Por Roberta Soares, da Coluna Mobilidade
Vamos direto ao ponto. Não é novidade para ninguém que vive o setor de transportes que a luta contra a retirada de cobradores e, principalmente, a dupla função dos motoristas seriam as principais bandeiras da nova direção do Sindicato dos Rodoviários de Pernambuco. Direção que, além de nova, chega com sangue nos olhos – vamos definir assim – para o novo mandato de cinco anos. E tanta vontade tem uma justificativa. Após cinco anos de espera e muita, muita ansiedade para retomar o patrimônio político que construiu junto à categoria, Aldo Lima assumiu no fim de 2019 a direção da entidade. Somada a essa espera, um longa luta para destituir do cargo – quase vitalício – o presidente que por 33 anos comandou a entidade, Patrício Magalhães. Vencido todos esse obstáculos, finalmente ele chega ao cargo que por pelo menos uma década se preparou para ocupar.
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Verdade seja dita: cinco anos atrás, quem derrubou Patrício Magalhães foi Aldo Lima e o Conlutas, grupo social-político que o criou e lapidou por alguns anos. Benilson Custódio, o último presidente dos motoristas e cobradores, foi quem assumiu o comando da entidade, mas quem o elegeu foi a figura e as conexões que Aldo Lima construiu com a categoria. Quem viveu o processo concordará com essa leitura. Agora, o jogo virou e a virada foi grande. Aldo venceu a eleição e, ao estilo Conlutas, já está fazendo as reivindicações da categoria terem peso, serem ouvidas. A estratégia de mini-assembleias que o sindicato vem promovendo nas garagens – começando pelas empresas onde o novo presidente tem maior influência (Caxangá e Metropolitana, do empresário Paulo Chaves Júnior) – confirmam. Entre a posse, em dezembro, até agora, já ocorreram pelo menos cinco protestos da categoria pela Região Metropolitana do Recife que impactaram na rotina da cidade.
E no embalo com que as mudanças operacionais estão sendo promovidas pelo Governo do Estado no Sistema de Transporte Público da Região Metropolitana do Recife (STPP) não faltam razões para os rodoviários pararem a cidade. Já são 215 linhas de ônibus (o sistema tem 390, ou seja, mais da metade) operando sem cobrador e 1.264 motoristas acumulando a função, complicada na maioria das situações, de dirigir, receber dinheiro e passar troco. Os dados são oficiais, do Consórcio de Transporte Metropolitano (CTM), nome oficial do Grande Recife Consórcio de Transporte. Não vamos aqui entrar na discussão sobre o caminho sem volta que é a retirada dos cobradores e a substituição das formas de pagamento por tecnologia – realidade mundial e também nacional. A questão é que o processo tem sido extremamente rápido e sem transparência.
Para se ter ideia, em novembro de 2019 eram 126 linhas de ônibus operando sem cobrador e 346 motoristas acumulando função na Região Metropolitana do Recife. O crescimento impressionante desses números é o principal estimulante da nova direção dos rodoviários. E mesmo que o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros (Urbana-PE) garanta que não demite os profissionais e que a dupla função está validada num acordo coletivo com a categoria desde 2018 – argumentos referendados pelo Estado, é importante destacar –, motoristas e cobradores não querem mais a negociação. Alegam que ela foi referendada numa assembleia equivocada e direcionada pela antiga direção.
Assim sendo, estamos diante de um grande entrave, apoiado por muitos passageiros que sofrem com a ainda insuficiente rede de vendas dos créditos do VEM, por exemplo. Ou seja, preparem-se: os protestos dos rodoviários farão parte da nossa rotina a partir de agora. Talvez sejam amenizados com a proximidade das eleições municipais, já que Aldo Lima se candidatou em outras disputas e poderá trilhar o mesmo caminho este ano. Aguardemos.
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