INFRAESTRUTURA

Cais José Estelita: doação de terreno à Prefeitura do Recife poderá inviabilizar projeto de VLT no Centro, alerta CBTU Recife

CBTU Recife diz ter sido surpreendida com doação e apela para que a PCR, o Novo Recife e a sociedade em geral não abram mão do projeto do VLT na área central e portuária da capital

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Roberta Soares

Publicado em 06/06/2024 às 12:09 | Atualizado em 06/06/2024 às 12:51
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O anúncio da Prefeitura do Recife de que tinha recebido como doação 50 mil metros quadrados do antigo pátio ferroviário inativado à área pública do Cais José Estelita - corredor que está em transformação urbana na área central da capital -, acendeu um alerta na Companhia Brasileira de Trens Urbanos no Recife (CBTU). O receio dos metroviários é de que a doação da área possa inviabilizar a implantação de um sistema de transporte urbano sobre trilhos com VLTs (Veículos Leves sobre Trilhos), semelhante ao VLT Carioca, que conecta o Centro do Rio de Janeiro ao Porto Maravilha e ao Aeroporto Santos Dumont na capital fluminense.

Um projeto básico do ramal de VLT, que teria 5,6 quilômetros e permitiria uma conexão multimodal com o Metrô do Recife e o sistema de ônibus através do Terminal Integrado Largo da Paz, em Afogados, na Zona Oeste da capital, começou a ser elaborado em 2019 e ficou pronto em 2022. O VLT ligará o Terminal Marítimo à Estação Largo da Paz.

Por isso, a Superintendência da CBTU no Recife argumenta ter levado um susto ao ver a notícia da doação do terreno na mídia, apesar de estar negociando, com o governo federal, o repasse do chamado Pátio Ferroviário das Cinco Pontas (como é chamado a área onde estão a oficina e a área de manobra dos trens da antiga RFFSA) desde 2015. E de ter, inclusive, há um mês, provocado a Prefeitura do Recife a conhecer a proposta do Sistema de VLT.

CBTU NÃO QUER EXCLUSIVIDADE, APENAS COMPARTILHAMENTO DA ÁREA

REPRODUÇÃO
Projeto de VLT para o Centro do Recife ligando a Estação Largo da Paz ao Terminal Marítimo do Porto do Recife - REPRODUÇÃO
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Projeto de VLT para o Centro do Recife ligando a Estação Largo da Paz ao Terminal Marítimo do Porto do Recife - REPRODUÇÃO
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Projeto de VLT para o Centro do Recife ligando a Estação Largo da Paz ao Terminal Marítimo do Porto do Recife - REPRODUÇÃO

A CBTU argumenta que a área do pátio ferroviário precisa estar sob gestão do órgão federal para que os requisitos necessários para implantação e, principalmente, operação do VLT sejam respeitados. Segundo a companhia, a transformação do pátio no Museu Ferroviário é importante, mas para viabilizar a operação do VLT é preciso preservar uma área para oficina e manobra dos veículos.

“Fomos surpreendidos com a notícia, essa é a verdade. E, por não termos sido sequer consultados sobre as futuras intervenções no Cais José Estelita, queremos que a sociedade saiba que esse projeto existe e que ele é muito importante sob o aspecto da mobilidade urbana, mas também para o turismo e a preservação histórica da área central e portuária do Recife. Não queremos exclusividade da área, é importante destacar isso, e nem somos contra a doação e o projeto desenvolvido pela prefeitura e o Novo Recife, mas precisamos do compartilhamento do terreno para viabilizar o VLT”, explica a superintendente da CBTU no Recife, Marcela Campos.

A superintendente diz que o projeto do VLT é fundamental para a valorização da área central e se incorpora aos projetos em implantação no Cais de Santa Rita: o Novotel Recife Marina (o hotel-marina) e o Recife Expocenter (primeiro centro de convenções do Recife). “A cidade não pode perder essa oportunidade de ter um sistema de VLT na área, no mesmo modelo do VLT Carioca. É possível conciliar e integrar os empreendimentos do Cais José Estelita, sem dúvida, mas é preciso ter a garantia de que os espaços serão compartilhados”, alerta.

VLT CARIOCA/DIVULGAÇÃO
VLT Carioca, operado pelo Grupo CCR, é um dos atrativos do Centro do Rio de Janeiro. Conta com 29 estações, responsáveis por transportar mais de 73 milhões de passageiros e realizar mais de 760 mil viagens em mais de cinco anos de operação - VLT CARIOCA/DIVULGAÇÃO

“Fazer um parque mantendo a memória ferroviária brasileira com um museu é importante, mas o maior interesse público atualmente é a mobilidade urbana e o projeto do VLT vem para integrar a cidade e valorizar a região”, reforça. A desconfiança da CBTU já existia porque a PCR não tem respondido aos oficiais enviados à gestão e algumas invasões da faixa de domínio da malha ferroviária pelos empreendimentos em construção já foram denunciados pela Companhia ao município, também sem retorno.

CONHEÇA O PROJETO DO VLT NO CENTRO DO RECIFE

O VLT que a CBTU defende para o Centro do Recife seria semelhante à proposta do VLT Carioca, rede de veículos leves sobre trilhos que percorre o Centro e o Porto da cidade do Rio de Janeiro, conectando todas as demais redes de transporte metropolitano (metrô, trens, BRT, ônibus, barcas e teleférico, além de aeroporto, rodoviária e terminal de cruzeiros).

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Projeto de VLT para o Centro do Recife ligando a Estação Largo da Paz ao Terminal Marítimo do Porto do Recife - REPRODUÇÃO
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Projeto de VLT para o Centro do Recife ligando a Estação Largo da Paz ao Terminal Marítimo do Porto do Recife - REPRODUÇÃO
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Projeto de VLT para o Centro do Recife ligando a Estação Largo da Paz ao Terminal Marítimo do Porto do Recife - REPRODUÇÃO
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Projeto de VLT para o Centro do Recife ligando a Estação Largo da Paz ao Terminal Marítimo do Porto do Recife - REPRODUÇÃO

O ramal está previsto entre a Estação Largo da Paz, em Afogados, e o Terminal Marítimo do Porto do Recife, permitindo a integração com o sistema de transporte urbano em operação e utilizando a malha ferroviária existente, sem desapropriação. O projeto permite a operação urbana compartilhada e atenderá polos geradores de demandas, atuais e futuros.

O custo de implantação do ramal está estimado, atualmente, em R$ 200 milhões. Terá extensão de 5,6 quilômetros, dez estações a cada 400 metros, com operação de segunda-feira a domingo, das 5h às 23h, com três VLTs que vão circular no trecho a uma velocidade de 20 km/h e tempo de viagem entre os dois terminais de 25 minutos.

A implantação do VLT será realizada em três fases:

Fase 1: Estação Largo da PAz/Estação Cinco Pontas
Fase 2: Estação Cinco Pontas/Parada Ponte Giratória
Fase 3: Parada Ponte Giratória/Parada Terminal Marítimo

ENTENDA A DOAÇÃO DO TERRENO NO CAIS JOSÉ ESTELITA

Gabriel Ferreira/Jc Imagem
NOVO SISTEMA VIÁRIO DO CAIS JOSÉ ESTELITA. - Gabriel Ferreira/Jc Imagem
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NOVO SISTEMA VIÁRIO DO CAIS JOSÉ ESTELITA. - Gabriel Ferreira/Jc Imagem
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Projeto Novo Recife prevê a construção de 14 edifícios residenciais e comerciais Está prevista a implantação de um parque linear valorizando a borda d'água e outro parque na área da antiga ferrovia - Gabriel Ferreira/Jc Imagem
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NOVO SISTEMA VIÁRIO DO CAIS JOSÉ ESTELITA. - Gabriel Ferreira/Jc Imagem
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NOVO SISTEMA VIÁRIO DO CAIS JOSÉ ESTELITA. - Gabriel Ferreira/Jc Imagem
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O novo viário já tem uma ciclovia, unidirecional - Gabriel Ferreira/Jc Imagem
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Novo sistema viário do Cais José Estelita deve ser liberado ainda este ano - Gabriel Ferreira/Jc Imagem

A Prefeitura do Recife conquistou mais 50 mil metros quadrados (cinco hectares) de área pública no terreno do Cais José Estelita, fazendo com que a área inicial prevista para o público dobre de tamanho e chegue a 100 mil metros quadrados. O anúncio foi feito pelo prefeito João Campos (PSB) na terça-feira (4/6), como um importante avanço na requalificação da área do Cais José Estelita.

Segundo a PCR, a incorporação dos 50 mil m² do antigo pátio ferroviário inativado ao projeto do parque linear que está previsto para ficar localizado na Bacia do Pina aconteceu após uma longa negociação envolvendo diversos órgãos do governo federal.

Com isso, a área pública vai dobrar de tamanho e a primeira etapa das obras do parque linear devem ser iniciadas em aproximadamente 60 dias. Também segundo a PCR, a área vai incluir a preservação da memória ferroviária em um investimento de R$ 20 milhões, com o espaço ficando disponível para todas as pessoas da cidade. A doação foi feita pela Advocacia Geral da União (AGU), mas diversos órgãos federais participaram do processo: ANTT, TNL, DNIT, IPHAN, SPU e MPF.

O projeto integra o sistema viário de planejamento para a Avenida Sul, a Rua Imperial e o complexo adjacente. O custo de toda a ampliação será arcado pelo empreendedor privado - Novo Recife -, totalizando mais de R$ 120 milhões em ações mitigadoras. Caberá à gestão da Prefeitura do Recife definir como os parques públicos serão integrados, entre tantas outras decisões sobre as contrapartidas do Novo Recife. Considerando todas as ações mitigadoras, 65% da área contemplada será projeto de área pública e 35% será composta por empreendimentos imobiliários.

A reportagem aguarda um posicionamento da PCR. O Novo Recife optou por não se pronunciar sobre o assunto por entender que é um tema relacionado à gestão municipal e ao Metrô do Recife.

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