COLUNA MOBILIDADE

Ciclofaixa que custou quase R$ 5 milhões para ligar Recife e Olinda é verdadeiro descaso com o dinheiro público

Eixo Cicloviário Camilo Simões, uma das referências da ciclomobilidade da Região Metropolitana do Recife, encontra-se quase destruído e totalmente abandonado pelo poder público

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Roberta Soares

Publicado em 16/07/2021 às 7:00
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É revoltante e angustiante ver o que o poder público - leia-se prefeituras de Olinda e do Recife e o governo de Pernambuco - deixou acontecer com boa parte do pouco que foi implantado até hoje do Eixo Cicloviário Camilo Simões, corredor de ciclofaixa que liga a capital a Olinda e iria, um dia, chegar ao município de Igarassu, na Região Metropolitana do Recife. Os oito primeiros quilômetros do equipamento, que custaram até agora quase R$ 5 milhões aos cofres públicos do Estado e da União, foram totalmente abandonados. Faltam pintura, sinalização vertical e horizontal, iluminação e segurança para os ciclistas que usam o equipamento diariamente - mais de 4 mil por dia. É, inclusive, a estrutura mais utilizada como meio de transporte para quem pedala no Grande Recife.

FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM
Para quem se acostumou a usar a estrutura cicloviária nesses quatro anos - o primeiro trecho foi inaugurado ainda em 2017, no Recife, e o segundo em 2018, em Olinda - é triste ver o que ela virou - FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM

Antes de seguir lendo esta reportagem, sugiro ao leitor que vá direto para as fotos do fotógrafo Felipe Ribeiro e, depois de observá-las, tire suas próprias conclusões sobre as condições da estrutura cicloviária que foi a grande promessa para a ciclomobilidade da RMR. A situação, de fato, é menos crítica nos 5,1 quilômetros do Eixo situados no Recife, que têm a manutenção sob responsabilidade do município e custou R$ 2,5 milhões. Do Bairro do Recife - apesar da ausência da ligação direta pela Ponte Buarque de Macedo (próxima ao Palácio das Princesas) - até a Rua da Aurora, o equipamento ainda está bem razoável - inclusive passando por reforma dentro do projeto de requalificação da Rua da Aurora. Mas, a partir da Avenida Arthur de Lima Cavalcanti (continuação da Aurora, às margens do Rio Beberibe), transforma-se em perigo e abandono.

Falta de tudo. Os três quilômetros situados em Olinda - chamado de segunda etapa e entregue em 2019 por R$ 2 milhões - são os piores do que foi construído até agora. Puro e total abandono. O estado em que se encontra o eixo chega a ser vergonhoso e um desperdício de dinheiro público. Até os postes de iluminação - destacados pelo poder público na época da inauguração por serem focados na ciclofaixa, ou seja, iluminavam o ciclista e, não, a rua - foram roubados. Dos que ficaram, pouquíssimos têm lâmpadas. Para quem se acostumou a usar a estrutura cicloviária nesses quatro anos - o primeiro trecho foi inaugurado ainda em 2017, no Recife, e o segundo em 2018, em Olinda - é triste ver o que ela virou.

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A ciclovia já foi uma ótima opção. Ajudava muito no deslocamento. Mas está faltando manutenção. Não tem mais iluminação, existem muitos buracos e há carros e comércios ocupando boa parte da estrutura", disse o estoquista Josias Gomes da Silva - FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM

“Já foi uma ótima opção. Ajudava muito no deslocamento. Mas está faltando manutenção. Não tem mais iluminação, existem muitos buracos e há carros e comércios ocupando boa parte da estrutura”, lamentou o estoquista Josias Gomes da Silva, 36 anos, que todos os dias passa pelo Eixo Camilo Simões nos trechos de Olinda e do Recife. “Uso todos os dias e tenho medo todos os dias. Falta iluminação à noite e a insegurança predomina. Atualmente está péssimo. Horrível. Falta de tudo. Esqueceram completamente da manutenção”, critica o ciclista Márcio Esmeraldo de Oliveira , 42, que também usa o equipamento diariamente.

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Uso todos os dias e tenho medo todos os dias. Falta iluminação à noite e a insegurança predomina. Atualmente está péssimo. Horrível. Falta de tudo. Esqueceram completamente da manutenção", critica o ciclista Márcio Esmeraldo de Oliveira - FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM

O Eixo Camilo Simões começou a ser construído ainda na gestão do ex-governador Eduardo Campos (PSB) e tinha a promessa de ter 33,8 quilômetros ligando o Bairro do Recife a Igarassu. O primeiro trecho, com 5,1 quilômetros, foi inaugurado no fim de abril de 2017, ligando o Marco Zero, no Bairro do Recife, à Fábrica Tacaruna, no limite do Recife com Olinda. O segundo trecho, com 2,9 quilômetros, vai da Fábrica Tacaruna até a Praça do Varadouro, em Olinda, tendo sido entregue em abril de 2018. Juntos, somam R$ 4,5 milhões recursos do Prodetur e Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

A Coluna Mobilidade tentou obter posicionamentos de todos os órgãos públicos responsáveis direta ou indiretamente pelo Eixo Cicloviário Camilo Simões, mas não teve respostas satisfatórias. Na verdade, foi um jogo de empurra-empurra entre os representantes do poder público. O governo do Estado explicou, via Secretaria de Desenvolvimento Urbano (Seduh), que o segundo trecho do eixo foi inaugurado em 2018 e entregue à Prefeitura de Olinda (tendo sido o termo de recebimento formalizado em 2019 pelas secretarias municipais de Obras e de Trânsito). E que, por isso, os questionamentos relacionados à manutenção da infraestrutura cicloviária e à iluminação pública seriam de competência do município. Olinda não se posicionou sobre a manutenção.

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Situação de abandono das ciclofaixas Recife/Olinda - FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM
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O mesmo valeria para a primeira etapa, sob responsabilidade do Recife. A Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU) informou que realiza anualmente a manutenção da sinalização do Eixo Cicloviário Camilo Simões, mapeando as áreas necessárias. Mas que, devido ao período de chuvas, para maior durabilidade do serviço, as equipes programam as manutenções para serem feitas entre setembro e fevereiro. E lembrou que o trecho da Rua da Aurora já está em processo de requalificação.

TERCEIRA ETAPA TRAVADA

A terceira etapa do Eixo Cicloviário Camilo Simões, que já deveria estar em obras pelas últimas promessas do governo de Pernambuco e da Prefeitura de Olinda, segue sem definição. As informações extra-oficiais são de que a primeira licitação deu deserta (sem interessados). Por nota, a Secretaria de Turismo e Lazer de Pernambuco informou que o projeto de implantação já estaria com contrato assinado com a empresa Nunes & Cavalcanti. Disse que a previsão de conclusão é de três meses, a partir da assinatura da ordem de serviço. Mas não informou, entretanto, quando essa OS será assinada.

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Situação de abandono das ciclofaixas Recife/Olinda - FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM
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DESCUIDO Há mato crescendo em alguns trechos, além de lixo, dificultando o caminho e trazendo risco de acidente para que anda de bicicleta - FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM
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Situação de abandono das ciclofaixas Recife/Olinda - FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM

O projeto contemplará vias entre os bairros do Varadouro, Carmo, Bairro Novo e Bultrins, totalizando quase dez quilômetros, ao custo de R$ 584.305,50, através de convênio com a União. Mas, segundo Olinda, somente um trecho de menos de dois quilômetros seria feito nesse primeiro momento. Gina Moraes, diretora de Mobilidade Urbana de Olinda, informou que o trecho compreenderia a Praça do Carmo e a interseção da Avenida Joaquim Nabuco com a Rua 15 de Novembro, no Carmo. Dos 1.700 metros, 80 metros seriam de ciclofaixa bidirecional e o restante de trechos com ciclovia e/ou ciclofaixa unidirecional, ao longo da Avenida Sigismundo Gonçalves. Sempre à direita da via.

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