Transporte público é quem mais sofre com o trânsito travado nas periferias
Praticamente 80% das linhas regulares - incluindo os bacuraus - fazem terminal nos bairros da periferia da Região Metropolitana do Recife
Se o trânsito nas periferias é ruim para quem está no automóvel ou motocicleta, saiba que ele é ainda mais danoso para quem está nos ônibus. O transporte público, aliás, é a grande vítima da ausência de tudo nos subúrbios. Isso porque, para os ônibus, a periferia é o princípio de tudo. É do subúrbio que sai a maior parte dos coletivos e é para lá que eles retornam. Praticamente 80% das linhas regulares - incluindo os bacuraus - fazem terminal nos bairros da periferia da Região Metropolitana do Recife.
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E é a confusão do trânsito das periferias que compromete a operação do transporte coletivo. Para se ter ideia do impacto, o indicador de pontualidade das linhas que têm terminal nos subúrbios é 35% menor do que o das linhas que não operam nos subúrbios.
É fato que a solução para os problemas é difícil e exige grandes esforços do poder público, financeiro e de planejamento. Isso porque, na maioria dos casos, falta espaço viário para fazer readequações e usar da forma correta até mesmo a engenharia de tráfego, por exemplo. Mas é consenso que, principalmente pela eficiência do transporte público, as gestões públicas precisam estar mais presentes nos subúrbios.
Conversar com quem opera o sistema de transporte na periferia é confirmar essas constatações. “Congestionamentos e retenções são muito frequentes, praticamente diárias. Esta semana, por exemplo, um coletivo nosso ficou praticamente todo o tempo da viagem, indo ao Centro e retornando, preso num congestionamento na Rua Nova Descoberta (periferia da Zona Norte). Estamos falando de 1h30”, revela Antero Parahyba, superintendente do Consórcio Recife, que reúne as empresas Pedrosa e Transcol.
Foi na mesma Rua Nova Descoberta, numa retenção de 15 minutos numa quarta-feira, que a reportagem encontrou o motorista Sidcley Correia, do Sistema de Transporte Complementar do Recife (os ex-kombeiros), preso no trânsito. “A situação no bairro é sempre assim, há 40 anos. Não muda. Geralmente perco 30 minutos somente para sair de Nova Descoberta, numa viagem de 1h35. E não tem hora nem dia”, critica.
Antero Parahyba diz que a situação é tão crítica nos subúrbios que o consórcio tem atualmente um funcionário que fica exatamente num dos pontos mais cruciais do percurso dos ônibus até o terminal. “É o jeito. Já investimos em câmeras para a CTTU ver em tempo real os gargalos que impactam nos coletivos e até em orientadores particulares de trânsito. Sabemos que soluções são difíceis, mas é preciso um esforço do poder público para encontrá-las”, diz o superintendente.
Lembrando que as condições da estrutura viária nos subúrbios e o seu uso, com destaque para o estacionamento irregular, são determinantes para a regularidade do serviço de transporte público.