Moradores, vizinhos e parentes das 34 vítimas do atropelamento coletivo de fiéis pelo condutor de um micro-ônibus do Sistema de Transporte Complementar de Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana do Recife, protestaram por justiça nesta quarta-feira (1º/5). O grupo cobrou mais ajuda da Prefeitura de Jaboatão e agilidade nas investigações pela Polícia Civil de Pernambuco.
O atropelamento coletivo completou um mês sem que houvesse qualquer tipo de responsabilização pelo ocorrido. Ao todo, 34 pessoas foram atingidas, das quais cinco morreram (quatro delas ainda no local): três mulheres, de 66, 53 e 51 anos, e dois homens, de 68 e 52 anos.
As vítimas participavam de uma procissão no bairro de Marcos Freire, quando foram surpreendidas pelo veículo que desceu desgovernado a ladeira onde os fiéis caminhavam. O micro-ônibus tinha mais de dez anos de uso e diversos problemas mecânicos. No dia, teria ficado sem freio.
“Queremos celeridade nas investigações e um maior apoio financeiro e emocional da prefeitura às famílias das vítimas do atropelamento. O que temos visto é o tempo passar e nada ser apurado. A investigação está parada”, pediu a moradora Fabiane Silva.
A investigação está sendo realizada pela Polícia Civil de Pernambuco, através da Delegacia de Polícia de Trânsito. E a Prefeitura de Jaboatão realizou mutirões para ajudar as vítimas a dar entrada nos pedidos de indenização previstos para as vítimas do trânsito (antigo DPVAT).
MICRO-ÔNIBUS TEM DEZ ANOS DE USO E ESTAVA COM PROBLEMAS MECÂNICOS
O micro-ônibus é um veículo velho, com dez anos de uso, e que estava com problemas mecânicos sérios. A idade veícular do micro-ônibus foi confirmada pela própria Prefeitura de Jaboatão dos Guararapes, que garantiu, ao mesmo tempo, que, apesar dos anos de operação transportando pessoas, o veículo estava em dia com as regras exigidas pelo município. Tinha o laudo da inspeção técnica veicular do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), realizada há cinco meses e com validade anual.
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Mas denúncias feitas por passageiros que utilizam a linha 118 - Marcos Freire/Barra de Jangada revelam que o micro-ônibus estava com problemas mecânicos graves, como a falta de freios, e que seguia para a garagem quando aconteceu o sinistro de trânsito (não é mais acidente de trânsito que se define).
MICRO-ÔNIBUS SEGUIA PARA A GARAGEM DEVIDO AOS PROBLEMAS
Segundo a denúncia, cujo áudio foi divulgado por familiares das vítimas durante protesto por mais fiscalização do Sistema de Transporte Municipal de Jaboatão dos Guararapes, realizado na manhã desta segunda-feira (01/4), o micro-ônibus já tinha sido colocado para rodar “no tranco”, como se diz popularmente o ato de empurrar o veículo para ligar, e estava apenas com o freio dianteiro. Seguiria para a garagem para passar por reparos.
“O carro estava travado e foram destravá-lo no terminal para que conseguisse chegar na garagem. Ele estava só com o freio dianteiro, que foi enchido de ar para que conseguisse chegar na garagem. Botaram para rodar no tranco e mandaram ir para a garagem. Ele (o motorista) saiu atrás da procissão e ficou em cima da ladeira esperando. Mas quando ele desceu, o freio não funcionou. O carro baixou o balão de vez e ficou sem freio”, diz o áudio.
O veículo foi guinchado para a Delegacia de Prazeres, para perícia do Instituto de Criminalística (I.C.).
15 VEÍCULOS FORAM RETIRADOS DA OPERAÇÃO DE TRANSPORTE POR PROBLEMAS SOMENTE EM 2024
Apesar das denúncias de que o micro-ônibus estava sem freio no momento em que o condutor perdeu o controle e atropelou os fiéis, a Prefeitura de Jaboatão dos Guararapes garante que a gestão municipal é atuante na fiscalização sobre a segurança dos veículos que integram o sistema de transporte municipal.
O secretário de Ordem Pública e Mobilidade de Jaboatão, o coronel Carlos Sá, que está à frente do cargo há menos de um ano, afirmou que somente este ano 15 veículos foram retirados da operação por deixarem de atender a variadas exigências feitas pela gestão, tanto em relação à segurança mecânica quanto à regularização de documentos.
Em 2023 teriam sido retirados da operação outros 27 veículos. O Sistema de Transporte Municipal de Jaboatão tem 283 permissionários, dos quais 235 estão atuando e operam 17 linhas. E essas permissões, de acordo com o município, tem validade até 2030. “O que podemos dizer é que as condições do veículo eram favoráveis e atendiam à inspeção realizada pelo Inmetro e pela fiscalização municipal. Agora, essa informação de que o veículo estava sem freio será verificada pela perícia. Só o IC poderá dizer”, argumentou o secretário.
O coronel Carlos Sá também confirmou que o micro-ônibus estava sem passageiros no momento do atropelamento, mas não quis ratificar a informação repassada pelo prefeito Mano Medeiros de que o veículo estava fora da operação de transporte.
“Não podemos dizer isso porque, pelo menos oficialmente, a saída do micro-ônibus da operação não foi informada à prefeitura. O prefeito se referia ao fato de que o veículo estava sem passageiros”, argumentou. O fato de o micro-ônibus estar sem passageiros e fora da operação confirma as denúncias feitas pela população de que o veículo saia do terminal para a garagem exatamente porque estava sem freios.