A suspensão de pousos e decolagens de voos no Aeroporto Internacional do Recife, na Zona Sul da capital pernambucana, como a que aconteceu nesta quarta-feira (14/6), quando 39 voos foram impactados devido às fortes chuvas, poderá ser mais comum do que os passageiros pensam. Principalmente no caso das aterrissagens.
Isso porque, segundo denúncia feita por pilotos ao JC, a suspensão de aterrissagens está sendo provocada não só pelas chuvas, mas devido à desativação do Sistema de Pouso por Instrumento (Instrument Landing System - ILS), um dispositivo fundamental para auxiliar os pilotos até obterem contato visual com a pista de pouso.
Esse contato visual só seria possível a partir dos 200 pés de altura (o equivalente a 61 metros de altura). Até chegar a esse patamar, só é possível realizar o procedimento de pouso com o ILS.
Sem conseguir realizar a aterrissagem em dias de chuva, já que não têm a orientação do equipamento, os pilotos precisam arremeter a aeronave e seguir para outros aeroportos da região - como aconteceu na quarta-feira.
Para quem não sabe, arremeter é um procedimento no qual o piloto de uma aeronave retoma o voo depois de falhas no processo de pouso ou quando o piloto não tem referência visual da pista. A arremetida pode ocorrer ainda em voo, durante a reta final ou após a aeronave ter "tocado" a pista.
O mais grave do processo é que, segundo a denúncia feita ao JC, a desativação do ILS pela Aena Brasil, que administra o Aeroporto Internacional do Recife, foi provocada pela interdição da cabeceira da pista que é mais utilizada no aeroporto para obras de ampliação do terminal.
Pilotos alegam que essas obras de infraestrutura, embora importantes, poderiam ter sido antecipadas ou adiadas para um período de sol, quando o uso do ILS não fosse tão imprescindível.
Foi denunciado, ainda, que outras situações semelhantes ao que aconteceu na quarta já teriam sido registradas desde que o Sistema de Pouso por Instrumento foi desativado, no dia 24 de maio. A previsão é de que as obras na cabeceira da pista sejam concluídas no dia 29 de julho.
Assim, pilotos afirmam que, até lá, qualquer chuva que diminua a visibilidade da pista deixará as aeronaves em espera ou fará com que sejam redirecionadas para outros aeroportos. Na quarta-feira, ao menos 23 voos tinham sido direcionados a outras cidades e outros 16 foram cancelados por causa das chuvas no Recife.
Antes que as pessoas se assustem ou se preocupem com a notícia, as consequências da desativação do ILS no Aeroporto Internacional do Recife são mais econômicas do que de segurança. É claro que, ser comunicado pelo piloto que a aeronave não poderá aterrissar no aeroporto de destino ou sentir o avião arremeter em voo, não são situações agradáveis e que, muitas vezes, provocam pânico nos passageiros.
Mas os pilotos que fizeram a denúncia ao JC foram enfáticos em destacar que o risco é pequeno. O que pesa mesmo é o custo operacional das companhias aéreas de desviar voos e o transtorno financeiro para passageiros que descem em aeroportos diferentes do destino da viagem.
O ILS (Instrument Landing System), que em português significa Sistema de Pouso por Instrumento, é um dispositivo que fornece ao piloto duas informações essenciais: o eixo da pista e a trajetória ideal de planeio.
No Brasil não existem aparelhos ILS de terceira geração. O nível abaixo, o ILS-2, está presente em apenas três aeroportos, segundo a Aeronáutica do Brasil: Guarulhos (SP), Galeão (RJ) e Curitiba (PR). Os demais aeroportos de grande porte, entre eles o Aeroporto Internacional do Recife, ainda têm o ILS-1.
O Sistema de Pouso por Instrumento funciona da seguinte forma: em terra, são colocados dois transmissores em posições estratégicas em relação à pista. Um dos transmissores (localizer) fornece um sinal-guia de aproximação ao longo da linha central da pista. Enquanto o outro transmissor fornece um sinal do trajeto de descida.
A Aena Brasil se posicionou por nota oficial de apenas duas linhas e que pouco esclarece a situação. Basicamente, se eximiu da responsabilidade sobre o ILS. “O ILS é o sistema de aproximação por instrumentos gerido pelos órgãos de navegação aérea, que elaboram procedimentos, operam e realizam sua manutenção”, disse.