Elevado à condição de principal liderança do PSB no Estado, após a constrangedora derrota do partido nas eleições para governador, quando o seu candidato sequer foi ao segundo turno, o prefeito João Campos precisa entender o seu papel na prefeitura do Recife. Sob pena de em 2024 enterrar, de vez, a sigla como força política em Pernambuco.
O problema é que, a julgar pelo seu comportamento em dois anos, o prefeito parece não ter percebido que para isso precisa cunhar uma imagem junto aos recifenses de um gestor ativo e presente enquanto trabalha para que sua equipe apresente projetos de vanguarda para a cidade no futuro.
Ativo nas redes sociais (já fez 4.500 postagens no Instagram), João tem mostrado muita viagem e atividades fora de Pernambuco, inclusive, no Grupo de Transição do futuro governo. Além de ter feito viagem internacional seguida de uma recesso pessoal.
O conjunto de selfies pode render clicks na suas redes sociais, mas no duro ecossistema da política presencial passa a imagem de que vai pouco ao gabinete no 9º andar do Palácio Rio Capibaribe. E que não acompanha de perto as obras que a prefeitura consegue tocar, a despeito da falta de projetos de maior impacto na cidade.
Com as novas tecnologias, gerir uma empresa não exige mais a presença física das 7 da manhã às 7 da noite no gabinete. O gestor pode, sem dificuldades, tocar e cobrar resultados e acompanhar projetos em tempo real.
Mas numa prefeitura é diferente. Precisa - para usar um conceito moderno ser Figital (físico e digital) - para que a equipe não desligue a câmera nas reuniões como maus alunos fazem nas aulas de Educação à Distância (EAD).
João Campos parece ter esquecido que foi eleito num esforço dramático do PSB para não perder a prefeitura que já sinalizou a fadiga de material do partido junto aos seus eleitores. Tanto que a ruptura final se deu no mês de outubro quando Danilo Cabral não foi ao segundo turno.
A partir de janeiro, com o governador Paulo Câmara entregando o cargo e - por consequência - as centenas de cargos comissionados, a prefeitura do Recife será o último bastião do partido e João Campos seu líder mais forte.
Mas a questão para ele é: depois de dois anos a serem completados aqui a exatos 18 dias, João Campos entregou o que aos recifenses?
Que marca conseguiu passar como gestor inovador que cria uma referência de gestão pública? E se acredita que já conseguiu isso, como ele avalia que essa “marca” já está se consolidando no imaginário de seus munícipes?
Talvez alguém com mais experiência política precise lhe dizer que para o cidadão, eleitor e contribuinte prefeito bom é aquele que, primeiro limpa a cidade; depois ilumina a rua e as praças e, a seguir, inaugura obra nova no sistema viário já avisando que vai ter mais. Tem que passar a imagem de que está insatisfeito com os resultados.
Com o nível de degradação das capitais brasileiras, João Campos precisa mostrar soluções para segurança, centro urbano e ajuda efetiva à população de rua e abaixo da linha da pobreza. E isso exige presença do prefeito na rua em contato direto com a população, inclusive, ouvindo desaforos e críticas. Faz parte. Está no seu subsídio mensal para administrar a cidade.
Isso não quer dizer que não precise estar olhando para o futuro, conversando com os promotores das novas tecnologias nem que não pense numa cidade conectada. Felizmente ele está numa cidade que é referência nisso. Mas o seu desafio é exatamente conseguir ligar isso às necessidades na ponta.
Jarbas Vasconcelos e, mais recentemente Rui Costa e ACM Neto, na Bahia, cunharam a imagem de tocadores de obra antes mesmo de ter dinheiro para todos os projetos. O que os une é a determinação de todos os dias, pela manhã, está na rua inspecionando obras infernizando a vida de empreiteiro chegando sem avisar.
Prefeito não tem que ser bom com empreiteiro aceitando prazo. Aliás, o seu pai, Eduardo Campos, era conhecido por exigir entregas sempre antes do prazo. Até porque, como dizia, estava pagando a fatura no prazo.
João Campos tem dois anos para salvar sua gestão e o seu partido. Se não entrar forte com a marca de ter entregue uma cidade melhor que Geraldo Julio terá enormes dificuldades.
Se, ao menos, conseguir vender a imagem de que limpou e iluminou sua cidade já parte na frente uma vez que a referência era muito ruim. Se transformar Boa Viagem num showroom do Recife turístico também melhora. Se melhorar o centro antigo. E se, de fato, criar soluções de mobilidade no caótico trânsito da cidade, o que puder apresentar de obra nova também ajuda.
Mas vai ter que aprender a sonhar grande. E fazer sua equipe desenhar o amanhã, incluindo ele como o tocador desses projetos. E não se impressionar com o tratamento que Lula hoje lhe dispensa em homenagem ao seu pai.
Sabendo que Raquel Lyra não é Paulo Câmara, que só não lhe deu mais obra de impacto na cidade, porque a administração de Geraldo Julio foi tão medíocre que sequer teve capacidade de escrever os projetos.
Resumindo: Quando Raquel Lyra sentar na cadeira na segunda feira 2 de janeiro, João Campos terá exatos 643 dias para mostrar a que veio na prefeitura do Recife.