maracujá e jenipapo, além de engarrafar aguardente de cana fornecida por engenhos locais. Naquela época, mal sabiam eles que a cachaça seria o sucesso da marca, e uma das bebidas mais consumidas pelos brasileiros.

Com ritmo de crescimento acelerado, em 1945 a empresa comprou o engenho Arandú do Coito, depois denominado de Engenho Pitú, que passou a produzir sua própria aguardente de cana em destilaria, e industrializou seu engarrafamento com a aquisição de máquinas importadas.

Foi nesta época que a empresa recebeu o nome de Indústria de Aguardente Pitú, uma referência ao nome do Engenho e aos “pitús”, crustáceos de água doce muito apreciados, que existiam em abundância nos mananciais que banhavam o engenho.

O primeiro rótulo da marca, “Pitú – Melhor que Todas,” foi criado por um amigo dos fundadores, o artista plástico pernambucano e apreciador de cachaça Henrique de Holanda Cavalcanti.

Entre as décadas de 1950 e 1970, a Pitú se consolidou como marca, quando a empresa expandiu sua produção no negócio de bebidas, levando a empresa a ganhar o mercado nacional. E no início 1970, ela iniciou sua divulgação e comercialização no exterior, começando pela Alemanha como parceiro com visão de negócio estratégico que levou a Pitú para toda Europa.

Com a expansão da marca, a Pitú viu a necessidade de adquirir novos equipamentos, ampliar a infraestrutura e, em 1974, inaugurou suas novas instalações às margens da BR-232, em Vitória de Santo Antão, endereço atual.

E para retribuir todo o carinho recebido pelos apreciadores e fãs da Pitú, a fábrica dispõe de um Centro de Visitação. Ao adentrar no universo “pituzeiro”, os visitantes são guiados por uma equipe técnica que conta toda a história da cachaçaria em uma curiosa e divertida linha do tempo.

O público também é convidado a degustar os produtos da Pitú no bar interno, assim como a contemplar maquinários antigos, rótulos, embalagens e artigos antigos que compõem a trajetória.

Ao final da visita, em uma sala de cinema própria do Centro, é exibido um filme com cerca de 10 minutos sobre como se deu a união de duas famílias para a criação da Engarrafamento Pitú. No local, ainda é possível comprar todas as bebidas da marca e souvenirs personalizados. O agendamento precisa ser realizado previamente por meio do telefone: (81) 3523-8066.

CARACTERÍSTICAS DOS PRODUTOS PITÚ

 Leo Motta/JC Imagem
Foto: Leo Motta/JC Imagem Data: 22.05.2018 Assunto: ECONOMIA - Aniversário de 80 anos da fábrica da Pitú que fica no município de Vitória. Palavras-chaves: Fábrica - Pitú - Cachaça - Vitória - Aniversário - - ## - Leo Motta/JC Imagem

  • Pitú “branquinha” - É uma aguardente de cana pura, transparente, de sabor marcante e teor alcoólico de 40% vol. É acondicionado em vários tipos de embalagens.
  • Pitu Gold - 100% envelhecida em barris de carvalho, com teor alcoólico de 39% vol. e acondicionada em garrafas de 1L.
  • Pitu Vitoriosa - Envelhecida por cinco anos em barris de carvalho francês e refinada em barris de carvalho americano, onde ocorre o aprimoramento da qualidade sensorial. Teor alcoólico de 39% vol. e acondicionada em garrafas de 750ml.
  • Pitu Limão - Coquetel de aguardente de cana e limão.
  • Pitu Cola - Mistura de aguardente de cana com refrigerante à base de cola, bebida gaseificada refrescante, com teor alcoólico de 5% vol.

Tags

Autor