Desde que adotei minha gatinha, há quase um ano, recebo diariamente questionamentos acerca do porquê não a deixo passear pelas ruas, como se fosse uma maldade mantê-la entre quatro paredes. Afinal, deixá-los livres é uma prática comum, e você sempre vai ouvir relatos de pessoas que criam felinos dessa forma há décadas. E claro que a pergunta tem um motivo sólido: os gatos têm de fato uma natureza exploradora. Mas será que esta é a forma mais segura e saudável de criá-los?
Para escrever sobre essa polêmica, ouvi diversos veterinários ou especialistas em comportamento animal, e, por mais que tenha procurado uma opinião profissional contrária, todas foram a mesma: é mais seguro impedir que os gatos saiam de casa. Fora, eles podem enfrentar perigos diversos como atropelamento, maus tratos, podem cruzar, brigar com outros animais ou até mesmo voltar com doenças. O posicionamento é compartilhado, inclusive, pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV).
A veterinária comportamentalista Aina Bosch é enfática ao dizer que o livre acesso à rua não só não é indicado, como também não é fundamental para o bem-estar dos gatos, “desde que a casa ou apartamento onde ele vive tenha recursos de enriquecimento ambiental para a espécie”. “Caso se trate de um filhote, pode ele pode ser ensinado a desenvolver passeios com coleira e guia junto ao tutor, de forma segura”, sugere.
Para quem mora em casa, todavia, mantê-los presos fica mais difícil. A dica da veterinária Karina Melo, então, é que, nesse caso, alguns cuidados sejam tomados. “É importante que eles sejam castrados, pois acasalam com facilidade. As vacinas também devem estar em dia, de preferência a quíntupla, pois os imuniza contra a FIV/FELV. Também é necessário levá-lo ao veterinário dermatologista com frequência para examinar se ele contraiu alguma doença de pele, como fungos, de algum outro gato ou de outra espécie”.
A advogada Rhayssa Flores, uma das administradoras da página Gatinhos Urbanos, conta que constantemente recebe críticas por só aprovar a doação dos felinos caso o acesso à rua seja proibido. “Em nosso questionário perguntamos se o adotante mora em casa ou apartamento, se há redes de proteção e se animal tem acesso à rua. Quando dizem que tem acesso, não doamos. Só doamos animais para que se mantenham dentro de casa. Explicamos o risco das ruas, mas muitos nos criticam. Vira e mexe algumas pessoas reclamam em nosso Instagram”, contou.
"Quando uma pessoa decide ter um felino em sua família, ele é o tutor, não o dono. E deve ser o guardião desse animal - devendo garantir a integridade física dele. Animais com acesso livre à rua estatisticamente vivem menos", pontuou Aina. Com filhos humanos, fazemos o possível para proteger sua saúde e integridade física, ainda que seja com medidas que vão contra a vontade deles. Por que não ter o mesmo cuidado com os "filhos" de quatro patas?
Dicas de enriquecimento ambiental dentro de casa
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