Fortaleza, mais uma vez, é exemplo em mobilidade urbana por medida que poucas cidades têm coragem de adotar. Entenda a razão
Capital cearense vem, gradativamente, reduzindo a velocidade limite de seus corredores viários. Já são 29 avenidas com a máxima de 50 km/h
Fortaleza, capital cearense, mais uma vez vira exemplo em mobilidade urbana. Está, gradativamente, tendo a coragem política de reduzir a velocidade máxima de seus corredores viários urbanos de 60 km/h para 50 km/h. Algo que pouquíssimas capitais ousaram fazer - São Paulo chegou a adotar na gestão do então prefeito Fernando Haddad (PT), mas desfez com a chegada do prefeito João Doria (PSDB). Há, inclusive, quem afirme que a redução da velocidade nas marginais Tietê e Pinheiros, principal corredor expresso da cidade de São Paulo, impediram a reeleição de Haddad.
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Ou seja, sob a ótica da política, mexer na velocidade de circulação dos veículos é uma decisão impopular. Sempre. Mas Fortaleza parece estar decidida a seguir com as intervenções que têm destacado nacionalmente a capital quando o assunto é mobilidade urbana e, principalmente, segurança viária. A capital decidiu que andar com segurança e evitando colisões ou atropelamentos é mais importante do que andar mais rápido - o que sempre é recomendado por especialistas em trânsito e em saúde pública. Vale lembrar que o trânsito brasileiro mata mais de 30 mil pessoas por ano (dados de 2019), mutila outras 500 mil e custa R$ 132 bilhões à saúde pública anualmente.
Até o mês de agosto, Fortaleza já tem 29 ruas e avenidas com velocidade máxima permitida de 50 km/h e estuda reduzir o limite em outras três. Outras têm tolerância ainda menor, de 30 km/h, como nas áreas de trânsito calmo - o que o Recife também implementou em algumas vias da cidade. Mas o que merece destaque na iniciativa da capital cearense é que essa redução está sendo adotada em corredores viários, não apenas em vias coletoras e locais, como acontece na maioria das cidades, inclusive na capital pernambucana.
Vale lembrar que Fortaleza não está inventando a roda. Ao contrário. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que os veículos não devem trafegar em áreas urbanas com velocidade acima de 50 km/h em nenhuma situação. A velocidade é o principal fator de risco no trânsito, aumentando a probabilidade dos sinistros (a definição não é mais acidente de trânsito. Entenda a razão) e a gravidade das lesões. Com velocidade mais baixa, o motorista consegue reagir mais rápido e, no caso de colisões ou atropelamentos, as chances de mortes são reduzidas. Ainda segundo a OMS, a readequação da velocidade de 60 km/h para 50 km/h aumenta em dez vezes a chance de uma pessoa atropelada sobreviver. O que faz Fortaleza se destacar é a coragem de implementar.
RESULTADOS
E, na prática, os resultados são positivos. No primeiro corredor de Fortaleza a ter a velocidade limite reduzida, a Avenida Leste Oeste - importante eixo viário da cidade -, os atropelamentos diminuíram 64% desde a alteração, ainda em 2018. Apesar de reclamações frequentes de condutores, a Prefeitura de Fortaleza já avisou que a cidade vai ampliar o número de vias com limite de velocidade reduzido até o fim de 2021. A meta da cidade, que é orientada pela Iniciativa Bloomberg para Segurança Viária Global desde 2015, é seguir a tendência mundial de apostar em limites cada vez menores para aumentar a segurança viária, evitar lesões e óbitos no trânsito. O Recife passou a contar com a parceria da Bloomberg este ano e algumas mudanças já começam a ser vistas pela cidade, com a expectativa de mais inovações para a segurança viária.
Segundo a Autarquia Municipal de Trânsito (AMC), a redução da velocidade limite nas vias de Fortaleza têm eficácia comprovada. E, por isso, o órgão planeja que vias com 60 km/h passem a operar gradativamente com um novo limite de 50 km/h, mas destaca que só entrarão no pacote as avenidas que apresentarem índices elevados de sinistros de trânsito. Lembra, ainda, que as mudanças acontecem após estudos técnicos que justifiquem a redução e que é realizado um período educativo de seis meses para que os motoristas se adaptem à mudança.
EXEMPLOS
Em 2015, a prefeitura de São Paulo reduziu a velocidade de 90 km/h para 70 km/h nas pistas expressas das marginais, de 70 km/h para 60 km/h nas centrais; e de 60 km/h para 50 km/h nas pistas locais. Londres, capital britânica, adota o limite de 32 km/h, assim como Nova York, nos EUA, permite velocidade máxima entre 32 km/h e 40 km/h, dependendo da via. Em Paris, o limite é de 40 km/h. Já em Tóquio, varia de 30 km/h a 50 km/h.