Transporte intermunicipal quer o mesmo tratamento do transporte metropolitano em Pernambuco
Protesto de rodoviários realizado na segunda-feira (26/9) na Avenida Dantas Barreto é reflexo da ausência de isonomia entre os dois sistemas
Vamos começar esse texto com uma indagação que merece reflexão: por que o transporte público intermunicipal não recebe o mesmo tratamento pelo governo de Pernambuco que o transporte público da Região Metropolitana do Recife? Qual a diferença entre um e outro? O passageiro de um é melhor do que do outro? O fato de atender às 14 cidades do Grande Recife significa ser melhor ou mais importante do que atender aos municípios do interior do Estado - considerando as ligações da Zona da Mata até o Sertão?
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Para quem opera o transporte intermunicipal pernambucano - sejam empresários ou rodoviários - o tratamento deveria ser o mesmo. Os benefícios econômicos e fiscais concedidos a um deveriam ser iguais ao outro. Essa é a bandeira do sistema, operado por sete empresas (Progresso, 1002, Borborema, Rodotur, Astrotur, Coletivos, Joalina e Logo Transporte) e que transporta 1,3 milhão de passageiros por mês. E foi por essa bandeira que os rodoviários do transporte intermunicipal realizaram uma paralisação nesta segunda-feira (27/9), na Avenida Dantas Barreto, no Centro do Recife, um terminal criado há mais de 30 anos para ser provisório e que foi se transformando em permanente.
De um lado, motoristas e cobradores do sistema de transporte intermunicipal pararam porque querem um aumento salarial para tentar repor as perdas diante da crise econômica e a assustadora inflação, o que é justo. Diferentemente dos rodoviários da RMR, não conseguiram o reajuste de 9,22% concedido há pouco mais de um mês. Do outro, o setor empresarial que diz não ter como dar o mesmo percentual porque, além de amargar uma perda de demanda de 40% - chegou a 100% porque o sistema deixou de operar no auge da pandemia em 2020 por determinação do governo do Estado -, não usufrui dos mesmos benefícios dados ao transporte urbano da RMR.
Essa é a questão.
Segundo o Sindicato das Empresas Rodoviárias de Pernambuco (Serpe), enquanto o transporte metropolitano está contando com um subsídio de R$ 33 milhões por mês, além de diversas isenções, o intermunicipal não conta com nada. “Fizemos a mesma proposta de jogar o dissídio da categoria para janeiro de 2022 que o metropolitano fez e foi recusada pelos rodoviários. A diferença é que o governo de Pernambuco decidiu ajudar os operadores da RMR a dar 9% de aumento e evitar uma paralisação. Enquanto o intermunicipal não teve nem tem nenhum tipo de subsídio”, explica Elson Souto Filho, presidente do Serpe e dono da empresa 1002.
O sistema intermunicipal diz que não recebe nenhum tipo de isenção de ICMS no diesel, de IPVA na compra de ônibus novos, cobertura da diferença entre custo e arrecadação (no caso das empresas concessionárias), entre outros benefícios. “Somente o combustível responde por 30% do nosso custo. Estamos operando com aproximadamente 50% da demanda de antes da pandemia. Está muito difícil. Temos empresas que operam o sistema metropolitano e o intermunicipal, como é o caso da Borborema e Rodotur. Como explicar ao funcionário que um ganhou reajuste e o outro não terá? Por isso estamos brigando pela isonomia”, reforça Elson Souto Filho.
Por nota, o governo de Pernambuco informou que irá analisar as demandas dos rodoviários e dos empresários do sistema intermunicipal. “Sobre as reivindicações das empresas que operam no transporte intermunicipal, o diretor presidente da Empresa Pernambucana de Transporte Intermunicipal (EPTI), Antônio Júnior, explica que tem dialogado constantemente com o setor e que está concluindo a análise das demandas apresentadas”.