Ar-condicionado no Uber: o desabafo de um motorista de aplicativo contra a exploração profissional das bigtechs
Motorista de aplicativo que trabalha 14 horas por dia, de domingo a domingo, não consegue pagar as contas
O texto abaixo não é uma reportagem. É um desabafo. Um pedido de socorro feito por uma pessoa, mas que representa a voz de milhares - na verdade, quase dois milhões de trabalhadores que hoje dependem dos aplicativos de transporte e entrega, como Uber, 99 e iFood, segundo dados do IBGE de 2023.
No texto-desabafo, o motorista pernambucano Carlos Alberto dos Santos, 59 anos, pede socorro ao País (mídia, poder público e Justiça) contra as milionárias bigtechs. Carlos, assim como a maioria da mão-de-obra das plataformas, optou por virar motorista de aplicativo de passageiros pela necessidade financeira e por não conseguir se colocar no mercado formal de trabalho. A mesma história de sempre, ainda mais evidente com a idade - sim, o Brasil renega os mais velhos, mesmo experientes e ativos.
O condutor procurou a Coluna Mobilidade irritado com a polêmica sobre a obrigatoriedade de ligar ou não o ar-condicionado nas viagens. Dia sim, dia não, o assunto volta a ser tema de reportagens e ações dos órgãos de defesa do consumidor. Ainda mais agora, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) julga a possibilidade de criar jurisprudência sobre os processos que discutem um possível vínculo trabalhista dos condutores com as plataformas.
E sim, o uso da refrigeração nos veículos de aplicativo sempre foi exigência do serviço e fez parte do “pacote” de benefícios que as bigtechs venderam pelo mundo afora e também no Brasil, ainda em 2015, quando a Uber entrava no País sem pedir qualquer licença e prometendo um transporte moderno e confortável.
A Coluna Mobilidade sempre defendeu e defenderá o transporte de passageiros de qualidade, seguro, sustentável e justo socialmente, principalmente sob a ótica do usuário. Uma enquete realizada pelo Sistema Jornal do Commercio de Comunicação (SJCC) a partir de uma reportagem sobre a polêmica do ar-condicionado foi o start para o desabafo de Carlos Alberto, que será reproduzido abaixo, com todo respeito e espaço que um trabalhador brasileiro precisa e merece.
Que esse desabafo chegue ao poder público, aos parlamentares regionais e nacionais e à Justiça brasileira. E, principalmente, que alcance as bigtechs.
"VIRAMOS ESCRAVOS DAS PLATAFORMAS DE TRANSPORTE"
“Roberta bom dia, se possível, antes de lançar uma enquete sobre os motoristas de aplicativos, escute o outro lado por favor. Sou motorista de aplicativo, desempregado, trabalho 14 horas por dia. Os aplicativos vêm tendo lucros absurdos e transformando os motoristas em escravos.
Faça uma matéria com os motoristas porque o que os aplicativos estão deixando para os profissionais do volante mal dá para pagar as contas, a manutenção do veículo e o combustível.
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A Uber está tirando quase 50% do condutor. O vilão da história não é o motorista, mas a Uber, que joga o passageiro contra o profissional. Fazer uma corrida de R$ 6,50 é uma brincadeira, principalmente quando consideramos a manutenção do carro, o custo com combustível e as taxas cobradas pela plataforma, como as do Inmetro, por exemplo.
Sem falar das perseguições da CTTU (Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife). A Uber não é parceira do motorista, é ganha/perde. Inclusive, existe uma coisa mais séria: há uma discriminação da própria empresa em relaçao ao Nordeste e ao Sul e Sudeste do Brasil.
As tarifas do Sul e Sudeste são bem maiores que as nossas. No Nordeste, temos corridas que saem mais baratas que uma passagem de ônibus. Quem hoje vive de aplicativo não consegue pagar as contas.
Motorista de aplicativo não é bandido. Virou um trabalhador escravo das plataformas. Todos os motoristas estão em desespero por não conseguirem dar uma manutenção digna dos veículos e pagar as contas.
É uma luta desumana e absurda, com motoristas de aplicativos sérios que trabalham 14 horas por dia de domingo a domingo”.