Cenário econômico em Pernambuco, no Brasil e no Mundo, por Fernando Castilho

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Por Fernando Castilho
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Com novo ataque de tubarão em Pernambuco, Boa Viagem vira praia para turista tirar fotos sem entrar no mar

Na tarde desta segunda-feira (20), na praia do Chifre, ao Norte do porto do Recife, foi registrado mais um incidente de tubarão com o surfista André Sthwart Luiz Gomes da Silva, de 32 anos

Fernando Castilho
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Publicado em 21/02/2023 às 13:10 | Atualizado em 22/02/2023 às 12:05
Laurindo Ferreira
Para turistas que visitam o Recife a praia de Boa Viagem só serve para tirar fotos perto das placas de alerta de tubarão. - FOTO: Laurindo Ferreira

Cartão postal do Recife, a praia de Boa Viagem, para turistas que visitam a capital pernambucana, é boa para se ver de longe do mar e da faixa de areia. Não serve para tomar banho, embora muitos se atrevam a molhar os pés e aproveitar o sol numa das centenas de barracas instaladas todos os dias na praia.

Curiosamente, a maioria que frequenta os hotéis da orla prefere tirar fotos das placas com os Bombeiros e o Cemit advertindo para o risco de ataques de tubarões. Virou uma marca do Recife, uma cidade que tem uma das mais belas praias urbanas do Brasil, mas que só é desfrutada pelos nativos, que procuram as áreas onde não há notícias recentes de ataques.

À medida que vai para o Sul, o risco aumenta, e mesmo nativos evitam entrar no mar também, respeitando as advertências. Virou um cartão postal onde o mar é apenas para ser visto de longe.

Isso não quer dizer que as pessoas não entrem na praia de Boa Viagem. Pelo conhecimento dos locais de ataques, os recifenses aprenderam a definir onde podem entrar na água e nadar. Sem se atrever a ir mais fundo, e muito menos ficar desatento.

Médico do SAMU que atendeu surfista atacado por tubarão fala sobre resgate

Talvez o município do Recife seja uma das cidades costeiras onde o ensinamento do melhor lugar de entrar no mar é se manter com a água pela cintura. Só que aqui é por temer ataques de tubarões.

Na tarde desta segunda-feira (20), na praia de Del Chifre, ao Norte do porto do Recife, foi registrado mais um incidente de tubarão com o surfista André Sthwart Luiz Gomes da Silva, de 32 anos.

A praia de Del Chifre é uma faixa de mar de difícil acesso e está localizada já no município de Olinda.

Levado pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) para o Hospital da Restauração, no Recife, Sthwart passou por uma cirurgia que durou quase seis horas e foi terminar perto da meia noite. "Ele também foi submetido a uma transfusão de sangue e seu quadro de saúde ainda é grave, embora estável", segundo o HR.

Laurindo Ferreira
Turistas não entram na água para tomar banho em Boa Viagem. Preferem tirar fotos nas placas de advertencia de ataques de tubarão. - Laurindo Ferreira

O incidente (é assim que as autoridades se referem aos encontros de pessoas com tubarões no mar) de Sthwart é mais um que se soma à lista de 69 pessoas que foram mordidas pelos tubarões quando entraram na água.

Em 10 de julho do ano passado, o auxiliar de serviços gerais Marcelo Costa Santos, 51 anos, foi mordido e morreu no mesmo dia. No dia 25, foi a vez de Everton Guimarães Reis, 32, que sobreviveu. Essa tem sido a rotina, que ano passado incluiu dois ataques de tubarão numa praia de Fernando de Noronha.

A recomendação para impedir banhistas de entrarem no mar foi feita por especialistas da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), acatada pelo Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (CEMIT), que existe há mais de 20 anos.

Mas até hoje, além das advertências e da colocação de placas na orla de Boa Viagem, pouco se avançou numa estratégia de enfrentamento da questão no sentido de, primeiro evitar esses incidentes, a seguir, identificar um modo seguro de permitir que as praias de Recife e Jaboatão dos Guararapes recebam banhistas.

O fato novo foi revelado na manhã desta terça-feira no programa Passando a Limpo, da Rádio Jornal, pelo pesquisador Jonas Rodrigues, engenheiro de pesca que atua com incidentes com tubarões pela Universidade Federal Rural de Pernambuco, UFRPE.

Surfista é mordido por tubarão na Praia Del Chifre, em Olinda

Segundo ele, a base de dados sobre ataques de tubarões parou de ser alimentada em 2014, quando o convênio da SDS através do Corpo de Bombeiros e a UFRPE foi suspenso. Isso quer dizer que, a despeito de todo o conhecimento acumulado desde os anos de 1990 pela universidade, no mínimo, estamos defasados por oito anos. 

Rodrigues acredita quem o conhecimento ainda é de grande utilidade. Mas ele admitiu que apesar de toda essa base de dados acumulada, ela nunca foi usada como fundamento científico para uma solução a ser desenhada pelo Governo de Pernambuco para convivência com essa realidade.

Na verdade, com o início dos incidentes com tubarão no litoral de Pernambuco - que registrou 66 entre 1992 e 2019 -, perguntas começaram a ser feitas pela comunidade científica. Por que aqui? Por quais espécies? Como evitar?

Por que aqui? Por quais espécies? Como evitar?

A necessidade de respondê-las rendeu uma parceria entre o Governo do Estado e a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). No famoso barco Sinuelo, pesquisadores tiveram conclusões cruciais para diminuir as ocorrências nas praias. No entanto, em 2014, o convênio não foi renovado, e o Estado parou de monitorar os peixes.

Em 2021, o projeto Megamar e o Navio Ciências do Mar IV reacenderam as esperanças de novas pesquisas. O Megamar foi idealizado pelo engenheiro de pesquisa e professor da UFRPE, Fábio Hazin. Infelizmente, Hazin faleceu em junho do ano passado por complicações da covid-19 e o projeto parou.

O braço foi financiado pelo Ministério da Educação e o projeto financiado pela diretoria de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Complexo de Suape, e ainda precisa ser reativado.

Mas em relação ao Recife, a questão continua. E as três perguntas: "Por que aqui? Por quais espécies? Como evitar?" ainda estão sem respostas.

Talvez agora, na administração Raquel Lyra, a questão dos ataques de tubarões possa ser abordada de forma propositiva.

Para que o turismo de visitação na praia de Boa Viagem não se limite apenas à contemplação da praia e às fotos das placas de advertência.

YACY RIBEIRO/ JC IMAGEM
Ciências do Mar IV é uma das quatro embarcações financiadas pelo Ministério da Educação (MEC) que deve atender aos alunos de oceanografia, engenharia de pesca e biologia marinha de todo o Nordeste - YACY RIBEIRO/ JC IMAGEM

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