Uma pesquisa da Gênero e Número, uma plataforma de mídia independente que produz, analisa e dissemina dados especializados em gênero, raça e sexualidade em diferentes formatos revela que a desigualdade de renda é uma das principais causas da insegurança alimentar, mas não é a única.
Fatores como a sobrecarga de trabalho e a falta de acesso a creches também influenciam na fome que ronda os lares liderados por mulheres negras.
Lançado em março de 2024, Caminhos da Alimentação é um projeto que acompanhou a rotina de quatro mulheres negras chefes de família de Pernambuco para retratar as complexidades que influenciam o que chega à mesa delas, que representam o maior grupo demográfico do Brasil.
Esse é o caso de Conceição Mendes, 42 anos, uma das mulheres negras chefes de famílias acompanhadas pelo projeto Caminhos da Alimentação. Sua única renda são R$ 700 do programa Bolsa Família - que até pouco tempo eram R$600.
Conceição diz sobra apenas R$ 150 para pagar a parcela do barraco onde mora e mais R$ 135 para comprar fraldas e remédios para dois de seus três filhos, de quem cuida sozinha. O que sobra é destinado à compra de alimentos - em sua maioria ultra-processados - na barraquinha próxima a sua casa.
Segundo a diretora de conteúdo da Gênero e Número e uma das coordenadoras do projeto, Vitória Régia da Silva o objetivo é compreender como essa variedade contrasta com um imaginário social fora do Nordeste, que associa a região à fome e à pobreza”,
“Ainda que famílias chefiadas por mulheres negras do Nordeste sejam as principais impactadas pela insegurança alimentar, a região tem uma cultura alimentar rica em alimentos in natura ou minimamente processados, que compõem a maior parte da cesta (55%), enquanto alimentos ultra-processados a menor (14%)” diz.
Um dos achados da pesquisa Caminhos da Alimentação: o que chega à mesa das mulheres negras, realizada pela Gênero e Número, em parceria com a FIAN Brasil e com o apoio do Instituto Ibirapitanga é que o cotidiano alimentar e de vida delas foi transformado em dados, que revelam que a segurança e a insegurança alimentar entre as mulheres negras envolve diversos fatores sociais, como sobreposição de jornadas de trabalho, renda, acesso a transporte e saúde.
A partir do levantamento e da análise de grandes e pequenas bases de dados, entrevistas com especialistas e das histórias de Gercina, Claudecir, Conceição e Lindalva, queremos posicionar as mulheres negras nordestinas no centro do debate pelo acesso à comida de verdade.
“Buscamos humanizar esses dados e reforçar a importância que a perspectiva de gênero, raça e território não deve ser um recorte, mas a base das políticas públicas de combate à fome no nosso país”, destaca Vitória Régia da Silva, diretora de conteúdo da Gênero e Número e uma das coordenadoras do projeto.
Em Pernambuco, 55%, ou seja, mais da metade das famílias chefiadas por mulheres negras sofrem com a insegurança alimentar, de acordo com a última Pesquisa de Orçamento Familiar publicada pelo IBGE (2017/2018).
Com linguagem gráfica, conteúdo audiovisual, pesquisas, relatórios e reportagens multimídia, informam uma audiência interessada no assunto para impulsionar o debate sobre equidade e embasar discursos de mudança.