O índice de 4,62% no ano passado está bem abaixo dos 5,79% de 2022 e mais ainda de 2021 quando a inflação chegou a 10,06%, ultrapassando a meta do BC de 3,25%, com margem de tolerância de 1,5 ponto, para mais ou para menos.
Dessa forma o presidente Lula começa o seu terceiro governo cumprindo a meta de inflação embora a redução possa ser atribuída em boa parte aos efeitos da pandemia (2021) e por ação política do presidente Jair Bolsonaro (2022) na tentativa de reeleição.
No seu último ano de governo, Jair Bolsonaro tentou baixar artificialmente a inflação com a redução da tributação dos combustíveis. O efeito de baixa ainda impacta a taxa de três meses da inflação de 2023 embora a taxa tenha se mantido abaixo da meta.
Na prática, essa pode ser considerada a maior vitória de Lula no primeiro ano de seu terceiro governo quando as práticas fiscais foram claramente no sentido de mais gastos públicos e aumento das despesas comprimidas em 2022.
Em dezembro de 2023 o grupo dos Transportes (0,48%), teve o resultado foi influenciado pelo aumento nos preços das passagens aéreas (8,87%), subitem com a maior contribuição individual (0,08 p.p.) no índice do mês.
Mas a notícia boa é que agora regulado pelo mercado todos os combustíveis (-0,50%) pesquisados registraram queda de preços. O óleo diesel (-1,96%), etanol (-1,24%), gasolina (-0,34%) e gás veicular (-0,21%).
Ainda segundo o IBGE o resultado de 2023 foi influenciado principalmente pelo grupo Transportes (7,14%), que teve o maior impacto (1,46 p.p.) no acumulado do ano.
Ao conseguir fechar o ano com a inflação dentro da meta fiscal o governo começa o segundo ano em condições bem mais favoráveis para manter-se dentro dela em 2024 como prevêem todos os analista de mercado a despeito do aumentos de preços de produtos exportáveis como petróleo, minérios, soja, milho e algodão que estão como sinalização de aumento neste ano.
De qualquer forma é importante se observar que mesmo com aumento de gastos como aconteceu no primeiro ano do novo governo a taxa de inflação sob controle é certamente um avanço extraordinário como garantia do poder compra das famílias. Especialmente as que perderam o emprego.
Este ano será completado 30 anos do advento do Plano Real, a melhor experiência de combate à inflação na América do Sul.
O real foi criado no governo Itamar Franco, em 1994, para resolver uma das maiores crises inflacionárias do mundo. Na época das maquininhas de remarcar, os preços chegavam a subir três mil por cento ao ano no Brasil. E veio depois que os governos Sarney e Collor tentaram, sem sucesso, acabar com a inflação herdada dos militares.
O truque dos economistas foi criar em fevereiro uma espécie de dólar virtual, a URV, Unidade Real de Valor. A roda-viva dos preços continua corroendo o cruzeiro, mas não atinge a URV. Em julho, a URV perdeu as letras U e V, permanecendo o R, de real. A nova moeda nasceu sem a doença da hiperinflação.
O real começou a circular em 1º de julho de 1994, mas para entender seu sucesso é necessário voltar para 1993, quando o plano começou a ser desenhado. A inflação medida pelo IPCA em junho de 1994 foi de 47,43%. No mês seguinte, o índice já havia caído para 6,84%.
A primeira fase do Plano Real buscou o equilíbrio das contas do governo e começou ainda em 1993. A segunda fase foi marcada pela utilização de uma moeda escritural (ou virtual), a Unidade Real de Valor (URV), utilizada a partir de 1º de março de 1994, junto com o cruzeiro real. A terceira fase começou em 1º de julho, quando a URV foi transformada no real, uma moeda stricto sensu.
No ano passado, numa apresentação do presidente do BC Roberto Campos Neto disse que os brasileiros mais jovens têm o privilégio de jamais ter vivido os tempos difíceis da hiperinflação, o que talvez faça a conquista da estabilidade passar despercebida. Porém, é necessário rememorá-la como processo de conhecimento do passado e como caminho de aprimoramento do futuro.
E que a principal contribuição que a política monetária pode dar é a inflação baixa e estável, objetivo cumprido com os recentes resultados na meta para a inflação. A estabilidade de hoje não existiria sem o pontapé inicial dado em 1º de julho de 1994, quando o Real chegou ao público.