Demissões de motoristas e cobradores de ônibus da Região Metropolitana do Recife seguem sem reversão. Desempregados relatam drama

Apesar de o governador Paulo Câmara ter afirmado que situação seria revertida, empresários e trabalhadores não chegaram a um acordo até agora
Roberta Soares
Roberta Soares
Publicado em 07/04/2020 às 20:32
Três mil motoristas e cobradores de ônibus foram demitidos na Região Metropolitana do Recife devido à pandemia do coronavírus Foto: Foto: Diego Nigro/JC Imagem


POR ROBERTA SOARES, DA COLUNA MOBILIDADE

Motorista de ônibus da empresa Cidade Alta há sete anos, Paulo Henrique da Silva teve que se esconder sob esse nome fictício por medo de sofrer represálias ao dar entrevista. Ele é um dos três mil rodoviários que foram demitidos ou comunicados da dispensa na Região Metropolitana do Recife na semana passada, quando as onze empresas que operam o Sistema de Transporte Público de Passageiros (STPP) promoveram a demissão em massa da categoria sob o argumento de que a perda de 75% da demanda de passageiros as impedia de manter o quadro de trabalhadores. Paulo, assim como os outros motoristas, cobradores, fiscais e mecânicos, tem passado necessidade nos últimos dias. Não consegue sequer fazer feira para alimentar os dois filhos e a esposa. Saiu da empresa sem nada: sem salário e sem rescisão. Por sorte, tem a casa da mãe para fazer as refeições. A angústia dele é a mesma de todos, que têm visto o tempo passar e as promessas do governo de Pernambuco de que a situação seria revertida se perderem no vento.

"Foi tudo muito rápido. No dia 31/3 me informaram o término do meu contrato e me mandaram para casa. Sem direito a salário, sem tíquete-alimentação, sem garantia de nada. Sou casado, tenho dois filhos, pago prestação de uma casa própria e estou passando muita dificuldade. Não consigo sequer fazer a feira para alimentar a minha família " - Motorista de ônibus demitido

“Ninguém esperava que isso fosse acontecer dessa forma. Foi tudo muito rápido. No dia 31/3 me informaram o término do meu contrato e me mandaram para casa. Sem direito a salário, sem tíquete-alimentação, sem garantia de nada. Sou casado, tenho dois filhos, pago prestação de uma casa própria e estou passando muita dificuldade. Não consigo sequer fazer a feira para alimentar a minha família. Minha sorte é a minha mãe. Estamos nos alimentando na casa dela. Mas se as empresas não voltarem atrás, não sei o que será de mim”, lamenta Paulo Henrique. E a situação segue sem qualquer definição. Pelo menos até agora.

De pouco adiantou a declaração em vídeo do governador Paulo Câmara, na sexta-feira (3/4), de que teria conseguido reverter as demissões da categoria. Em sua fala, o governador afirmou ter convencido o setor empresarial a rever as dispensas. Quatro dias depois, entretanto, a situação permanece a mesma. Conversas têm acontecido entre os sindicatos dos empresários e dos rodoviários, às vezes mediadas por representantes do governo de Pernambuco, mas sem que haja acordo. Segundo o Sindicato dos Rodoviários – o único a se posicionar diariamente sobre o assunto –, os empresários de ônibus têm defendido a redução de 70% da jornada de trabalho e de 40% dos salários por três meses, as opções mais extremistas que a Medida Provisória 936 do governo federal oferece. Além disso, teriam defendido que o acordo tenha validade por mais três meses após o fim da situação de calamidade provocada pela pandemia do coronavírus.

O entendimento está tão difícil que até o Ministério Público do Trabalho (MPT) resolveu ser mais paciente com a situação, mesmo tendo sido ignorado pelo Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Pernambuco (Urbana-PE). No dia em que poderia ter decidido por judicializar as demissões em massa, o MPT convocou uma segunda audiência por vídeo, dessa vez em caráter de urgência, para esta quarta-feira (8/4), às 10h. “A Urbana não se manifestou acerca da proposta feita pelo MPT, tampouco veio aos autos para requerer o que entendesse pertinente. Seria razoável concluir pelo desinteresse na mediação por parte da entidade, e que ela havia mantido as demissões havidas, o que nos levaria à declaração de malogro da mediação e a adoção de providências outras. Contudo, para que não paire dúvidas acerca da relevante questão, que tanto tem angustiado a categoria obreira, e num esforço final para concluir esta mediação, designo audiência, em caráter de urgência, a fim de tratar da questão”, afirma o procurador do Trabalho José Laízio, que acompanha o caso.

A urbana-PE, que representa as empresas operadoras do sistema de ônibus, não participou de uma videoconferência de conciliação marcada para a sexta-feira (3/4) porque estaria discutindo o assunto com o governo de Pernambuco. O MPT deu um prazo até a segunda-feira (6/4) para ter um posicionamento, sendo ignorado pela entidade. O sindicato patronal tem se posicionado muito pouco sobre o caso. No sábado (4/4) divulgou uma nota que pouco dizia. Informava apenas que tinha participado de uma videoconferência com o governador Paulo Câmara e que estava empenhada em tentar resolver a situação. Além disso, que iria procurar os rodoviários para buscar um acordo. Depois do vídeo de Paulo Câmara, o governo de Pernambuco também tem silenciado.

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