Embora os números sejam completamente diferentes dos apresentados pelos Rodoviários, a estatística oficial mostra uma redução de 46% nas investidas contra os ônibus da RMR. Fotos: JC Imagem
Muitos passageiros vão ler essa notícia com desconfiança, principalmente três dias depois de mais um registro na linha TI Xambá/Príncipe, em Sítio Novo, Olinda, quando o coletivo com 50 passageiros foi assaltado e um deles chegou a ser agredido com um tapa no rosto. Mas ela precisa ser dita: os assaltos a ônibus estão tendo redução na Região Metropolitana do Recife. E a queda é expressiva. Além disso, tem sido consecutiva: 46,06% de janeiro a julho de 2018 comparando com o mesmo período de 2017. Antes de mais nada é importante destacar que a base de dados é a oficial, ou seja, da Secretaria de Defesa Social de Pernambuco (SDS). E que ela é bem diferente dos números levantados informalmente pelo Sindicato dos Rodoviários – que, embora também tenha confirmado uma redução, traz números até três vezes maiores do que os apresentados pelo governo do Estado. A queda oficial vem sendo registrada há onze meses, desde setembro de 2017, quando o Estado começou a esboçar, de fato, uma reação à explosão da violência no transporte coletivo do Grande Recife, verificada desde meados de 2016. Foi nessa época que lançou nas ruas a Força-Tarefa Coletivos. E, pelos cálculos da SDS, essa redução se manterá neste mês de agosto. É claro que o sentimento de quem utiliza os ônibus diariamente, especialmente nos horários fora do pico e à noite, continua sendo de medo e, em muitos casos, de verdadeiro terror. Mas os dados oficiais confirmam a queda.
Não negamos que está havendo uma redução sim, mas ainda não temos o que comemorar. Mil e quinhentos assaltos em sete meses é muita coisa. A violência está generalizada e o governo de Pernambuco precisa investir muito mais nas ações de combate aos assaltos porque os ladrões migram de um ponto para outro. Além disso, o Estado não contabiliza o verdadeiro número de investidas. Quando a renda dos veículos não é levada e apenas os passageiros são roubados, não há registro do assalto”, Genildo Pereira, do Sindicato dos Rodoviários
Vamos a eles. Segundo a SDS, de janeiro a julho de 2018 foram registrados 528 assaltos aos ônibus do Grande Recife. Já no mesmo período de 2017, quando a violência no transporte público estava no ápice, havia registro de 979 investidas. Tendo como base o total de 26 mil viagens realizadas diariamente pelos quase três mil ônibus em operação, a SDS anuncia que os índices representam uma média de duas a três investidas por dia. “É como se a chance de um ônibus em circulação na RMR ser assaltado fosse de 0,007%. É muito pouco, mas mesmo assim para nós tem importância. Ninguém aqui está comemorando essa redução. Ainda é muito, mas é uma demosntração clara de que o Estado tem trabalhado forte e permanentemente para reduzir a violência no transporte público. São onze meses de queda nos assaltos a ônibus. Temos registrado essa redução desde que a Força-Tarefa Coletivos foi lançada, no fim de agosto de 2017. No mês seguinte, setembro, começamos a verificar a redução”, afirmou o secretário-executivo de Defesa Social e coordenador da Força-Tarefa Coletivos, Humberto Freire.
Os números do Sindicato dos Rodoviários de Pernambuco, entretanto, passam bem longe da estatística oficial do governo do Estado, embora também confirmem uma redução das investidas. Para a entidade que representa os motoristas, cobradores e fiscais de ônibus, aconteceram 2.338 assaltos entre janeiro e julho de 2017 e 1.523 no mesmo período de 2018. O que significa uma queda de 34,85%. “Não negamos que está havendo uma redução sim, mas ainda não temos o que comemorar. Mil e quinhentos assaltos em sete meses é muita coisa. A violência está generalizada e o governo de Pernambuco precisa investir muito mais nas ações de combate aos assaltos porque os ladrões migram de um ponto para outro. Além disso, o Estado não contabiliza o verdadeiro número de investidas. Quando a renda dos veículos não é levada e apenas os passageiros são roubados, não há registro do assalto”, argumenta Genildo Pereira, da direção do sindicato.
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A confiabilidade dos dados da categoria, entretanto, é questionada pela forma como são coletados. O sindicato não quis informar à reportagem como chega a essa estatística, dizendo apenas que ela é feita pelos próprios rodoviários. Mas após o sindicato ser questionado oficialmente pela SDS sobre a forma de contabilizar as investidas, a metodologia foi informada. As ocorrências são obtidas em visitas diárias que representantes do sindicato fazem no sistema, por ligações, email, whatsapp e mensagens de SMS. É um registro realizado à parte pela entidade de classe. A reportagem teve acesso ao ofício de resposta dos rodoviários enviada à SDS.
“Nós não podemos fazer estatística dessa forma. Só podemos trabalhar com a queixa formal, registrada oficialmente pela polícia. Reconhecemos que podem haver falhas, registros a menos e, por isso, temos insistido constantemente com as empresas de ônibus para que registrem qualquer assalto que aconteça. Na semana passada publicamos uma portaria exatamente para reforçar a decisão do Conselho Superior de Transporte (CSTM), do fim de 2016, orientando a todos os operadores que as ocorrências sejam comunicadas à polícia mesmo quando a renda do ônibus não for levada. O passageiro tem o direito de exigir que o motorista e o cobrador façam o registro e ele deve fazê-lo também. Temos estimulado, inclusive, que os operadores usem o sistema Delegacia pela Internet, fazendo a queixa online. Mas esse registro é fundamental.
Não podemos trabalhar com casos que não se confirmam, apenas via whatsapp, por exemplo”, rebate Humberto Freire. Os rodoviários, entretanto, argumentam que a determinação da SDS para que as queixas sejam prestadas de toda forma, mesmo quando não há o roubo da renda do coletivo, não é cumprida na prática. “Os motoristas e cobradores não vão tirar o veículo da viagem e lavá-lo para a delegacia nesses casos. Não fazem porque as empresas não deixam. Os operadores ganham por viagem realizada e levar um ônibus para uma delegacia signifca perder todas as viagens do dia”, alerta Genildo Pereira. Apesar da redução da violência no transporte público, a SDS não quis informar se as linhas, corredores, dias e horários que até o fim de 2016 lideravam o ranking dos assaltos a ônibus mudaram com as ações da Força-Tarefa Coletivos. “São informações confidenciais e estratégicas da polícia”, desconversou o secretário-executivo.
Até o fim de 2016 e início de 2017, quando aconteceu a explosão dos assaltos a ônibus – uma média de 8 a 11 investidas por dia –, a reportagem do JC conseguia ter acesso ao detalhamento das investidas e fez diversas reportagens mostrando que as linhas, corredores, dias e horários das investidas eram os mesmos há pelo menos um ano. Depois essas informações começaram a ser negadas à imprensa. Até o fim de 2016, antes de a SDS assumir a gestão sobre os assaltos a ônibus, a imprensa tinha acesso aos dados, que revelavam as linhas, corredores, horários e dias que tinham mais registros:
ALERTA CELULAR
A ampliação do programa Alerta Celular também tem contribuído, na avaliação da SDS, para inibir os roubos em coletivos. Entre janeiro e julho de 2018, as polícias apreenderam 3.575 aparelhos, 501% a mais do que no mesmo período de 2017. Só em julho deste ano, foi possível reaver 485 telefones. A prisão de assaltantes de ônibus também têm ajudado. Foram 161 suspeitos presos de janeiro a julho deste ano, sendo 22 somente no mês passado.