Sejamos honestos. Não faz qualquer sentido o vice-presidente da República de um novo governo ocupar a pasta que cuida do setor produtivo e quem gera a maior parte da receita que o país usa para pagar suas despesas.
Menos ainda quando isso acontece quando dois empresários recusaram o convite.
E mostra que Geraldo Alckmin foi para a missão por absoluta falta de nomes importantes para assumir o comando da pasta que cuida das exportações, do comércio e da indústria.
E isso depois que o presidente prometeu criar condições de modernização de nosso parque industrial.
É importante relembrar. Geraldo Alckmin foi “vendido” na campanha eleitoral de Lula como o elemento de contato de um eventual governo com o mercado financeiro e com os agentes econômicos.
O discurso de Lula foi de que por ter sido quatro vezes governador, ele teria conexão direta com os empresários. E de ser uma demonstração de que Lula queria prestigiar o setor empresarial.
Foi um diagnóstico um tanto equivocado porque quem conhece o ex-governador de São Paulo sabe que ele sempre teve contatos formais pela condição de chefe do executivo do maior estado do Brasil e que isso se deu enquanto estava na cadeira do Palácio dos Bandeirantes.
E bem diferente da relação de, por exemplo, Tasso Jereissati quando governou o Ceará que falava por fé de oficio com qualquer grande empresário brasileiro. Claro que Alckmin deu um brilho a candidatura de Lula.
Mas ele não conectou Lula com quem no mercado como o ex-presidente sonhou. Até porque Alckmin sofre do mesmo preconceito geracional de Lula com os dirigentes das grandes empresas.
NOVOS INTERLOCUTORES
E aqui não se fala de conversar com o setor financeiro. E nem com as novas bases da economia brasileira, cujo comando está nos Conselhos de Administração e nas mãos de CEOs. E muito menos com o agronegócio, que Bolsonaro diz lhe dar de ter apoio total, embora isso possa ser contestado.
Para ser justo é importante reconhecer que teve, e tem, conexão com o agronegócio é a senadora e ex-ministra Tereza Cristina, certamente uma das boas surpresas de desempenho do governo que está se encerrando.
A menos que a escolha do vice-presidente seja uma missão temporária que Lula lhe deu até que depois da posse Lula possa ter um nome de peso no setor produtivo o sinal que é o presidente passa é que não encontrou um representante para um ministério que é tão estratégico como o da Fazenda ou a presidência do BNDES.
Existem certas decisões que passam mensagens muito positivas pelo currículo do escolhido.
Não tivesse conseguido a proeza de, em menos de um ano, com os seus eleitores na Fiesp, Josué Gomes, seria mesmo o nome ideal para ser o representante do setor produtivo, especialmente pelo tamanho de suas empresas.
O problema é que o presidente da Fiesp corre o risco de em janeiro ser demitido do cargo depois uma rebelião de sindicatos liderados pelo ex-presidente da entidade, Paulo Skaf o que o levou a declinar o convite.
O mesmo aconteceu com o Pedro Wongtschowski, presidente do Conselho de Administração do Grupo Ultra. Talvez porque a visão de Lula, contra privatizações e concessões, se choque com as visões de Wongtschowski, um dos nomes mais respeitados da indústria química no País.
EMITINDO SINAL TROCADO
Certamente por ter o receio de receber um terceiro não (e de estar pressionado por vários grupos interessados em indicar nulidades para o cargo), o presidente bloqueou o lugar para resolver depois.
Mas o sinal não é bom.
É verdade que o presidente tem se esforçado para dizer que não fará um governo para priorizar o setor financeiro e que deseja colocar os pobres no orçamento. É uma boa estratégia.
Entretanto, Lula sabe que não pode ficar guerreando contra um inimigo, que não cara nem porta-voz e que se manifesta na cobrança das taxas de juros quando o Governo vai rolar seus títulos de um dívida que, em outubro, estava em R$ 5,75 trilhões.
Pouca gente sabe que todos os meses a Secretaria do Tesouro quita empréstimos antigos e faz novo. Então, o presidente não pode ficar atrapalhando e criando condições para que os bancos exijam juros maiores.
Por exemplo, em outubro, as emissões da Dívida Pública Federal – DPF1 corresponderam a R$ 101,41 bilhões, enquanto os resgates alcançaram R$ 110,52 bilhões, resultando em resgate líquido de R$ 9,11 bilhões.
O que o Governo rola por mês é mais que o orçamento inicial do Auxilio Brasil para 2023 e que originou a PEC da Transição.
O grande problema de Geraldo Alckmin é cumprir as promessas de Lula de reindustrializar o Brasil. Ou, ao menos, colocar uma parte delas no que a CHI chama de Indústria 4.0.
O setor industrial brasileiro está perdendo relevância há 16 anos e não consegue ser competitivo internacionalmente. Talvez porque diferentemente no agronegócio (que não tem como vender 280 milhões de toneladas apenas no mercado interno e exporta), sua produção é absorvida no Brasil de modo que exportar é mais uma decisão de ser mais competitivo do que uma decisão de sobrevivência.
Geraldo Alckmin terá que motivar o setor para se reinventar mirando o mercado externo. Sabendo que não vai encontra na Fiesp os empresários que hoje,de fato, estão na vanguarda econômica do Brasil.