Fim da Vera Cruz: em um mês, linhas de ônibus que eram operadas pela Vera Cruz têm o dobro de passageiros

O aumento geral foi maior do que 50%, mas algumas linhas chegaram a registrar um crescimento superior a 600% de passageiros transportados

Publicado em 07/10/2024 às 13:50 | Atualizado em 07/10/2024 às 15:49

As linhas de ônibus que eram operadas pela Vera Cruz e foram distribuídas, provisoriamente, com outras três empresas do sistema de transporte público da Região Metropolitana do Recife, tiveram um aumento surpreendente da demanda de passageiros. A quantidade de pessoas que passaram a usar as linhas mais que duplicou, quando observado o aumento médio de todas as 46 linhas.

Em percentuais, o crescimento geral foi de 54,4%. Foram quase 40 mil passageiros a mais nos coletivos por dia. Os dados são do Grande Recife Consórcio de Transporte Metropolitano (CTM), gestor do Sistema de Transporte Público de Passageiros da RMR (STPP/RMR), e referentes a setembro de 2024, primeiro mês sem a Vera Cruz, com a operação das novas empresas completa e após a fase de transição.

Segundo o CTM, em abril - quando a Vera Cruz ainda estava no sistema - as 46 linhas transportavam 68 mil passageiros por dia útil. Em setembro, esse número pulou para 105 mil passageiros/dia útil - 37 mil pessoas a mais e um aumento geral de 54,4%. As linhas foram distribuídas, segundo regulamento do STPP/RMR, entre as empresas Borborema, Metropolitana e São Judas Tadeu, que já prestam o serviço em áreas próximas à antiga operação da Vera Cruz.

Na verdade, a transição das linhas da Vera Cruz para as outras empresas começou no dia 1º de maio, com a assinatura do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público de Pernambuco (MPPE). Depois, seguiu com a desmobilização da Vera Cruz e a transferência das linhas para as outras três empresas, em três etapas até o fim do mês de agosto.

GESTÃO DA OPERAÇÃO PASSOU CONFIANÇA AO PASSAGEIRO, QUE VOLTOU

LÉO CALDAS/DIVULGAÇÃO
Segundo o CTM, em abril - quando a Vera Cruz ainda estava no sistema - as 46 linhas transportavam 68 mil passageiros por dia útil. Em setembro, esse número pulou para 105 mil passageiros/dia útil - 37 mil pessoas a mais e um aumento geral de 54,4% - LÉO CALDAS/DIVULGAÇÃO

Para Matheus Freitas, presidente do CTM, o aumento da demanda de passageiros não foi resultado apenas da troca da frota de ônibus, já que a Vera Cruz há alguns anos vinha tendo constantes quebras de veículos e descumprimento de viagens - situação, inclusive, que rendeu um somatório de multas no valor de R$ 10 milhões. A mudança é efeito da melhoria na gestão da operação.

“Infelizmente, uma empresa do porte e da envergadura da Vera Cruz (tinha uma frota de 171 ônibus) teve que deixar o sistema, devido à incapacidade de operação, como a própria empresa oficializou ao CTM. Mas esse crescimento de demanda, na transição operacional que nós tivemos que fazer seguindo o regulamento, mostra que todas as empresas têm condições de oferecer um bom transporte”, afirmou.

Segundo o gestor, o CTM continuará gerenciando o sistema para que o usuário seja sempre o beneficiado. “Sabemos que o que aconteceu com a Vera Cruz poderia ter acontecido com qualquer um, mas seguiremos na gestão e usando o regulamento para fazer uma operação de transporte cada vez melhor para o passageiro, porque ele é o principal interessado”, reforçou.

AS LINHAS QUE MAIS TIVERAM AUMENTO DA DEMANDA

Algumas linhas que pertenciam à Vera Cruz tiveram um aumento ainda maior do que a média geral. Foi o caso, por exemplo, da linha 155 - Jordão Baixo/Boa Viagem, que teve um aumento de 652%, que teve um aumento superior a 4 mil passageiros por dia. Passou de 647 pessoas transportadas para 4.865. A operação passou para a empresa Borborema.

Outro bom exemplo foram as linhas para Porto de Galinhas, que passaram a ser operadas pela empresa São Judas Tadeu. A 191- Recife/Porto de Galinhas (Nossa Senhora do Ó), teve um aumento de 204 passageiros/dia (29%), passando de 694 para 898 passageiros. A linha opcional Recife-Porto de Galinhas passou de 489 pessoas transportadas por dia para 689.

“Das 46 linhas que eram da Vera Cruz e foram repassadas para as empresas, oito tiveram pouca redução ou crescimento inexpressivo. Enquanto 38 tiveram aumentos. E, mesmo assim, a queda foi muito pequena, quase pífia. Mas é claro que um mês ainda é pouco e, por isso, acreditamos que, com a confiabilidade da operação, essa demanda de passageiros aumente mais e mais”, avaliou Matheus Freitas.

LÉO CALDAS/DIVULGAÇÃO
Em maio, foi iniciado o processo de transferência de operação para a Borborema, Metropolitana e São Judas Tadeu - LÉO CALDAS/DIVULGAÇÃO

O CTM informou, ainda, que, por hora, as linhas permanecem com as três empresas até uma segunda avaliação da gestão. A ideia é acompanhar e otimizar a operação até o fim do ano.

A visão dos operadores é a mesma dos gestores: quando se presta um serviço de transporte confiável e previsível, o passageiro usa. “A demanda de passageiros está diretamente ligada à regularidade e previsibilidade do serviço prestado, da operação de transporte. Quando ele começou a ser prestado da forma prevista, o passageiro apareceu. É possível, sim, recuperar a demanda de passageiros investindo na qualidade do serviço, na regularidade”, avaliou Marcelo Bandeira de Melo, diretor executivo da empresa São Judas Tadeu.

VERA CRUZ PEDIU PARA DEIXAR O SISTEMA DE TRANSPORTE DO GRANDE RECIFE

A empresa de ônibus Vera Cruz entregou, oficialmente, todas as linhas que operava na RMR ao governo de Pernambuco no dia 22/7. A empresa enviou à Coluna Mobilidade uma carta protocolada no CTM no dia 23/7 que comprova a efetivação da devolução das linhas.

No documento, que tem como referência a desistência da operação de todas as linhas de transporte sob permissão da Vera Cruz, a operadora voltou a usar os mesmos argumentos que apresentou em abril, quando pediu para transferir e permutar parte da operação.

A empresa alegou, na época, que a operação vinha sendo deficitária sob o ponto de vista econômico-financeiro há anos, o que teria provocado "severos prejuízos" que comprometiam a manutenção dos serviços regulares de transportes.

E seguiu afirmando que a decisão não tinha volta. "Entendemos não ter mais sentido operar todas as nossas linhas de transporte por ser economicamente inviável. Assim, manifestamos formalmente a nossa desistência definitiva e encerramento das atividades operacionais, em caráter irrevogável, de forma amigável, a partir do dia 23 de julho".

 

Tags

Autor