O Brasil fracassou, mais uma vez e infelizmente, na meta de reduzir as mortes no trânsito, que ultrapassam os 32 mil por ano. Análise detalhada do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra exatamente o contrário: as mortes cresceram 13,5% em dez anos (entre 2010 e 2019).
Foram 392 mil vidas perdidas em sinistros de transporte terrestre (STT), que englobam atropelamentos, sinistros com bicicletas, motocicletas, automóveis, caminhonetes, caminhões, ônibus e outros tipos de veículos terrestres.
A comparação é em relação à década passada (2000 a 2009) e faz parte da análise técnica "Balanço da 1ª década de Ação pela Segurança no Trânsito no Brasil e Perspectivas para a 2ª década", divulgada nesta quarta-feira (2/8), pelo Ipea.
Os dados dizem respeito aos sinistros de transporte terrestre nas duas primeiras décadas do século XXI no Brasil. As duas décadas foram criadas pela Organização das Nações Unidas (ONU) com a missão de reduzir em 50% o número de mortes no trânsito brasileiro e mundial.
BRASIL SEGUE SEM AVANÇO E ESTAGNADO NA LUTA CONTRA O TR NSITO QUE MATA
A análise dos pesquisadores Carlos Henrique Carvalho e Erivelton Pires Guedes, técnicos de planejamento e pesquisa do Ipea, mostra que o Brasil frustrou, em números absolutos de mortes, essa meta estabelecida de redução de 50% no total das mortes.
E que segue quase estagnado em termos de taxa de mortalidade por cada 100 mil habitantes. Nesse caso, os índices praticamente permaneceram no mesmo patamar da década anterior, com um aumento de 2,3%. “Os dados demonstram que a 1ª década voltada para redução da mortalidade do trânsito não teve resultados práticos no Brasil”, resume o pesquisador Erivelton Pires Guedes.
Total de mortes e taxa de mortalidade por 100.000 habitantes em sinistros de transporte terrestre nas duas primeiras décadas do século XXI no Brasil (2000/2009 e 2010/2019)
Período Mortes/Taxa de mortalidade*
2010 a 2019 - 392.929 19,22 (Variação de 13,5%)
2000 a 2009 - 346.151 18,79 (Variação de 2,3%)
Obs.: Taxa de mortalidade anualizada (mortos/100.000 hab), considerando a população brasileira na metade da década (população do Brasil em 2005 e 2015)
Fonte: SIM/DATASUS
A análise do Ipea tem como base os dados do DataSUS (Ministério da Saúde) e de sinistros
nas rodovias federais registrados pela Polícia Rodoviária Federal (PRF).
LEVE REDUÇÃO ENTRE 2014 E 2019, DEVIDO À CRISE ECONÔMICA
Apesar da taxa de mortalidade por sinistros de transporte terrestre (mortes por 100 mil habitantes) entre as duas décadas iniciais do século XXI permanecer praticamente a mesma, ao longo dos anos de 2014 a 2019 houve uma redução significativa dessa taxa.
A taxa média de mortes por 100 mil habitantes caiu 1/3 entre o ano 2010 e 2019. E, segundo os autores da análise, esse resultado foi efeito do desaquecimento econômico ocorrido no Brasil desde 2015.
“Observa-se que, a partir de 2014, há uma forte queda da taxa, que coincide com a intensificação da crise econômica brasileira pós impeachment. Os sinistros de trânsito são bastantes sensíveis às condições econômicas, pois, quanto mais a economia cresce, mais cresce o trânsito de mercadorias e pessoas nas vias”, afirma o pesquisador Erivelton Pires Guedes.
“Assim, grande parte da queda da mortalidade observada a partir da metade da década se
deve, principalmente, a esse desaquecimento econômico. Em 2020, os índices
param de cair, mas a partir desse ano inicia-se nova tendência de ocorrências de sinistros, com o acirramento da pandemia da Covid-19, não analisada por nós”, destaca.
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Nota Técnica Mortalidade 2010-2019 IPEA by Roberta Soares on Scribd