ATROPELAMENTO

Transporte municipal de Jaboatão dos Guararapes é conhecido pelo sucateamento. Não é de hoje

Sistema de Transporte Complementar da cidade tem um histórico de problemas e degradação

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Roberta Soares

Publicado em 02/04/2024 às 15:35 | Atualizado em 02/04/2024 às 15:39
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Não é de hoje, nem de ontem, muito menos de anteontem. O sucateamento do transporte municipal de Jaboatão dos Guararapes é histórico e faz parte do dia a dia dos passageiros que dependem das 17 linhas ainda em operação no município.

Criado ainda no início dos anos 1990 para acomodar os kombeiros que dominavam o transporte público da cidade, o Sistema de Transporte Complementar de Jaboatão passou muitos anos sendo operado com kombis tão velhas quanto a frota de 235 micro-ônibus que rodam atualmente no sistema.

Veículos velhos, sujos, com fios segurando a estrutura interna e os bancos quebrados, que circulam com portas abertas e não tem sequer um sistema de bilhetagem eletrônica para o pagamento das passagens é a rotina do sistema. E é assim há muitos e muitos anos.

Por isso, não é exagero quando a população afirma que o atropelamento de fiéis na tarde do Domingo de Páscoa foi uma tragédia anunciada. As condições do micro-ônibus envolvido no sinistro de trânsito (não é mais acidente de trânsito que se define) são um reflexo da situação da frota.

“Sofremos muito com a decadência desse sistema e não é de hoje. Os veículos circulam em péssimas condições, não tem um sistema de pagamento, os motoristas são grosseiros e não respeitam a gratuidade. E, o que é pior: não vemos fiscalização por parte da Prefeitura de Jaboatão”, criticou a moradora de Marcos Freire, bairro onde aconteceu o atropelamento, Maria Aparecida da Silva.

15 VEÍCULOS FORAM RETIRADOS DA OPERAÇÃO DE TRANSPORTE POR PROBLEMAS SOMENTE EM 2024

 

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Em 2023 teriam sido retirados da operação outros 27 veículos. O Sistema de Transporte Municipal de Jaboatão tem 283 permissionários, dos quais 235 estão atuando - REPRODUÇÃO

Apesar das denúncias de que o micro-ônibus estava sem freio no momento em que o condutor perdeu o controle e atropelou os fiéis, a Prefeitura de Jaboatão dos Guararapes garante que a gestão municipal é atuante na fiscalização sobre a segurança dos veículos que integram o sistema de transporte municipal.

O secretário de Ordem Pública e Mobilidade de Jaboatão, o coronel Carlos Sá, que está à frente do cargo há menos de um ano, afirmou que somente este ano, dos 85 veículos vistoriados, 15 foram retirados da operação por deixarem de atender a variadas exigências feitas pela gestão, tanto em relação à segurança mecânica quanto à regularização de documentos.

Em 2023 teriam sido retirados da operação outros 27 micro-ônibus, dos 135 vistoriados.

MICRO-ÔNIBUS ENVOLVIDO NO ATROPELAMENTO TEM DEZ ANOS DE USO E ESTAVA COM PROBLEMAS MECÂNICOS

O micro-ônibus que ficou desgovernado e, sob condução do motorista, atropelou fiéis em uma procissão em Jaboatão dos Guararapes é um veículo velho, com dez anos de uso, e que estava com problemas mecânicos sérios.

A idade veícular do micro-ônibus foi confirmada pela própria Prefeitura de Jaboatão dos Guararapes, que garantiu, ao mesmo tempo, que, apesar dos anos de operação transportando pessoas, o veículo estava em dia com as regras exigidas pelo município. Tinha o laudo da inspeção técnica veicular do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), realizada há cinco meses e com validade anual. 

Confira o áudio sobre os problemas no veículo:

Mas denúncias feitas por passageiros que utilizam a linha 118 - Marcos Freire/Barra de Jangada revelam que o micro-ônibus estava com problemas mecânicos graves, como a falta de freios, e que seguia para a garagem quando aconteceu o sinistro de trânsito.

MICRO-ÔNIBUS SEGUIA PARA A GARAGEM DEVIDO AOS PROBLEMAS

Segundo a denúncia, cujo áudio foi divulgado por familiares das vítimas durante protesto por mais fiscalização do Sistema de Transporte Municipal de Jaboatão dos Guararapes, realizado na manhã desta segunda-feira (01/4), o micro-ônibus já tinha sido colocado para rodar “no tranco”, como se diz popularmente o ato de empurrar o veículo para ligar, e estava apenas com o freio dianteiro. Seguiria para a garagem para passar por reparos.

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Veículo envolvido no atropelamento tinha dez anos de uso e problemas mecânicos sérios, segundo denúncias - REPRODUÇÃO

“O carro estava travado e foram destravá-lo no terminal para que conseguisse chegar na garagem. Ele estava só com o freio dianteiro, que foi enchido de ar para que conseguisse chegar na garagem. Botaram para rodar no tranco e mandaram ir para a garagem. Ele (o motorista) saiu atrás da procissão e ficou em cima da ladeira esperando. Mas quando ele desceu, o freio não funcionou. O carro baixou o balão de vez e ficou sem freio”, diz o áudio.

VEÍCULO NÃO CONSEGUE SER LIGADO E ATRASA PERÍCIA

A situação mecânica do micro-ônibus envolvido no atropelamento é tão grave que dois dias depois do sinistro a perícia técnica não conseguiu ligar o veículo, atrasando a realização completa da perícia.

Por nota, a Secretaria de Defesa Social (SDS) informou que o resultado dos exames periciais, realizados pela equipe do Instituto de Criminalística (IC), tem prazo de até 30 dias para conclusão, podendo ser prorrogado, se necessário. E que o resultado será encaminhado à Polícia Civil, que investiga o caso.

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