Os analistas de política, estudiosos de estatísticas e pesquisadores sociais ainda vão mergulhar nos dados da PNAD continua de 2022, mas uma constatação simples já é possível de ser feita além da que interpreta que a melhoria do mercado de trabalho e Auxílio Brasil permitiram a recuperação dos rendimentos no ano passado.
Os números mostram que, apesar de todo o esforço do governo Jair Bolsonaro em aumentar o valor do Auxílio Brasil, inicialmente de R$ 400 para R$ 600 no segundo semestre de 2022, teve influência próxima de zero na hora do voto, uma vez que o eleitor desconsiderou o novo nome e entendeu que aquele dinheiro era seu por direito e não por uma deferência do governo.
A maior evidência dessa percepção foi a votação do candidato do PT, Lula, no Nordeste, onde o que o IBGE chama, tecnicamente, de Recebimento do Programas Sociais do Governo, foi pago a 33,8% dos domicílios. Esse percentual é mais de cinco vezes o de lares na Região Sul (6,35%), aonde Bolsonaro teve seus melhores resultados.
Os números dos IBGE mostram que nem mesmo a geração de 2.026 milhões de empregos no ano, segundo dados do Caged, (22,707 admissões contra 20,680 demissões) aumentou o apoio ao presidente. Embora isso tenha, de fato, ajudado, a melhoria do rendimento médio mensal real domiciliar per capita chegou a R$ 1.586, com alta de 6,9% frente a 2021, quando registrou o menor valor (R$ 1.484) da série histórica iniciada em 2012.
O material do IBGE é uma cisterna cheia de números para futuras pesquisas sobre como o aumento da renda em 2022 não significa melhoria da percepção de melhoria de vida da população. Em 2022, a massa do rendimento mensal real domiciliar per capita subiu 7,7% ante 2021, chegando a R$ 339,6 bilhões em 2022.
Segundo o quadro geral da PNAD, o percentual de pessoas com rendimento na população do país subiu de 59,8% em 2021 para 62,6% em 2021. O rendimento médio real de todas as fontes cresceu 2,0% frente a 2021 e chegou a R$ 2.533 e de 2021 para 2022, a massa do rendimento mensal real de todos os trabalhos subiu 6,6%, indo para R$ 253,1 bilhões.
Tudo bem, mas quando se observa na série histórica, no ano 2022 - quando a nível nacional se chegou a 16,9% - o número é quase igual a 2012, quando 16,6 % dos domicílios sobreviviam com o dinheiro do governo. No Nordeste, que em 2022 tinha 33,8% dos domicílios recebendo ajuda, em 2012 foi de 34,8%.
Na verdade, a região Nordeste segue com menor rendimento médio mensal domiciliar per capita (R$ 1.011), enquanto a Sul tem o maior (R$ 1.927). E a desigualdade de rendimentos até diminuiu no conjunto da população e também na população ocupada. Mas o Sudeste em 2022 ainda concentrava 51,2% da massa de rendimento do País. E o rendimento médio mensal real da população residente com rendimento só subiu porque o Governo injetou fortemente dinheiro na economia através dos programas sociais.
Esse é um quadro recorrente no Brasil, aonde hoje 13,9% da composição do rendimento médio mensal domiciliar (22,2% no Nordeste) já vem de aposentarias e pensões e 20,3% (34,1%) vem do que o IBGE chama de outras fontes que incluem os programas sociais.
No fundo, a pesquisa do IBGE mostrou que há indicações de migrações para um benefício mais vantajoso durante a pandemia, ou decorrer de eventuais dificuldades dos informantes da pesquisa em identificar corretamente qual benefício recebiam.
De qualquer forma, o percentual de pessoas com algum tipo de rendimento na população do país subiu de 59,8% em 2021 para 62,6% em 2022. E houve crescimento em todas as regiões, com o Sul tendo a maior estimativa (67,0%), enquanto o Norte, a menor (55,9%).
Assim como também cresceu o percentual de pessoas com rendimento de todos os trabalhos, indo de 41,1% em 2021, para 44,5% em 2022, o que evidencia o aumento de ocupação no país. Mas o fato apenas evidencia o desafio do governo em gerar mais renda o que diante no novo quadro de empregabilidade com a explosão dos Microempreendendores Individuais MEIs não quer dizer, necessariamente, mais emprego.