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Motoristas de aplicativo, como Uber e 99, são as novas vítimas da violência no Grande Recife. Investidas aumentaram 43% em 2021

No pacote da violência, há casos em que é visível a predominância dos crimes de proximidade - como a polícia costuma definir aqueles casos em que o assassino busca a vítima, independentemente de onde ela estiver, e que a segurança pública afirma ser mais difícil de evitar. Mas, muitos casos têm, sim, a marca da mais pura violência urbana: são crimes de latrocínio, quando se mata para roubar

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Roberta Soares

Publicado em 07/02/2022 às 15:23 | Atualizado em 09/02/2022 às 13:16
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Atualizada às 22h32

A violência contra motoristas de aplicativo de transporte individual privado, como Uber e 99, está aumentando na Região Metropolitana do Recife. Passou a chamar atenção no contexto da violência urbana - ainda mais perceptível diante da crise econômica e da ampliação das desigualdades sociais. Em 2021, foram pelo menos dez motoristas baleados, dos quais sete morreram. Este ano, já são dois casos de assassinatos - o mais recente, inclusive, ocorrido no início da manhã desta segunda-feira (7/2) e que vitimou o motorista de app Ivison Eugênio da Silva, de 36 anos, em Tiúma, bairro do município de São Lourenço da Mata, na Zona Oeste do Grande Recife.

No pacote da violência, há casos em que é visível a predominância dos crimes de proximidade - como a polícia costuma definir aqueles casos em que o assassino busca a vítima, independentemente de onde ela estiver, e que a segurança pública afirma ser mais difícil de evitar. Mas, como alertam representantes dos motoristas parceiros, muitos casos têm, sim, a marca da mais pura violência urbana: são crimes de latrocínio, quando se mata para roubar. É o caso, por exemplo, da morte do motorista Kelvis Henrique Santos de Carvalho, 30 anos, assassinado a facadas para ser assaltado no Cabo de Santo Agostinho. Segundo informações repassadas pela família da vítima, na época, o motorista pegou a corrida com medo e chegou a compartilhar a localização com a esposa. O autor do crime foi preso pela polícia no mesmo dia e confessou o latrocínio.

Reprodução
Kelvis Henrique Santos de Carvalho, 30 anos, foi o penúltimo caso do Grande Recife. Foi assassinado a facadas para ser assaltado no Cabo de Santo Agostinho. Autor foi preso pela PM - Reprodução

Números do aplicativo Fogo Cruzado, divulgados pela Associação dos Motoristas de Aplicativos de Pernambuco (Amape), apontam que houve um aumento de 43% dos casos de motoristas baleados e que atuavam como parceiros das plataformas de transporte individual privado em 2021 no Grande Recife. “A maioria não é crime de proximidade, é assalto mesmo. O criminoso não tem essa percepção de que a situação dos motoristas parceiros está difícil e que muitas viagens são pagas eletronicamente. Investem para levar qualquer dinheiro e o smartphone da vítima. Há, ainda, as investidas para roubar dinheiro via Pix - que ainda não começaram em Pernambuco, mas já foram registradas em São Paulo, por exemplo -, e/ou o carro do motorista para a prática de outros assaltos. E como muitas das investigações não são conclusivas, a impunidade predomina”, alerta o presidente da Amape e Líder Livres, Thiago Silva.

Confira o levantamento do Fogo Cruzado

O medo tem sido tão grande que representantes da categoria começaram a pedir ao comando da segurança pública no Estado uma ação específica que possa minimizar as abordagens. Já houve um pedido formal à Secretaria de Defesa Social de Pernambuco (SDS-PE) para ações do tipo, que ainda não teve retorno, segundo Thiago Silva. A proposta é fazer com que os veículos de aplicativo ganhem uma identificação provisória - lembrando que pela lei que regulamentou o serviço no Recife, e que até hoje não entrou em vigor por causa de uma ação da empresa 99, a identificação não é permitida - para que possam ser abordados nas blitzes de segurança. Essas abordagens, inclusive, teriam também o passageiro como alvo. E essas blitzes poderiam ser as da Operação Lei Seca (OLS) e as realizadas rotineiramente pela Polícia Militar e as Guardas Municipais das cidades que têm a gestão do trânsito (como exemplo: Vitória de Santo Antão, Caruaru, Garanhuns e Petrolina).

Thiago Lucas/ Artes JC
Violência apps - Thiago Lucas/ Artes JC

Segundo um levantamento informal feito pela Amape com 200 condutores de app, 95,7% dos entrevistados se posicionaram favoráveis às abordagens - tendo também o passageiro como foco - e 92% concordaram com o uso de um adesivo no pára-brisa dianteiro, para melhor identificação dos veículos de aplicativos pelas forças policiais.


PLATAFORMAS

As plataformas também são alvo de questionamentos. Os motoristas alegam que têm pouquíssimo acesso a informações dos passageiros, o que os deixa mais vulneráveis à violência. A categoria diz que já houve casos de cadastros feitos por criminosos em nome de crianças e que resultaram no roubo e morte do motorista. Por isso, insiste, ser fundamental o repasse das informações para a polícia. A reportagem entrou em contato com a SDS/PE e aguarda posicionamento.

A empresa 99 garantiu que a segurança é prioridade da plataforma, funcionando 24 horas nos sete dias da semana. Que usa a inteligência artificial para isso e que praticamente 100% das corridas do aplicativo são encerradas com segurança. Que o investimento em tecnologia de ponta é alto, chegando a R$ 70 milhões nos últimos anos. Entre os recursos usados estão as câmeras de segurança, monitoramento da corrida via GPS, compartilhamento de rota, gravação de áudio e um botão de conexão direta com a Polícia Militar. Também lembra que conta com um mapeamento de área de risco ampliado, que funciona de forma dinâmica e colaborativa.

A Uber também informou que segurança é prioridade e a empresa está sempre buscando, por meio da tecnologia, fazer da sua plataforma a mais segura possível, de uma forma escalável. Segundo a Uber, hoje uma viagem pelo aplicativo já inclui ferramentas de segurança antes, durante e depois de cada viagem, tanto para os usuários quanto para os motoristas parceiros.

Confira o posicionamento da 99 na íntegra:

Segurança é prioridade para 99 antes, durante e depois das viagens. Por isso, a plataforma solicita obrigatoriamente que todos os passageiros insiram CPF ou cartão válidos antes da primeira viagem. De forma aleatória ou quando identificada uma corrida suspeita via inteligência artificial, é solicitada selfies com um sistema que reconhece se o rosto é de uma pessoa real. Além disso, é realizado checagens adicionais com base no documento inserido e a digitalização de RG.

Atualmente, 99,99% das corridas se encerram em segurança. A empresa possui um ecossistema de proteção, que funciona 24/7 e opera antes, durante e depois das viagens. Nos últimos dois anos, R$ 70 milhões em tecnologia de ponta, sistemas preventivos e atendimento humanizado. Entre os recursos estão as câmeras de segurança, monitoramento da corrida via GPS, compartilhamento de rota, gravação de áudio e um botão para ligar direto para a polícia.

Sidney Lucena/TV Jornal
O crime mais recente aconteceu na manhã desta segunda-feira (7/2). O motorista de app Ivison Eugênio da Silva, 36 anos, foi assassinado em Tiúma, São Lourenço da Mata - Sidney Lucena/TV Jornal


Como funciona

Antes do aceite da corrida, os condutores têm acesso rápido e claro, na tela no app, às informações do passageiro, como: verificação de CPF e cartão, foto, frequência de uso, nota e destino da corrida. Todas as corridas são monitoradas em tempo real, utilizando inteligência artificial, que aciona a Central de Segurança da 99 caso comportamentos anormais como desvio de rota, paradas longas ou trajetos acima do previsto sejam identificados para medidas de segurança adicionais.

A empresa também está atenta às demandas dos motoristas parceiros. Por isso, frequentemente realiza pesquisas e entrevistas com condutores para investir em ferramentas de segurança que fazem mais diferença para eles. Um exemplo disso é o teste de informações pessoais para validação do CPF dos passageiros, além da checagem digital do RG.

Com a Validação de Acesso, um teste feito em parceria com a Serasa Experian, são enviadas questões aos passageiros com base nos dados do CPF para evitar o uso de documentação de outras pessoas. É realizada ainda a Digitalização de RG, que coleta e valida os dados do documento utilizando a câmera do celular.

A 99 também conta com um mapeamento de área de risco ampliado, que funciona de forma dinâmica e colaborativa. Sem que haja o bloqueio de zonas específicas da cidade, a plataforma conta com os dados coletados junto às Secretarias de Segurança Pública, informações do app, classificação realizada pelos motoristas parceiros para realizar o bloqueio temporário de alguma região que possa apresentar algum risco de segurança à corrida. Em caso de necessidade, a central, que está disponível 24 horas por dia, 7 dias da semana, oferece atendimento humanizado e orientações do que fazer. 

Confira o posicionamento da Uber na íntegra:

Como não foram fornecidos dados dos incidentes, não foi possível verificar se algum dos casos mencionados de fato se deu em viagem com o aplicativo da Uber. A empresa lamenta que a violência urbana vitimize quem apenas busca gerar renda para sua família.

De toda forma, segurança é prioridade para a Uber e a empresa está sempre buscando, por meio da tecnologia, fazer da sua plataforma a mais segura possível, de uma forma escalável. Hoje uma viagem pelo aplicativo já inclui ferramentas de segurança antes, durante e depois de cada viagem, tanto para os usuários quanto para os motoristas parceiros.

Mas o foco prioritário é mesmo na prevenção: por isso o aplicativo já exige do usuário que não adiciona meio de pagamento digital (cartão de crédito ou débito) que insira o CPF e data de nascimento, dados que são checados na base de dados do Serasa, e possui um recurso de machine learning para impedir que viagens potencialmente arriscadas aconteçam. Esta ferramenta usa algoritmos que aprendem de forma automatizada a partir dos dados históricos das milhões de viagens já realizadas com o aplicativo e pode solicitar detalhes adicionais de identificação do usuário para autorizar que uma viagem aconteça.

Também está disponível no aplicativo o recurso de checagem de documentos de usuários, ferramenta inédita no Brasil por meio da qual alguns dos usuários que optarem por pagar sua primeira viagem em dinheiro, sem fornecer dados do meio de pagamento digital (cartão de crédito ou débito), precisarão fornecer um documento de identidade, como RG ou CNH.

Durante a viagem, aplicativo conta com o botão Recursos de Segurança, que reúne todas as funções de segurança da plataforma. O recurso, permite que usuários e motoristas parceiros possam compartilhar a sua localização e o tempo de chegada em tempo real com quem desejarem, além de oferecer a opção de ligar para a polícia em situações de risco ou emergência diretamente do app. Em outras localidades, como Estados Unidos e México, tal botão já está integrado ao atendimento a emergências das polícias e compartilha automaticamente localização e dados da viagem se houver a ligação. A Uber segue dialogando com alguns estados no Brasil para trazer o mesmo recurso para cá.

Vale ressaltar que a Uber possui uma equipe especializada está sempre à disposição para colaborar com as autoridades e possui um portal exclusivo para solicitação de dados no caso de investigações ou processos de persecução criminal, que está disponível 24 horas por dia, 7 dias por semana para processar as demandas, permitindo que informações importantes sejam repassadas com segurança e rapidez, isso tudo respeitando as leis de privacidade exigidas no País, em especial o Marco Civil da Internet.
Informações de apoio:

A Uber tem a segurança como prioridade e instalou no Brasil o seu primeiro Centro de Desenvolvimento Tecnológico na América Latina, com foco em segurança, num investimento de R$ 250 milhões. Esse centro, em conjunto com os times de operações, trabalha permanentemente no desenvolvimento de novas tecnologias e processos buscando tornar as viagens cada vez mais seguras.

Por meio do botão Recursos de Segurança (escudo azul que aparece no app),é possível acessar todas as funções de segurança da plataforma. Ao longo do trajeto, usuários e motoristas parceiros podem compartilhar a sua localização e o tempo de chegada em tempo real com quem desejarem.

Ainda nesse botão também é possível acionar o recurso de gravação de áudio. Tanto o usuário quanto o motorista parceiro, têm a opção de relatar um incidente de segurança e anexar o arquivo de gravação de áudio. Tanto nesse caso, como no de vídeo, os conteúdos ficam armazenados de forma criptografada e não podem ser acessados nem pelo parceiro nem pelo usuário - só pela Uber, caso haja um relato de segurança. Esses materiais também podem ser compartilhados com autoridades policiais, dentro dos trâmites legais.

E mesmo depois que uma viagem termina, ainda existem recursos de segurança atuando. Todas as viagens são registradas por GPS. Isso permite que, em caso de necessidade, nossa equipe especializada possa dar suporte, sabendo quem foi o motorista parceiro e o usuário, seus históricos e qual o trajeto realizado.

Os motoristas podem ainda optar por não aceitar viagens em dinheiro, se preferirem - a informação sobre essa opção de pagamento também é exibida na tela do aplicativo de quem está atrás do volante antes que o usuário entre no carro, assim como a região do destino final e a nota do usuário no aplicativo. E os motoristas parceiros podem cancelar as viagens sinalizando motivo de segurança sempre que não se sentirem confortáveis, sem qualquer impacto para eles.

Pedimos que usuários e motoristas se avaliem e temos uma equipe que monitora essas informações e pode banir da plataforma usuários ou motoristas que tiverem uma média baixa de avaliações ou conduta que viole os termos e condições de uso ou o código de conduta da comunidade como, por exemplo, comportamento inapropriado ou perigoso. O time de suporte está disponível 24 horas por dia, sete dias por semana pelo aplicativo e analisa caso a caso cada registro.

 

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