Cenário econômico em Pernambuco, no Brasil e no Mundo, por Fernando Castilho

JC Negócios

Por Fernando Castilho
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Coluna JC Negócios

Haddad acredita que boas intenções podem comandar economia enquanto Governo anuncia que vai gastar mais

É injusto dizer que o Banco Central subiu a taxa porque Bolsonaro entrou de cabeça na campanha. Elevação começou ja em 2021.

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Fernando Castilho

Publicado em 03/01/2023 às 15:05 | Atualizado em 03/01/2023 às 16:19
Haddad esclareceu que a eventual moeda comum não substituiria as atuais correntes e que a ideia é diferente da apresentada pelo governo anterior - REPRODUÇÃO / TWITTER

Gente de boa índole, pessoa que todo mundo quer como amigo, pela sua integridade, e professor que todo pai deseja confiar a educação dos filho - Fernando Haddad vai levar um tempo para entender o que ninguém gosta de um ministro da Fazenda.

Empresários, investidores e gestores de fortunas não o querem como amigo. Desejam que ele não aumente impostos, que a Receita Federal não seja dura e, se possível, desonere tributos. Resumindo: ninguém quer ministro da Fazenda para genro, cunhado ou sogro. Quer que ele não atrapalhe.

Por isso é perfeitamente compreensível que por ocasião de sua posse, enquanto Fernando Haddad falava com aquele jeito sincero e gentil, os operadores das mesas de operação dos bancos, em São Paulo, estavam disparando ordens de venda e espalhando um clima de dificuldades no primeiro pregão do ano.

O mercado financeiro, como se sabe, cheira o amanhã. Não está interessado se o ministro diz que no primeiro semestre vai ter Reforma Tributária ou se, na volta do recesso de julho, o governo vai enviar um projeto de nova âncora fiscal. Quer saber o que vai entregar aos seus clientes, e foi por isso a Bolsa caiu, o dólar subiu e a taxa de juros na ponta ficou maior.

E no caso dos juros vão continuar altos mesmo.

Importa pouco se o ministro se queixa de que houve aumento brutal da taxa Selic (juros básicos da economia definidos pelo BC), de 2% para 13,75%, em decorrência do que chamou de “farra eleitoral” promovida por Bolsonaro.

Não foi só em decorrência da “farra eleitoral”, o Banco Central começou a subir a taxa de juros em março de 2021 quando viu que a inflação de alimentos e dos combustíveis havia iniciado um tendência de alta. Os 2% ao ano de março de 2021 viraram 9,25% em janeiro de 2022 e chegaram a 13,35% em julho último.

É injusto dizer que o Banco Central subiu a taxa porque Jair Bolsonaro entrou de cabeça na campanha. Foi a economia que embicou mesmo, com a inflação disparando. O que agente pode dizer é que em julho Bolsonaro usou sua força no Congresso para baixar as taxas de juros, arrombando o caixa dos estados com a redução das alíquotas do ICMS.

Até que ajudou, mas como dizem as atas do Copom, não tinha muita consistência. “Então quando Haddad diz que temos uma situação completamente anômala com uma inflação comparativamente baixa e uma taxa de juros real fora de propósito para uma economia que já vem desacelerando” ele está esquecendo que hoje a taxa de juros não baixa porque falta confiança dos agentes econômicos no governo que ele representa.

E não tem por que elas baixarem no curto prazo. A última ata do Copom avisa que “o ambiente externo mantém-se adverso e volátil, marcado pela perspectiva de crescimento global abaixo do potencial” este ano.

Tem mais: O BC lembra a determinação dos bancos centrais em reduzir as pressões inflacionárias com taxas de juros mantidas por um período suficientemente longo em patamares contracionistas, elevando o risco de uma desaceleração global mais pronunciada.

O contracionista que dizer que elas não só aqui, mas no resto do mundo vão continuar altas. E Haddad sabe que Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e com mandato para ficar no cargo até 2024 não levará o Copom a baixar as taxas da Selic se o Governo não der mostras de que está mesmo empenhado em baixar a inflação e fortalecer a economia.

O problema é que o presidente não está ajudando. No momento do início do governo, Lula opta pela ala política, e prorrogar até o fim do ano a isenção dos impostos federais sobre combustíveis, exceto gasolina e álcool cuja desoneração foi estendida por dois meses, a credibilidade do ministro da Fazenda vai para o espaço.

O que Haddad não disse é que com o comportamento de Lula a Bolsa brasileira fechou em queda de 3,06%, com Petrobras desabando mais de 6%, e o dólar subindo 1,52% e indo a R$ 5,358, num dia de mercados americanos fechados.

Talvez esse seja o problema. O presidente não está ajudando muito seu ministro. E quando diz que apresentará ao presidente um plano de vôo com ações de curto, médio e longo prazo para a agenda econômica da nova gestão é porque sentiu o golpe em ser desautorizado de público. Foi mal.

Então ele não pode quer empatia do mercado. Com o que Lula pensa e como Haddad se comporta fica difícil. A reverência e os gestos de educação para com o ministro são decorrência da educação dos interlocutores nos gabinetes.

Porque nas mesas de operação o nível de conversa é muito mais agressivo.

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