Coluna Mobilidade

Demissões de motoristas e cobradores de ônibus seguem sem solução. Governo de Pernambuco vai se reunir com empresários nesta quarta

As demissões estão acontecendo em massa. Das onze empresas que operam o transporte por ônibus da RMR, pelo menos dez teriam promovido demissões. E a expectativa é de que pelo menos 60% do quadro de profissionais percam os empregos por causa da queda de demanda, agora superior a 75%

Roberta Soares Roberta Soares
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Publicado em 31/03/2020 às 20:45 | Atualizado em 01/04/2020 às 11:24
WELLINGTON LIMA
Motoristas e cobradores de ônibus começam a ser demitidos devido à pandemia do coronavírus. Garagem da Transcol com a frota praticamente parada - FOTO: WELLINGTON LIMA

POR ROBERTA SOARES, DA COLUNA MOBILIDADE

A agonia dos motoristas, cobradores e fiscais de ônibus da Região Metropolitana do Recife demitidos nesta terça-feira (31/3) devido à crise provocada pela pandemia do coronavírus vai durar ainda mais. Representantes dos rodoviários estiveram reunidos com o governo de Pernambuco na tarde desta terça-feira (31/3) para tentar reverter as demissões da categoria, mas nada de concreto foi definido. Ao contrário. Uma nova reunião, agora entre o Estado e os operadores, está programada para acontecer na tarde desta quarta-feira (1º/4). As demissões estão acontecendo em massa. Das onze empresas que operam o transporte por ônibus da RMR (STPP/RMR), pelo menos dez teriam promovido demissões. E a expectativa é de que pelo menos 60% do quadro de profissionais percam os empregos por causa da queda de demanda, agora superior a 75%.

Não esperava. Acreditei no discurso do governo de que os trabalhos seriam preservados. O que percebemos é que o setor empresarial está se aproveitando da crise para, rapidamente, demitir muitos profissionais de uma só vez. E o curioso é que são muitos cobradores.
Ana Margareth, cobradora demitida

As informações ainda não são oficiais, mas a quantidade de demissões impressiona. Duzentos profissionais foram dispensados somente na empresa Transcol, que opera na Zona Norte da capital. A empresa Vera Cruz - que atende o Sul do Recife e da RMR - teria demitido 230 profissionais. A Caxangá, que roda na Zona Norte da capital e em Olinda, no Grande Recife, teria afastado outros 270 motoristas, cobradores, fiscais e mecânicos. A Empresa Metropolitana, do mesmo grupo da Caxangá, teria promovido outras 250 demissões. Além delas, a Globo, Itamaracá, Borborema, Rodotur, Cidade Alta e Pedrosa - esta última do mesmo grupo da Transcol - também fizeram demissões. Ou seja, praticamente todo o sistema promoveu e está promovendo demissões. A RMR tem hoje cerca de 15 mil rodoviários, dos quais 13 mil, aproximadamente, são funções diretas da operação de transporte: motoristas, cobradores e fiscais. O setor empresarial não quis informar o total de demissões e o Estado disse não ter conhecimento.

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movecidade - kmelo

"Na tarde desta terça-feira (31), representantes da Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação (Seduh), do Grande Recife Consórcio de Transportes (CTM), da Procuradoria Geral do Estado e da Secretaria de Desenvolvimento Social, Criança e Juventude receberam integrantes do Sindicato dos Rodoviários para discutir as demissões dos profissionais do transporte público devido à crise causada pelo novo coronavírus. A discussão continua amanhã (1º/4), desta vez com representantes do Sindicato das Empresas de Passageiros (Urbana-PE). O objetivo desses encontros é construir alternativas para o setor, preservando ao máximo os empregos desses profissionais. Vale ressaltar que é uma crise sem precedentes, enfrentada por todos os estados brasileiros. As discussões vêm ocorrendo em âmbito nacional e estão sendo analisadas pelo governo federal", foi tudo que o governo disse numa nota oficial.

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O Estado, mesmo sendo o gestor do STPP/RMR, não costuma se envolver nas batalhas travadas entre rodoviários e empresários. Mas dessa vez e diante do cenário crítico de crise, motoristas e cobradores exigiram que o governo de Pernambuco intervisse no processo. Que não usasse, como historicamente o fez, o argumento de que se trata de uma relação privada, entre patrões e empregados. Até porque, dessa vez, o número de demissões foi algo nunca visto no sistema. Desesperados com a situação e para tentar revertê-la, o Sindicato dos Rodoviários está pedindo que a população ajude a categoria. "A Urbana-PE se aproveita da crise causada pela pandemia do novo coronavírus para demitir, retirar direitos e, consequentemente, ampliar seus lucros. Pedimos a solidariedade da população, dos movimentos sindicais e sociais de todo o País para ajudar os rodoviários de Pernambuco. Solicitamos que todos enviem e-mails para o governador Paulo Câmara (governo@governadoria.pe.gov.br) exigindo que o mesmo suspenda a demissão dos rodoviários. Precisamos fazer um apelo ao governo de Pernambuco, responsável direto pela gerência do sistema de transporte coletivo, que cumpra um papel importante para evitar que sejam concretizados os planos de demissão em massa apresentados pelos donos das empresas de ônibus", apelaram os sindicalistas.

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Quem perdeu o emprego está assustado e revoltado. "Não esperava. Acreditei no discurso do governo de que os trabalhos seriam preservados. Estava indo trabalhar e, mesmo com a operação reduzida, estávamos lá, todos os dias. O que percebemos é que o setor empresarial está se aproveitando da crise para, rapidamente, demitir muitos profissionais de uma só vez. E o curioso é que são muitos cobradores. Têm motoristas, mas a maior parte são cobradores, categoria que eles já vêm tirando dos veículos há muito tempo. Não estou desesperada porque vou receber o seguro desemprego, mas não é justo que os rodoviários paguem essa conta", desabafou uma das cobradoras demitidas da Caxangá, Ana Margareth, 53, há 14 anos na empresa. Nas demissões, os argumentos são a calamidade pública decretada pelo poder público e a crise econômica provocada pela perda de receita.

O Sindicato das Empresas Transportadoras de Passageiros (Urbana-PE) se posicionou sobre a situação por nota oficial. Em resumo, disse que está demitindo agora para tentar demitir menos no futuro, enquanto durar a pandemia. Que as dificuldades enfrentadas não têm precedentes na história do setor, com perda de passageiros superior a 75% da demanda. Que, como o transporte é mantido prioritariamente pela tarifa paga pelo passageiro, a situação ficou insustentável. E que tentou um acordo com os rodoviários, sem sucesso. Os empresários pernambucanos têm silenciado sobre a crise desde o começo, posicionando-se apenas nesta terça-feira (31/3), após a repercussão das demissões em massa. Em compensação, os representantes nacionais do setor vêm fazendo alertas sobre as conseuqências da crise desde a primeira semana do isolamento social determinado no País. Em conjunto com o Fórum Nacional de Secretários e Dirigentes Públicos de Mobilidade Urbana e a ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos), o programa propõem que o Governo Federal destine R$ 2,5 bilhões por mês para aquisição de créditos eletrônicos de passagens, enquanto perdurar a crise da pandemia. As entidades, apoiadas pela Frente Nacional de Prefeitos (FNP), defendem o valor como sendo necessário para equilibrar custos e receitas no setor e manter funcionando o mínimo do transporte público por ônibus.

Confira o posicionamento da Urbana-PE - o primeiro do setor desde que a crise do coronavírus começou:

"A Urbana-PE esclarece que o Sistema de Transporte Público de Passageiros da Região Metropolitana do Recife (STPP/RMR) enfrenta um quadro de dificuldades sem precedentes em sua história. A redução da demanda de transporte por ônibus já passa de 75% face às medidas impostas de isolamento social para conter a disseminação da covid-19. Esse cenário de crise repercute diretamente na operação do serviço, uma vez que o modelo de custeio atualmente adotado depende, quase que exclusivamente, da quantidade de passageiros transportados e da arrecadação tarifária.

Buscando manter a prestação de um serviço essencial à sociedade e preservar os postos de trabalho de seus empregados, especialmente de motoristas e cobradores, o setor buscou o entendimento junto ao Sindicato dos Rodoviários de Pernambuco, ao longo de quatro encontros nos últimos dias, com a finalidade de celebrar ajustes temporários e emergenciais para evitar a redução do seu quadro de pessoal, como já ocorreu em várias cidades por todo o País, não se tendo, entretanto, chegado a nenhum acordo. Solicitou também apoio ao governo federal, através da entidade nacional representativa da classe, apresentando propostas para medidas temporárias e emergenciais, tais como: subvenção e apoio financeiro complementar à arrecadação; fornecimento de óleo diesel direto pelas distribuidoras a preço de custo; auxílio para pagamento de parte dos salários dos funcionários fora dos planos de operação com vistas à manutenção dos postos de trabalho.

Infelizmente, diante da falta de resposta das entidades competentes, impôs-se a real incapacidade de as empresas honrarem com seus compromissos. Diante deste cenário, o setor foi obrigado a tomar decisões difíceis e adotar medidas temporárias de ajuste, tanto no seu quadro de pessoal, como no cronograma de pagamento a fornecedores, visando evitar o iminente colapso do STPP/RMR.

A Urbana-PE reitera que as empresas têm adotado as orientações do poder público para conter a disseminação do Covid-19, assegurando o nível de serviço estabelecido pelo órgão gestor e adequado às orientações das autoridades sanitárias. Estamos buscando incessantemente soluções e confiantes de que serão encontradas alternativas compatíveis com os desafios enfrentados neste momento".

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Não esperava. Acreditei no discurso do governo de que os trabalhos seriam preservados. O que percebemos é que o setor empresarial está se aproveitando da crise para, rapidamente, demitir muitos profissionais de uma só vez. E o

Ana Margareth, cobradora demitida
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BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM
Passageiros não têm conseguido cumprir a distância recomendada pelas autoridades sanitárias - FOTO:BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM
BOBBY FABISAK/JC IMAGEM
A Secretaria Municipal de Transportes (SMTR) informou, em nota, que aplicará multas contratuais no valor de R$ 16 milhões a cada um dos consórcios envolvidos nos acidentes - FOTO:BOBBY FABISAK/JC IMAGEM

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