Mesmo com todo o Estado de Pernambuco entrando na etapa 10 do plano de convivência com a covid-19 - a penúltima antes da fase azul, considerada o “novo normal” - o transporte público da Região Metropolitana do Recife seguirá sem ampliação de oferta. Ou seja, não haverá mais ônibus nas ruas. O governo de Pernambuco e o setor operacional já avisaram que, sem o retorno dos passageiros, o sistema seguirá com 71% da frota de coletivos em operação.
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Atualmente, a demanda está em 60% do total de passageiros transportados antes da pandemia. Eram 1,2 milhão de passageiros catracados (aqueles que passam nas catracas, mesmo que tenham gratuidade) no dia 9 de março e, no dia 7 de outubro, foram 759 mil. Por isso, seria impraticável financeiramente disponibilizar mais coletivos para a população. Porque, para fazê-lo, o Estado teria que cobrir o custo da diferença entre receita e despesa, o que não está nos planos.
“Não temos como. Já estamos conseguindo ofertar uma frota 10% maior do que a demanda. Queríamos estar disponibilizando 20%, mas não conseguimos. A perda de passageiros foi muito grande, chegamos a transportar 300 mil pessoas num dia útil. E segue sendo. Houve uma melhora, mas ainda é pouco”, argumenta o diretor de Operações do Grande Recife Consórcio de Transporte Metropolitano (CTM), André Melibeu. Sendo assim, a situação de lotação dos ônibus nos horários de pico também permanecerá, já que a frota não será ampliada.
Nem mesmo a retirada dos cobradores de ônibus - autorizada em massa pelo governo de Pernambuco para tentar equilibrar o sistema - tem sido suficiente. Segundo Melibeu, há uma redução de custos de aproximadamente 6% e tem sido graças a ela e às MPs de garantia do emprego e renda do governo federal que está sendo possível ofertar uma frota de ônibus 10% maior do que a demanda de usuários.
PREVISÃO RUIM
E a perspectiva é a pior possível. Não há sequer previsão de quando e se um dia a demanda de passageiros voltará ao que era antes da pandemia, forçando a retomada total do serviço. Ou seja, talvez nunca a frota volte a operar 100%. Atualmente, o Sistema de Transporte Público de Passageiros da RMR (STPP) está com 32 linhas desativadas das 399 que operavam antes da pandemia.
“Talvez nunca volte. Talvez demore um bom tempo ainda. É preciso considerar os novos hábitos da sociedade: trabalho em home office, o desemprego provocado pela pandemia e a redução de jornada que força um rodízio de equipes, por exemplo. Isso já está impactando diretamente o transporte coletivo”, analisa Marcelo Bandeira, diretor de Inovação da Urbana-PE, o sindicato das empresas que operam o sistema. O setor empresarial, inclusive, fala numa perda de receita de R$ 343 milhões entre março e outubro de 2020, o equivalente a 52% de redução.
SEM ESTUDANTE
Segundo Marcelo Bandeira, nem mesmo a retomada gradativa das aulas presenciais nas redes de ensino pública e privada provocaram um impacto positivo. “O aumento de passageiros não chegou sequer a 1%. E por várias razões: a rede pública não voltou totalmente, a privada pode voltar, mas os alunos optaram pela aula remota, e a grande maioria não usa o sistema de transporte público”, lamenta.
AJUDA TRAVADA
Como o governo de Pernambuco não tem recursos para ampliar o aporte que faz, anualmente, no transporte da RMR - R$ 250 milhões em subsídios diretos e em isenções ao setor -, a expectativa de todos se voltou para o projeto de lei que prevê o repasse de R$ 4 bilhões da União aos municípios com mais de 200 mil habitantes e também aos estados e ao Distrito Federal para garantir o serviço de transporte público coletivo de passageiros devido à pandemia de covid-19. O Projeto de Lei 3364/20, do deputado Fabio Schiochet (PSL-SC), foi aprovado em agosto na Câmara Federal e seguiu para análise do Senado, onde permanece sem qualquer previsão.
METRÔ VIVE O MESMO
A situação do Metrô do Recife é parecida com a dos ônibus, com a diferença que as contas do sistema não fecham há décadas, sendo cobertas pelo governo federal. Segundo a Superintendência da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) em Recife, a Linha Centro tem transportado apenas 151 mil passageiros (antes da pandemia eram 260 mil), e a Linha Sul, 40 mil (antes da pandemia eram 120 mil). Por isso, a oferta de trens está menor: A Linha Centro está com dez trens nos horários de pico (eram 12 antes da pandemia) e a Linha Sul está com sete (eram oito).
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