Em um país de muitos leitores que leem pouco, a estruturação do ambiente de negócios para o surgimento e a permanência de livrarias já foi assunto mais consensual. Enquanto a Lei Cortez demora a ser posta em prática – o projeto da lei vai completar uma década no ano que vem – as livrarias enfrentam cada vez mais as condições desfavoráveis de um mercado virtualizado. A lei estipula que o preço do lançamento, definido pela editora, deve permanecer por 12 meses, com desconto máximo de 10% nesse período. O que é bem diferente do que se vê atualmente. Além dos descontos inviáveis para os pontos físicos de comercialização de livros, oferecidos por portais de comércio eletrônico como a Amazon, as próprias editoras estão aumentando a presença na internet, e escolhendo a venda direta ao consumidor, em alguns casos juntando, aos descontos, outros atrativos, a exemplo de brindes para os consumidores.
Em recente evento do mercado editorial, um painel sobre a Lei Cortez reuniu o presidente da Associação Nacional das Livrarias (ANL) do Brasil, Alexandre Martins Fontes, e Guido Cervetti, da Big Sur, distribuidora de livros na Argentina, onde uma lei semelhante vigora há 23 anos. Aos que criticam a proposta de legislação brasileira como tabelamento de preços, Cervetti rebateu: “Nunca falamos sobre um preço fixo. O editor define o preço. E o editor tem todo o direito de alterar o preço. Você pode vender o livro quantas vezes quiser, mais caro ou mais barato, e o que a lei faz é regulamentar que o preço de venda seja o mesmo para todos”, explicou, segundo matéria publicada no Publishnews. Em seguida, o argentino apontou o que considera a raiz do problema: a atitude de “cada um por si” que enxerga no preço um elemento de competição. No país vizinho, relata Cervetti, a lei é defendida por todos, pequenos ou grandes participantes do mercado. Ele também se referiu à existência de legislação específica para os livros na Espanha, na França e na Alemanha. “Competir apenas pelo preço não é liberalismo, não é capitalismo. A verdadeira competição e o verdadeiro capitalismo ocorrem quando há muitos jogadores jogando e o mercado é regulado”, afirmou.
Mais livrarias nas ruas
Alexandre Martins Fontes vem questionando a postura de editores no Brasil, que se comportam, em sua visão, no sentido oposto à consciência coletiva vista entre os argentinos. O presidente da ANL, que também é editor da WMF Martins Fontes, em resposta a um texto do colunista Walter Porto, na Folha de S. Paulo, sobre a questão, ressaltou que luta por mais livrarias nas ruas das cidades brasileiras, e pela preservação do ecossistema do livro, em um mercado ao mesmo tempo forte e saudável. “Defendo, sempre defendi, e sempre defenderei o direito das editoras venderem seus livros através dos seus sites. Não é uma contemporização. É uma posição política e filosófica. Todo o catálogo da WMF Martins Fontes está à venda no nosso site. À venda pelos preços que nós estabelecemos”, garante. “Não há nenhuma controvérsia no que estamos falando. Não quero e nunca quis “parar o tempo”. Tenho trabalhado, única e exclusivamente, por um mercado profissional, organizado e, acima de tudo, ético”.
Em entrevista para o jornal Valor, também há poucos dias, o fundador da Livraria da Travessa, Rui Campos, declarou ser 100% a favor da Lei Cortez. “São os livros novos que pagam as contas das livrarias e atraem multidões, e não os antigos, que vendem a um ritmo de duas ou três unidades por mês”, disse, acrescentando que sem essa receita o mercado caminha para o monopólio e o empobrecimento cultural.
O debate acirrado é sinal de um cenário em transformação que precisa ser melhor compreendido por todos – inclusive os leitores, que compram os livros. Mas a necessidade crucial das livrarias como lugar de encontro privilegiado para a dinâmica social que impulsiona a cultura coletiva e a visão crítica dos indivíduos, deve ser um ponto de partida para qualquer consenso a que se deseje chegar.
Nelly Carvalho
Pernambuco de luto com o falecimento da escritora, professora e pesquisadora Nelly Carvalho, uma das referências da linguística no Brasil, com obras publicadas também em outros países. Em nota oficial, Lourival Holanda, presidente da Academia Pernambucana de Letras (APL), da qual Nelly Carvalho fazia parte, afirmou tratar-se de “uma perda irreparável para os meios universitários e intelectuais do nosso estado”.
“Gentil, sempre pronta a ensinar”
Para o professor Anco Márcio Tenório Vieira, integrante do Conselho Editorial da Cepe e professor do PPGL/UFPE, o Brasil perde uma das maiores autoridades no campo da linguística; particularmente, sobre neologismo. “Quando elenco os cinco mais importantes professores que tive ao longo da vida, sempre coloco Nelly Carvalho nesse pequeno e seleto grupo dos que construíram a minha sensibilidade e o pouco que aprendi e sei. Gentil, sempre pronta a ensinar (quantas vezes liguei para a sua casa para tirar uma dúvida, e recebi uma aula), tomada de uma curiosidade permanente sobre os fatos e os feitos humanos, Nelly fará falta. Porém, nós, alunos e leitores dos seus livros e artigos, guardaremos sempre um pouco do seu espírito e do seu saber. Essa é a verdadeira imortalidade”.
Mestra da linguagem
Para a escritora e professora Geórgia Alves, que também foi sua aluna, Nelly Carvalho “conseguia com habilidade fazer qualquer jornalista gostar da língua portuguesa. Mesmo os mais resistentes à rigidez das normas. Conciliava exigências da gramática com a inflexão da linguagem usual, necessária ao Jornalismo”.
Palavras, textos e discursos
A generosidade na partilha do ensino fez muitos amigos, como o professor Robson Teles, professor na Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP). “Nelly sempre foi uma pessoa muito generosa comigo. Além de me abrir oportunidades profissionais quando eu era um jovem recém-formado, emocionou-me ao me dizer que ficava orgulhosa e tranquila por saber que os netos dela eram meus alunos em Redação e em Literatura, no Ensino Médio. Tê-la homenageado na XXI Semana de Estudos Linguísticos e Literários da UNICAP foi um justo reconhecimento à contribuição acadêmica que proporcionou a todos que tivemos a oportunidade de aprender com ela. Entre palavras, textos e discursos, Nelly sempre presente”.
Liceu das vozes
A Livraria do Jardim recebe o lançamento do novo livro de poemas de Estêvão Machado neste domingo, a partir das 10h da manhã, no Recife. “O liceu das vozes” é uma publicação da Urutau. “O que trago em temas e formas poéticas é o deslocamento de uma visão tecnicista e unitária para uma reordenação de nossos aprendizados/exercícios: todos lastros das nossas convivências e formas de vida diversas”, escreveu o autor sobre sua obra. No evento deste domingo, Estêvão Machado conversa sobre o livro com Juliana Costa, do Instagram @coisasqueleio, antes da sessão de autógrafos. Siga o autor na mesma rede social em @este_vaom.
Vínculo fantasma
Será nesta segunda, 10, na Livraria da Vila da Fradique Coutinho, em São Paulo, o lançamento de “Vínculo fantasma – Os relacionamentos voláteis da atualidade”, de Tatiana Paranaguá. Além das relações afetivas, a mestre em Psicologia Clínica e professora da Casa do Saber “também reflete sobre as manifestações da imaturidade nas mais diversas esferas”, segundo a divulgação da Editora Record, que publica a obra. “Na parentalidade, o abandono é um sintoma recorrente. Já no trabalho, por exemplo, o imaturo resiste às autoridades e não se adequa às exigências naturais da vida adulta”. Antes dos autógrafos, a autora conversa com Adriana Coelho, a partir das 7 da noite. No Rio de Janeiro, o evento de lançamento será no próximo dia 19, na Livraria da Travessa do Leblon, com a participação de Julia Mayra, no mesmo horário.
Oficina com Saulo Ribeiro
O escritor, dramaturgo, roteirista e editor Saulo Ribeiro, fundador da editora Cousa, do Espírito Santo, estará em Pernambuco esta semana, a convite do projeto Arte da Palavra, do Sesc, para ministrar duas oficinas sobre “Editoras independentes: modos de fazer”. A primeira edição será no Recife, nesta terça e quarta, no Sesc Santo Amaro. E a segunda, no Sesc Ler em Surubim, na quinta e na sexta. Outras informações no site www.sescpe.org.br.
Podcast em papel
O podcast Rádio Novelo Apresenta é a base da nova coleção de plaquetes do selo Janela + Mapa Lab. “As plaquetes são pequenas brochuras em formato impresso e são uma forma democrática de fazer circular ideias”, diz Camila Perlingeiro, editora da Mapa Lab. A coleção reúne os episódios preferidos dos ouvintes do podcast. “Estamos animadas com a possibilidade de trazer para os fãs uma nova experiência leitora”, conta a editora. O bate-papo de lançamento dos 12 volumes será nesta quinta, 13, com a apresentadora Branca Vianna e a equipe do programa, na Janela Livraria do Shopping da Gávea, no Rio de Janeiro, a partir das 7 da noite.
Plano do Livro do Recife
Nesta quinta, 13, das 8h às 5 da tarde, acontece no Compaz Ariano Suassuna, no Recife, a reunião ampliada para escuta e discussão de propostas para o Plano Municipal do Livro, Leitura, Literatura e Biblioteca (PMLLLB) previsto na Política Municipal do Livro e de Incentivo à Cultura da Leitura, e no programa Recife Cidade Leitora. Podem participar do encontro mediadores de leitura, escritores, editores, bibliotecários, livreiros e produtores culturais.
Em busca de um recomeço
Escritor aos 11 anos, Guilherme Campos Mendonça irá lançar seu primeiro livro na Academia Pernambucana de Letras (APL), no sábado, 15. Publicado pela Faz & Conta, com ilustrações de Padma Sarina, “Em busca de um recomeço” narra um futuro próximo, onde a escrita foi substituída por um chip nos humanos. A aceitação da novidade é geral, menos para o menino Matheus, que percebe a falta que faz a escrita e assume a responsabilidade de mostrar a diferença entre os seres humanos e as máquinas. O evento de lançamento integra a programação do Sempre aos Sábados, atividade mensal da APL, voltada para a ampliação do público leitor e o incentivo a novos talentos literários. Antes da sessão de autógrafos, haverá debate do autor com acadêmicos, e com a editora Bruna Maciel Borges. A partir das 3 da tarde, na sede da entidade, no Recife.
Contos de 20 autores
A editora Nauta faz o lançamento de coletânea de contos de 20 autores no sábado, 15. As histórias reunidas trazem lirismo, humor, mistério e filosofia. O evento será na Ria Livraria, em São Paulo, às 18h. Acesse www.editoranauta.com.br e saiba mais.
Mitologia grega
A Academia Cearense de Letras recebe no sábado, 15, o lançamento dos “Contos da Mitologia Grega”, de Grecianny Cordeiro, pela Caravana Grupo Editorial. Autora de dois romances sobre a Guerra de Tróia, adotados nas escolas do Ceará, Grecianny Cordeiro promove a releitura de histórias de deuses, semideuses, mortais e heróis, mostrando a presença da mitologia dos gregos em nosso cotidiano. O evento de lançamento começa às 10h da manhã, na sede da entidade, em Fortaleza.
Raízes de junho
A Feira Literária de Campina Grande (FLIC) deu início ao projeto Raízes de Junho, com o objetivo de indicar diariamente, nas redes sociais, um livro de autor paraibano, durante os 30 dias de festividades juninas. São “obras de escritores e escritoras paraibanos de variados gêneros e gerações”, diz o coordenador do evento, Stellio Mendes. Entre as indicações já feitas, estão Lua Lacerda, com “Ultramar”, Marília Arnaud com “Liturgia do fim”, Jennifer Trajano com “Latíbulos” e Ana Daviana com “Essa mundana gente”, título recém-lançado pelo selo Auroras da Penalux. Acompanhe em @flicfeira no Instagram.
Fora do padrão
Os editores Paulo Floro e Dandara Palankof, da antologia "Fora do Padrão: 40 Anos de Quadrinhos LGBTQIA+", estiveram na capital paulista para o lançamento da obra na POC Con, no Centro Cultural São Paulo (CCSP). A antologia organizada pelo quadrinista Justin Hall, dos Estados Unidos, traz “um panorama das HQs criadas nas últimas décadas por artistas fora da cis-heteronormatividade”, de acordo com os editores.
Noite da poesia
A União Brasileira de Escritores de Mato Grosso do Sul (UBE-MS) e a Prefeitura de Campo Grande promovem o concurso literário da 36ª Noite da Poesia, com a distribuição de R$ 20 mil em prêmios – R$ 5 mil para o primeiro lugar, R$ 3 mil para o segundo e R$ 2 mil para o terceiro, em duas categorias: autores sul-mato-grossenses e nacionais. Inscrições gratuitas, de apenas um poema de até 40 versos por pessoa, podem ser feitas até 30 de junho. A premiação está marcada para 31 de agosto. Mais informações pelo site www.ubems.org.br.
Relato de leitura
A escritora e jornalista Isabella de Andrade, idealizadora do @elasnaescrita, faz um belo relato de reencontro com um livro e sua leitura.
“Vim passar uns dias na casa da minha mãe e encontrei “O livro amarelo do Terminal” (Cosac Naify) nas estantes. Fui transportada para a época em que li a Vanessa Bárbara (@vmbarbara no Instagram) pela primeira vez, coisa que os livros sabem fazer muito bem, aliás, viagens no tempo. Eu era estudante de jornalismo na UnB e tinha escolhido o curso (como muita gente) porque amava escrever e queria trabalhar com isso de alguma forma. Queria que a escrita fosse parte ativa da minha vida. Em pouco tempo percebi que ser jornalista envolvia muito mais do que escrever. Mas fui feliz, ainda que faltasse algo, um ponto de equilíbrio ideal onde o tal jornalismo tivesse um encaixe mais perfeito com as possibilidades de escrita que eu buscava na universidade.
Ainda nos primeiros semestres algum professor indicou esse livro na biografia. Um livro reportagem. Foi o primeiro que li desse tipo e acompanhei bem maravilhada o cotidiano da Vanessa em horas a fio de pesquisa, observação, entrevistas e ouvidos atentos no Terminal Rodoviário Tietê, que na época era totalmente estranho pra mim. As páginas amarelas se desenrolavam entre personagens diversos, idas e vindas, causos e a instabilidade rica em narrativa e movimento desses lugares passageiros. Então era isso! Era realmente possível ser uma jornalista que vivia de buscar e contar histórias, era possível escrever de um jeito envolvente, fantástico e até humorado através da observação da realidade. No livro amarelo entendi que as histórias estão postas, basta saber capturar”.