Cenário econômico em Pernambuco, no Brasil e no Mundo, por Fernando Castilho

JC Negócios

Por Fernando Castilho
castilho@jc.com.br
Coluna JC Negócios

Presidente da Fiesp abriu as portas do gabinete de Fernando Haddad receber a Shein que ele disse não conhecer

Josué levou o o vice-presidente executivo, Donald Tang; o chairman para a América Latina, Marcelo Claure; o CEO Brasil, Yuning Liu para uma reunião com Fenando Haddad.

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Fernando Castilho

Publicado em 22/04/2023 às 14:00
Josué Gomes com Fernando Haddad - FIESP

Dirigentes de entidades patronais brasileiras têm por hábito não falar de suas empresas quando estão à frente das instituições sindicais, federações e confederações. Faz parte do ritual do cargo falar do setor em nome dos grandes e dos pequenos associados. As coisas ficam mais fáceis quando eles já não estão mais na operação das suas empresas e, não raro, no caso de as federações sequer terem empresas ativas.

Não é o caso do presidente da Federação das Indústrias de São Paulo, José Gomes da Silva, presidente do Grupo Coteminas. Certamente a Fiesp mais influente entidade patronal do Brasil a despeito de não ter mais a mesma força que ostentou nos dois governos de Lula. Lula, aliás, sempre esteve perto da Fiesp por ser dirigente sindical no tempo que o ABC de São Paulo dominava o setor automobilístico.

Josué Gomes surpreendeu os dirigentes do setor industrial têxtil e de confecções nesta quinta-feira ao agendar, e ser prontamente atendido, uma conversa dos dirigentes da gigante asiática Shein, em São Paulo. Ele foi apresentar a empresa ao ministro que, numa entrevista por ocasião do anúncio de tributação de compras ate US$ 50, disse que conhecia a Amazon onde comprava livros e não a plataforma asiática.

Haddad agora conhece. E está tão impressionado com a empresa que se encarregou de passar para a imprensa a informação de que a Shein fara um investimento de US$ 750 milhões para integrar até 2 mil indústrias de confecções brasileiras à sua plataforma que gerariam 10 mil empregos.

A reunião de Haddad com representantes da Shein ocorreu na sede do Ministério da Fazenda, em São Paulo com o vice-presidente executivo, Donald Tang; o chairman para a América Latina, Marcelo Claure; o CEO Brasil, Yuning Liu; o líder de operações Brasil, Felipe Feistler; e a diretora de Relações com o Governo, Anna Lima e Josué Gomes.

Indústria de Confecções Brasil - Divulgação

Nenhum dirigente da Shein se dispôs a falar com jornalistas. Aliás a imprensa só soube que eles haviam estado em Brasília depois que saíram do prédio.

Mas a maior surpresa viria do presidente da Fiesp que, no mesmo dia confirmou que usou seu acesso ao governo Lula (ele recusou o convite para ser ministro do Desenvolvimento Econômico do Governo Lula cargo que acabou nas mãos do vice-presidente Geraldo Alkimin), para que Haddad recebesse os diretores da Shein.

Ele revelou que sua empresa, a Companhia de Tecidos Norte de Minas (Coteminas), havia assinado um memorando de entendimentos com a Shein prevendo que 2 mil dos clientes confeccionistas da sua empresa passem a ser fornecedores da companhia asiática numa parceria que também abrange o financiamento para capital de trabalho e contratos de exportação de produtos para o lar.

A informação pegou de surpresa não apenas os dirigentes do setor têxtil como de confecções e do Instituto do Desenvolvimento do Varejo que mostraram ao desinformado Haddad o estrago que as empresas asiáticas estavam fazendo no varejo brasileiro vendendo sem pagar nenhum R$ 1 de imposto.

Não há nenhum impedimento de uma empresa como a têxtil Coteminas conversar e fazer parcerias com empresas internacionais. Mas não deixa de ser inusitado que o dono da empresa use sua condição de dirigente de entidade empresarial para apresentar uma empresa ao governo depois que fechou um acordo com a companhia.

E mais ainda numa situação em que os empresários dos setor de confecções como Marisa, Riachuelo (Guararapes), Hering, Track and Field, Animale e Farm (Grupo Soma) C&A, Renner, Lis Blanc e da Dudalina (Restoque), para citar apenas as listadas em bolsa, estão sofrendo com a concorrência da Shein, Shoppe a Alibada.

Tem mais: Atualmente, o Brasil é referência mundial nesse assunto: hoje, somos o maior fornecedor de algodão responsável e o segundo maior exportador da fibra do mundo. Resumindo, a produção é tamanha que supre a demanda interna, enquanto outra parte é vendida a países que precisam, como China, Paquistão, Vietnã, Turquia e muitos outros. No fundo, a concorrência sem tributação ameaça o proprio setor textil.

POLO DE CONFECÇÕES Negócios no Agreste do Estado largaram na frente no quesito inovação - EDMAR MELO/ACERVO JC IMAGEM

Josué Gomes da Silva é filho de José Alencar, morto em 2011, vice do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nos seus dois primeiros mandatos, sempre foi do petista e tem se aproximado de Fernando Haddad.
Dirigentes empresariais diferentes dos de entidades sindicais não costumam expor diferenças.

Tanto que o presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), Fernando Pimentel, de forma geral, disse que a parceria intermediada pela Coteminas entre os confeccionistas nacionais e a Shein será positiva se os investimentos anunciados trouxerem novas tecnologias e modelos de negócios. Assim como o diretor executivo da Associação Brasileira do Varejo Têxtil (Abvtex), Edmundo Lima que preferiu dizer que sua entidade sempre buscou a aplicação da legislação já vigente no País. Hoje, a capacidade ociosa na produção de têxteis medida em setembro foi de 12,4% e para vestuário e acessórios em 14,8%.

As declarações educadas escondem uma profunda decepção com o Governo Lula pelo risco que a atuação das empresas chinesas em todo o parque industrial brasileiro de produção de vestuário e calçados.

O presidente do Instituto para o Desenvolvimento do Varejo (IDV), Jorge Gonçalves Filho, foi quem entregou um estudo sobre quadro criado com a importação disfarçada de remessa entre pessoas já causou ao mercado brasileiro.

O problema é que isso já refletiu no primeiro trimestre em centros de produção como o em Pernambuco que tem o maior polo têxtil do Brasil envolvendo 22 cidades, tendo como as principais, Santa Cruz Do Capibaribe, Toritama e Caruaru onde são gerados em torno de 300 mil empregos diretos e indiretos.

Ou de Nova Friburgo é considerada a Capital Nacional da moda íntima, pois nela estão presentes mais de 1.000 fábricas de lingerie, que juntas produzem cerca de 125 milhões de peças por ano. Além delas existem cidades mineiras como Juruaia considerada a capital da lingerie mineira ou Monte Sião Capital Nacional da Moda Tricô.

Existem ainda os polos do Ceará e de Goiânia, se tornou um polo atacadista de roupas com mais de 10 mil empresas de confecção a pouco mais de 200 km de Brasília.

No fundo, quando Josué Gomes da Silva está afirmando que vai colocar seus 2 mil dos clientes confeccionistas da sua empresa com a Shein, está jogando contra essas empresas para elas se submeterem às regras da empresa chinesa o que em termos de rentabilidade não é um bom negócio.

Na verdade, todas empresas de confecções brasileiras já estão sofrendo com a concorrência não tributada das plataformas chinesas assim como as gigantes que têm ações na Bolsa de Valores. Mas o que surpreende é o completo desconhecimento do governo Lula sobre o setor a despeito da Receita Federal já saber por onde o descaminho acontece.

Interior de uma fábrica fornecedora da Shein, em Guangzhou, na China - Foto: Getty Images

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