A sabedoria política ensina que até para dar notícia ruim, é preciso ter sorte. O governo Lula teve uma sorte extraordinária na manhã desta terça-feira (15), quando, às 8h31, o País sofreu um apagão poucos minutos antes de a Petrobras anunciar um novo reajuste nos preços da gasolina e do óleo diesel.
A Petrobras fazia 90 dias que não reajustava os preços do óleo diesel. A última vez que a companhia mexeu nas tabelas foi no dia 17 de maio. No caso da gasolina, o período era a metade (45 dias) quando a companhia anunciou um reajuste no dia 1º de julho.
A falta de reajuste dos combustíveis da estatal brasileira provocou um movimento de paralisação das importações de derivados das empresas privadas do setor de modo que a Petrobras acabou sendo nesse período a única importadora. Foi a maneira de o abastecimento não ser comprometido. Embora a empresa estivesse pagando mais caro pelos derivados que importava.
Segundo as empresas privadas, a defasagem média chegou a -24% no Óleo Diesel e a -24% para a Gasolina até o dia 14 de agosto.
Essa tabela gerou uma forte especulação sobre as contas da Petrobras, especialmente em função dos preços do petróleo. Em três meses, o preço do barril saiu de US$ 75,82, para chegar em 10 de agosto a US$ 89,75.
Investidores começaram a questionar a Petrobras se a insistência em não reajustar os preços não estava erodindo a rentabilidade da empresa. Tudo caminhava para o anúncio ser o tema de um intenso debate, afinal, no governo Lula, reajuste de combustível virou um tabu.
APAGÃO MUDOU O FOCO DE ATENÇÃO
Mas um apagão mudou o foco do noticiário da notícia ruim da gasolina e diesel. Efetivamente, o apagão que ocorreu às 8h31 e às 14h49 foi novamente constatado. E não é muito comum um apagão derrubar todo o sistema. E aí ninguém mais falou do reajuste da gasolina e do diesel. Nas dimensões das plataformas, o tema reajuste teve 10% de apagão.
Era tudo que a Petrobras queria. Exatamente na manhã em que a companhia anunciou que a partir de amanhã (16/08) vai aumentar em R$ 0,41 por litro o seu preço médio de venda de gasolina A para as distribuidoras, que passará a ser de R$ 2,93 por litro. Para o diesel, a Petrobras aumentará em R$ 0,78 por litro o seu preço médio de venda de diesel A para as distribuidoras, que passará a ser de R$ 3,80 por litro.
Considerando a mistura obrigatória de 73% de gasolina A e 27% de etanol anidro para a composição da gasolina comercializada nos postos, a parcela da Petrobras no preço ao consumidor será, em média, R$ 2,14 a cada litro vendido na bomba.
Considerando a mistura obrigatória de 88% de diesel A e 12% de biodiesel para a composição do diesel comercializado nos postos, a parcela da Petrobras no preço ao consumidor será, em média, R$ 3,34 a cada litro vendido na bomba.
Problemas num sistema elétrico como o do Brasil não são um evento fora do normal. O sistema de transmissão do Brasil tem 180 mil quilômetros de linhas. Até pela dimensão, é perfeitamente previsível que, em algum momento, os sistemas de redundância falhem. Isso aparentemente aconteceu nesta terça.
O problema é que o governo, especialmente o Ministério de Minas e Energia, optou por politizar a questão, ocupando todos os espaço e esquecendo o impacto negativo dos reajustes.
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, se apressou a dizer nas redes sociais que determinou o restabelecimento imediato do fornecimento, como se isso fosse uma consequência de sua atitude e não existisse o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), que cuida disso automaticamente.
Operoso, Silveira se apressou em, ao voltar da posse do novo presidente do Paraguai, montar um gabinete de crise o qual, quando se reuniu, o sistema de fornecimento já estava funcionando desde às 14h49.
É importante entender que apagões por falha do sistema são fatos decorrentes da própria dinâmica do setor. A interrupção no Sul e no Sudeste foi uma ação controlada para evitar a propagação da ocorrência.
E o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) confirma que hoje, dia 15 de agosto, às 8h31min, houve uma ocorrência no Sistema Interligado Nacional (SIN), que provocou a separação elétrica das regiões Norte e Nordeste das regiões Sul e Sudeste/Centro-Oeste, com abertura das interligações entre essas regiões. Houve pelo menos a perda de 18.900 MW de energia.
O ONS também iniciou ação conjunta com os agentes para restabelecer a energia nas regiões. A normalização das cargas da região Sul foi concluída às 9h05min e nas regiões Sudeste/Centro-Oeste, às 9h33min. O SIN foi 100% recomposto às 14h49min.
O que chama a atenção não foi a resposta da eficiência do ONS, mas o exagero do ministro Alexandre Silveira em se mostrar operoso quando o desligamento acabou sendo mais uma demonstração de como o país pode responder.