Cenário econômico em Pernambuco, no Brasil e no Mundo, por Fernando Castilho

JC Negócios

Por Fernando Castilho
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Coluna JC Negócios

Governo usa seminário do BNDES para pressionar queda da Selic, mas mercado diz que, este ano, ela só baixa 1%

O seminário do BNDES e as reuniões do governo não poderiam ter recados mais claros aos diretores do BC que analisam as condições para manter, aumentar ou reduzir a Selic.

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Fernando Castilho

Publicado em 20/03/2023 às 17:20 | Atualizado em 20/03/2023 às 21:57
Presidente Lula com o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro da Casa Civil, Rui Costa. - Ricardo Stuckert

O Governo começava um seminário organizado em parceria com o Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) e com a Fiesp na sede do BNDES quando às 9h desta segunda feira(20), o Banco Central divulgava mais um de seus Boletim Focus com duas informações preocupantes para os palestrantes reunidos na sede do banco, no Rio de Janeiro: a previsão da inflação continua próxima de 6% (5,95%) e a estimativa da Selic para 2023 continua em 12,75%, portanto, apenas 1,25 ponto percentual dos atuais 13,75%.

A data do seminário foi escolhida em cima do calendário das reuniões que o BC divulga quando define a taxa básica de juros. Segunda e terça-feiras colado às datas quando BC reúne o Copom terça e quarta-feiras quando bate o martelo.

Em outra frente os ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e da Casa Civil, Rui Costa avaliaram a possibilidade de lançamento do novo regime fiscal junto com uma programa de retomada de Parcerias Público-Privadas (PPPs). Na periferia do debate, o PT e as centrais sindicais organizam protestos contra a alta taxa que a preços de hoje quer dizer um juro real de 8,15% ao ano.

O seminário do BNDES e as reuniões do governo não poderiam ter recados mais claros aos diretores do BC que analisam as condições para manter, aumentar ou reduzir a Selic. E não fossem eles estatutários sem que o presidente da Republica possa demiti-los, ninguém no mercado apostaria um real que ela não cairia, pelo menos, dois pontos percentuais.

Na prática, o BNDES, os economistas alinhados ao governo, a Fiesp e até o vice presidente e ministro do Desenvolvimento Econômico, Geraldo Alkmin repetem um discurso óbvio: a taxa e absurda, se tornou um fator de crise para a economia e já não mais se justifica porque se não temos inflação de demanda precisamos estimular a economia.

Faz sentido. Quem não deseja uma taxa de juros menor para acionar os motores da economia e assim gerar mais desenvolvimento?

O problema é que a febre da inflação não baixa. E mesmo que alguns analistas prescrevam que ela dever ser menor até o final do ano, o mercado não está indo na direção de baixar juros. Mesmo os americanos que enfrentam um taxa absurdamente alta (4,65% ao ano) para os padrões dos Estados Unidos não há indicação de baixa.

O BNDES está usando toda sua inteligência disruptiva para fortalecer o argumento de que não faz mais sentido o BC se manter na defesa da moeda e de considerar apenas o fator inflação para manter a taxa de 13,75% ao ano. Trouxe ninguém menos que o vencedor do Prêmio Nobel de Economia de 2001, Joseph Stiglitz para dizer que a taxa é absurda.

É mesmo. Mas a questão continua bem simples: O que o governo Lula está fazendo para ajudar em criar um cenário de organização mínima das contas públicas que permitam os investidores aceitarem um prêmio menor que a Selic na hora de emprestar dinheiro ao Governo?

Na verdade, todo o esforço do Governo e toda pressão em cima do Banco Central é muito naquela de que tem que baixar porque o governo Lula precisa ter as condições de fazer o país voltar a crescer e isso justifica uma queda nas taxas de juros.

O mercado não olha o problema desse jeito. Embora todos os analistas concordem que uma taxa de 13,75% é ruim até para emprestar para às empresas e assim remunerar o investidor. A verdade é que com a inadimplência, os bancos estão muito mais seletivos e o governo foi quem virou o maior tomador de crédito para financiar sua dívida.

O problema é que sem Lula dar sinais mínimos de que quer controlar as despesas, os bancos não aceitam prêmios menores quando o governo toma credito para financiar sua dívida. Porque ninguém na mesa de operações está interessado no que dizem Aloizio Mercadante, André Lara Resende e José Roberto Afonso quando esbravejam contra a Selic.

Então sobra para Fernando Haddad fazer alguma coisa concreta. Mas como no PT tudo é debatido em público com os seus integrantes atacando mais a si mesmo que os adversários, um simples apresentação d e um projeto do regime fiscal ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva vira um problema que o impediu de definir a questão.

Sabe-se que terminado encontro com Lula, o próprio ministro da Casa Civil, Rui Costa fez questão de dizer a auxiliares que ficou em silêncio durante toda a reunião num gesto de que desaprovava a proposta de |Haddad. No PT é assim. Primeiro se desmoraliza o companheiro para depois dizer que ele está prestigiado.

E como no mundo real da economia ninguém tem medo de cara feito do governo, a taxa de juros não baixa apenas porque o domador diz que ela está alta. Até porque não existe brabo liso. E o governo Lula é um governo liso, que só pode crescer fazendo fiado, naturalmente, pagando a taxa de juros que os bancos cobram. Ainda que façam um barulho danados nas ruas e nas redes sociais.

 

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