POR ROBERTA SOARES, DA COLUNA MOBILIDADE
Tudo dentro do previsto. Como era temido, os rodoviários começaram a ser demitidos pelas empresas de ônibus que operam o transporte por ônibus da Região Metropolitana do Recife (STPP/RMR) devido à vertiginosa queda de demanda de passageiros provocada pela pandemia do coronavírus. Duzentos profissionais foram demitidos entre a segunda-feira (30/3) e a manhã desta terça (31/3) somente na empresa Transcol, que opera na Zona Norte da capital. Das onze empresas que atuam no sistema, dez teriam promovido demissões. A expectativa é de que pelo menos 60% do quadro de profissionais do sistema percam os empregos. E, dessa vez, motoristas e cobradores querem que o governo de Pernambuco intervenha.
A categoria está desesperada e implora ao Estado - gestor do sistema de transporte por ônibus - que se envolva no processo. Que não assuma, mais uma vez e como tem feito ao longo dos anos, uma postura de isenção diante das demissões. Que não alegue, novamente, tratar-se de uma relação privada, entre patrões e empregados. São motoristas, cobradores, fiscais e mecânicos afastados das funções porque as empresas de ônibus alegam não ter como manter o quadro com uma queda de demanda entre 74% e 75%, e tendo que manter parte da frota de coletivos nas ruas por ser um serviço essencial.
"Temos tentado trazer o governo do Estado para o processo desde que soubemos da situação. Sabemos que o setor empresarial lamenta as perdas há 30 anos e que há um pouco de exagero nas ações. Que podem estar tirando proveito da pandemia para demitir o trabalhador e reduzir o quadro. Eles já vêm fazendo isso com a dupla função e a retirada dos cobradores. Mas de fato sabemos que há uma crise e que algo precisa ser feito. Mas dessa vez queremos que o Estado participe, nos ajude a encontrar uma solução que não prejudique apenas o trabalhador. Que faça o empresário enxergar isso. Os rodoviários não podem pagar por isso", defende o presidente do Sindicato dos Rodoviários de Pernambuco, Aldo Lima.
As informações ainda não são oficiais, mas além das demissões da Transcol, a empresa Vera Cruz - opera no Sul do Recife e da RMR - teria demitido 230 profissionais na manhã desta terça. A Caxangá, que roda na Zona Norte da capital e em Olinda, no Grande Recife, teria afastado outros 270 motoristas, cobradores, fiscais e mecânicos. Além delas, a Globo, Itamaracá, Borborema, Rodotur, Cidade Alta e Pedrosa - esta última do mesmo grupo da Transcol - também fizeram demissões. Ou seja, praticamente todo o sistema promoveu e está promovendo demissões. A RMR tem hoje cerca de 15 mil rodoviários, dos quais 13 mil, aproximadamente, são funções diretas da operação de transporte: motoristas, cobradores e fiscais.
O Sindicato dos Rodoviários vinha tentando sentar com os empresários e o governo de Pernambuco juntos desde a semana passada, sem sucesso. Teve apenas reuniões com o setor empresarial, sem a participação do Estado.
REUNIÃO COM O GOVERNO DE PERNAMBUCO
Diante da repercussão das demissões dos rodoviários, o governo de Pernambuco informou, por email oficial, que irá discutir o processo com os rodoviários em reunião prevista para acontecer na tarde desta terça-feira (31/3).
"A Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação (Seduh) e o Grande Recife Consórcio de Transportes (CTM) tiveram conhecimento, na manhã desta terça-feira (31), do movimento iniciado pelas empresas de ônibus que resultou na demissão de profissionais do transporte público. A secretaria e o consórcio estão acompanhando as medidas tomadas pelo setor privado e farão parte do debate por uma solução.
Na tarde desta terça-feira (31), os representantes da Seduh e do Grande Recife receberão integrantes do Sindicato dos Rodoviários para debater medidas que possam minimizar os cortes e construir alternativas para o setor. A Seduh reforça que o enfrentamento a esse problema é um desafio nacional, encarado por todos os estados da federação, sobretudo nas capitais. As discussões vêm ocorrendo em âmbito nacional e estão sendo analisadas pelo governo federal".
ARGUMENTOS DOS EMPRESÁRIOS
O Sindicato das Empresas Transportadoras de Passageiros (Urbana-PE) também se posicionou sobre a situação. Em resumo, diz que está demitindo agora para tentar demitir menos no futuro, enquanto durar a pandemia. Que as dificuldades enfrentadas não têm precedentes na história do setor, com perda de passageiros superior a 75% da demanda. Que, como o transporte é mantido prioritariamente pela tarifa paga pelo passageiro, a situação ficou insustentável. E que tentou acordos com os rodoviários, sem sucesso. Confira o posicionamento - o primeiro do setor desde que a crise do coronavírus começou:
"A Urbana-PE esclarece que o Sistema de Transporte Público de Passageiros da Região Metropolitana do Recife (STPP/RMR) enfrenta um quadro de dificuldades sem precedentes em sua história. A redução da demanda de transporte por ônibus já passa de 75% face às medidas impostas de isolamento social para conter a disseminação da covid-19. Esse cenário de crise repercute diretamente na operação do serviço, uma vez que o modelo de custeio atualmente adotado depende, quase que exclusivamente, da quantidade de passageiros transportados e da arrecadação tarifária.
Buscando manter a prestação de um serviço essencial à sociedade e preservar os postos de trabalho de seus empregados, especialmente de motoristas e cobradores, o setor buscou o entendimento junto ao Sindicato dos Rodoviários de Pernambuco, ao longo de quatro encontros nos últimos dias, com a finalidade de celebrar ajustes temporários e emergenciais para evitar a redução do seu quadro de pessoal, como já ocorreu em várias cidades por todo o País, não se tendo, entretanto, chegado a nenhum acordo. Solicitou também apoio ao governo federal, através da entidade nacional representativa da classe, apresentando propostas para medidas temporárias e emergenciais, tais como: subvenção e apoio financeiro complementar à arrecadação; fornecimento de óleo diesel direto pelas distribuidoras a preço de custo; auxílio para pagamento de parte dos salários dos funcionários fora dos planos de operação com vistas à manutenção dos postos de trabalho.
Infelizmente, diante da falta de resposta das entidades competentes, impôs-se a real incapacidade de as empresas honrarem com seus compromissos. Diante deste cenário, o setor foi obrigado a tomar decisões difíceis e adotar medidas temporárias de ajuste, tanto no seu quadro de pessoal, como no cronograma de pagamento a fornecedores, visando evitar o iminente colapso do STPP/RMR.
A Urbana-PE reitera que as empresas têm adotado as orientações do poder público para conter a disseminação do Covid-19, assegurando o nível de serviço estabelecido pelo órgão gestor e adequado às orientações das autoridades sanitárias. Estamos buscando incessantemente soluções e confiantes de que serão encontradas alternativas compatíveis com os desafios enfrentados neste momento".
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