Afogamento no Túnel do Jordão: depois de morte, governo de Pernambuco vai reforçar bloqueio do equipamento

Área estava isolada com cavaletes e fitas adesivas. Túnel tem problemas estruturais e de alagamento desde a construção, dez anos atrás
Roberta Soares
Publicado em 04/08/2022 às 14:39
VANDALISMO Segundo DER-PE, circulação de veículos no túnel havia sido interrompida desde o final de julho por causa da ação de criminosos Foto: JOSÉ MARTINS/JC IMAGEM


Um dia depois de uma idosa de 81 anos morrer afogada ao tentar atravessar o Túnel Felipe Salgado, mais conhecido como Túnel do Jordão, na Zona Sul do Recife, o governo de Pernambuco anunciou que vai reforçar o bloqueio do equipamento, alagado com as chuvas que atingem a Região Metropolitana do Recife.

O Departamento de Estradas de Rodagem (DER-PE), órgão da Secretaria de Infraestrutura de Pernambuco que é responsável pela operação e manutenção do Túnel do Jordão, vai instalar barreiras de concreto nos dois lados das pistas para impedir o acesso à parte inferior do túnel.

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A instalação está programada para acontecer na tarde desta quinta-feira (4/8) e ser finalizada até a sexta. Os blocos de concreto vão substituir o bloqueio frágil que o poder público vinha fazendo do túnel, apenas com cavaletes e fitas zebradas - obstáculos fáceis de serem transportados pela população.

No episódio mais recente de problemas, segundo o governo do Estado, o Túnel do Jordão está alagado desde o fim de julho em decorrência de atos de vandalismo.

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“Atos recorrentes de furto e vandalismo, ocorridos em junho e julho, atingiram todo o sistema elétrico e as bombas hidráulicas responsáveis por drenar as águas pluviais das pistas do equipamento”, explica o DER-PE.

“Foi preciso elaborar um novo projeto de restauração do sistema de drenagem e está sendo providenciada a aquisição dos equipamentos necessários para restabelecer o funcionamento das bombas do túnel. O investimento necessário será de R$ 320 mil”, finaliza. 

Mais detalhes sobre o novo projeto, como data de implantação e de licitação pública, por exemplo, não foram informados.

DESCULPA QUE NÃO É MAIS ACEITA

O posicionamento oficial do governo de Pernambuco informando que o Túnel do Jordão está alagado porque o vandalismo e furto impediram o escoamento da água é um argumento que não é mais aceitável.

É algo considerado inadmissível na engenharia civil e em pleno século 21, com a tecnologia guiando a vida das pessoas. Ainda mais num equipamento que tem problemas básicos, frequentes há dez anos, como é o caso do Túnel do Jordão.

O alerta é feito pela Associação Brasileira de Engenheiros Civis (ABENC).

Thiago Lucas - Túnel do Jordão

“Não se pode aceitar esse tipo de situação. Um equipamento como esse não pode passar dez anos alagado quando chove. É preciso que o sistema de escoamento funcione”, alerta Stênio Cuentro, presidente da ABENC.

“Um problema desses uma vez, tudo bem. Mas é preciso resolver. Essa desculpa só vale uma vez. Hoje em dia você embute os cabos, fazendo o chamado envelopamento de concreto dos cabos e da bomba. E ainda usa um dispositivo que alerta no próprio celular toda vez que a bomba parar. Esse alerta vai para uma central de monitoramento”, explica.


RESPONSABILIDADES

O Túnel do Jordão tem dez anos de construído e já teve outros problemas estruturais, como a falha de execução da laje superior que provocou a interdição por meses. O equipamento fez parte das obras de triplicação da Estrada da Batalha, executada em 2012 pelo governo de Pernambuco.

Para quem não sabe, o Túnel do Jordão é fundamental para a conexão da periferia da Zona Sul do Recife com a PE-08, a Estrada da Batalha, ligando o Recife a Jaboatão dos Guararapes. A Estrada da Batalha é um importante corredor que dá acesso à BR-101, na saída sul do Grande Recife. 

Toda a operação e manutenção do Túnel do Jordão, assim como da Estrada da Batalha, são feitas pelo DER-PE. A CTTU/Recife cuida da circulação no equipamento e é o órgão que garantiu ter isolado a área a partir das 6h59 desta quarta-feira, quase duas horas antes do afogamento.

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