COLUNA MOBILIDADE

Cadê as Faixas Azuis para os ônibus no Recife?

Nem mesmo a pandemia de covid-19 fez com que a prefeitura aproveitasse a oportunidade de ampliar o projeto, que foi um marco para a prioridade viária do transporte coletivo sobre o individual não só na capital, mas em toda a Região Metropolitana do Recife

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Roberta Soares

Publicado em 26/06/2021 às 8:00 | Atualizado em 29/06/2021 às 18:39
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Elas pararam no tempo. Símbolo da gestão do ex-prefeito Geraldo Julio, as Faixas Azuis, como o Recife batizou as faixas exclusivas para circulação dos ônibus, viraram assunto morto na capital. Nem mesmo a pandemia de covid-19 fez com que a prefeitura aproveitasse a oportunidade de ampliar o projeto, que foi um marco para a prioridade viária do transporte coletivo sobre o individual não só na capital, mas em toda a Região Metropolitana do Recife. São nove equipamentos em toda a cidade, implantados entre 2013 e 2020, que totalizam 42 quilômetros de extensão.

Em junho do ano passado, depois de três anos de promessas e um intervalo de dois anos e meio desde a última implantação, a Avenida Agamenon Magalhães, primeira perimetral do Recife e eixo de conexão com a área central da cidade, ganhou uma Faixa Azul de quatro quilômetros de extensão (dois de cada lado). Foi a última. E saiu do papel porque já estava quase estragando de tão madura. Não foi viabilizada por causa da crise sanitária. Mesmo com os números do Grande Recife Consórcio de Transporte Metropolitano (CTM), gestor do transporte por ônibus da RMR, comprovando os ganhos de velocidade para os coletivos.

DIVULGAÇÃO/PCR
Foram três anos esperando pela Faixa Azul da Agamenon Magalhães, implantada em junho de 2020 - DIVULGAÇÃO/PCR

Com a prioridade viária, os ônibus que trafegavam pela Agamenon Magalhães tiveram um ganho de 53,7% na velocidade média no trecho entre o Terminal Integrado Joana Bezerra e a Universidade de Pernambuco (UPE), em Santo Amaro. No sentido contrário, o ganho foi de 25,4%. Segundo dados de antes da pandemia, 69 linhas circulavam pela avenida, operadas por 600 coletivos e transportando 250 mil passageiros diariamente.

O equipamento da Avenida Rui Barbosa, na Zona Norte da capital e anunciado pelo ex-secretário de Mobilidade do Recife, João Braga, por exemplo, não tem qualquer previsão de sair do papel. Há informações extraoficiais, inclusive, de que foi engavetado.

ARTES JC
JC-CID0627_AGAMENON_FAIXAAZUL_blog - ARTES JC

Atualmente, as Faixas Azuis do Recife beneficiam aproximadamente 500 mil passageiros - segundo dados pré-pandêmicos -, um número ainda pequeno quando consideramos que 2 milhões de pessoas usam o sistema diariamente. Significa dizer que apenas 25% dos passageiros usufruem das vantagens da priorização viária para o transporte coletivo. E elas são muitas. Há Faixas Azuis, como a da Avenida Domingos Ferreira, que tem conexão com a da Avenida Antônio de Góes, nos bairros do Pina e de Boa Viagem, na Zona Sul da cidade, que tiveram ganhos de 118% na velocidade dos coletivos. Até mesmo os trechos mais pequenos do equipamento – há faixas com apenas 580 metros, como a da Antônio de Góes, ou com 1,5 quilômetro como as da Rua Cosme Viana, em Afogados, e Real da Torre, na Torre e Madalena – têm resultados positivos que alcançaram de 20% a 30% de aumento de velocidade. E, quanto mais rápido o ônibus anda, mais ágil é a viagem.

Recife tem 2.400 quilômetros de vias e em 650 quilômetros os ônibus circulam por eles. Mesmo assim, em apenas 62 quilômetros têm algum tipo de priorização na via (considerando os 42 quilômetros de Faixas Azuis implantadas pela gestão Geraldo Julio e os 20 quilômetros que já existiam) . Ou seja, de todas as ruas percorridas por ônibus na capital, pouco mais de 5% contam com faixa exclusiva de circulação.

JAILTON JR/JC IMAGEM
Na verdade, essa já deveria ser a extensão do equipamento quando foi implantado, um ano atrás - JAILTON JR/JC IMAGEM
JAILTON JR/JC IMAGEM
A Prefeitura do Recife não deu qualquer perspectiva de quando a cidade verá uma nova Faixa Azul. Por nota, a Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU) informou apenas que tem feito estudos - JAILTON JR/JC IMAGEM
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A expansão terá início após o Viaduto da Independência (sobre a Avenida João de Barros), nas proximidades da Universidade de Pernambuco (UPE), em Santo Amaro, e terminará nas imediações do Shopping Tacaruna, no mesmo bairro - YACY RIBEIRO/JC IMAGEM
Foto: Guga Matos/ JC Imagem
Recife tem 2.400 quilômetros de vias e em 650 quilômetros os ônibus circulam por eles. Mesmo assim, em apenas 62 quilômetros têm algum tipo de priorização na via (considerando os 42 quilômetros de Faixas Azuis implantadas pela gestão Geraldo Julio e os 20 quilômetros que já existiam) - Foto: Guga Matos/ JC Imagem
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Implantar um quilômetro de Faixa Azul custa R$ 20 mil sem fiscalização e R$ 40 mil com radares - Foto: Guga Matos/ JC Imagem
Foto: Guga Matos/ JC Imagem
Atualmente, as Faixas Azuis do Recife beneficiam aproximadamente 500 mil passageiros - segundo dados pré-pandêmicos - Foto: Guga Matos/ JC Imagem

CUSTO

Implantar um quilômetro de Faixa Azul custa R$ 20 mil sem fiscalização e R$ 40 mil com radares, segundo valores estimados pela Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU) antes da pandemia. Mas, mesmo assim, a ampliação é tímida. A Prefeitura do Recife pegou um bom embalo em 2013, quando o projeto começou na cidade, influenciado pelos bons resultados e baixo custo das faixas adotadas no Rio de Janeiro, cidade que transformou em sucesso e divulgou no País o chamado BRS (Bus Rapid Service), a versão mais barata e, por isso, bem mais prática, do BRT (Bus Rapid Transit). Um sistema que exige apenas sinalização horizontal e vertical nas faixas à direita das vias, sem necessidade de obras ou estudos mais elaborados, como acontece com os corredores segregados no canteiro central das avenidas. É apenas vontade de fazer. Mas o ritmo foi caindo.

SEM PERSPECTIVA

A Prefeitura do Recife não deu qualquer perspectiva de quando a cidade verá uma nova Faixa Azul. Por nota, a Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU) informou apenas que tem feito estudos. “Temos avançado nos estudos de origem e destino para compreender as áreas com maior necessidade de implantação dos equipamentos e os locais para potencializar a eficiência dos equipamentos já existentes”, diz a nota. E segue garantindo que, assim que uma nova faixa exclusiva for implantada, a população será avisada com antecedência.

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